Aparentemente, os cogumelos têm "conversas" elétricas depois de chover

Num novo estudo, cientistas japoneses encontraram indícios intrigantes de que a chuva pode levar alguns fungos a comunicar entre si através de sinais elétricos subterrâneos. Saiba mais aqui!

cogumelos; chuva
O cogumelo escolhido como base desta investigação foi o Laccaria bicolor.

Os investigadores concentraram-se nos pequenos cogumelos castanhos conhecidos como enganadores bicolores (Laccaria bicolor), que encontraram a crescer no chão de uma floresta secundária mista no Centro de Ciência de Campo de Kawatabi, da Universidade de Tohoku, no Japão.

L. bicolor é um fungo ectomicorrízico que forma relações simbióticas com certas plantas, incluindo muitas árvores de grande porte como carvalhos e pinheiros, aumentando o seu fornecimento de água e nutrientes em troca de hidratos de carbono.

Laccaria bicolor

Investigações anteriores sugerem mesmo que o L. bicolor pode ajudar algumas árvores a alimentarem-se indiretamente de animais, atraindo insetos parentes chamados colêmbolos e possivelmente matando-os com uma toxina, partilhando o azoto dos animais com as suas árvores hospedeiras. Enquanto alguns fungos micorrízicos penetram nas paredes celulares das plantas hospedeiras, os fungos ectomicorrízicos, como a L. bicolor, constroem "baínhas" subterrâneas à volta do exterior das raízes das árvores.

Estas baínhas são feitas de hifas, os filamentos semelhantes a raízes que alimentam o crescimento de um fungo. Quando as hifas dos fungos micorrízicos se conectam no subsolo, formam sistemas interligados conhecidos como redes micorrízicas. Estas redes subterrâneas têm sido comparadas a uma espécie de "teia de madeira", onde florestas inteiras comunicam por sinais químicos através das raízes das árvores e dos fungos micorrízicos.

Embora as redes micorrízicas sejam reais, há muito poucas provas para saber se atingem a escala e a complexidade frequentemente atribuídas às teias de toda a floresta. Segundo alguns cientistas, muitos relatos populares sobre este fenómeno são exagerados.

No entanto, este estudo, que foi publicado na revista Fungal Ecology, vem juntar-se a um conjunto crescente de investigações que se debruçam sobre os pormenores destas relações, revelando detalhes fascinantes sobre o seu funcionamento.

Os estudos até então

Estudos anteriores mostraram que os fungos produzem variações nos potenciais elétricos, aparentemente em resposta a mudanças no seu ambiente, com pistas que sugerem que estes sinais servem como uma forma de comunicação.

Um estudo de 2022, encontrou padrões de atividade elétrica semelhantes aos dos nervos em alguns fungos que parecem ser comparáveis à estrutura da fala humana. O estudo identificou até 50 "palavras" diferentes, ou grupos de picos de atividade elétrica, gerados por redes de fungos.

Investigações anteriores também descobriram que as plantas podem enviar sinais elétricos secretos para o subsolo, possivelmente mesmo sem a ajuda de fungos micorrízicos.

A resposta dos fungos à chuva

Apesar de já terem sido observados picos de potencial elétrico em fungos, por vezes em resposta à água ou a outros estímulos, a maioria dos estudos centrou-se em tipos limitados de fungo, cultivados em meios artificiais, ou recolhidos no campo em condições laboratoriais, observam os autores do novo estudo.

No novo estudo, os investigadores ligaram elétrodos a um grupo de seis cogumelos L. bicolor que encontraram a crescer na berma de um trilho florestal.

Os cogumelos estavam localizados perto de um carvalho (Quercus serrata) e de uma carpa (Carpinus laxiflora), ambas espécies de árvores potencialmente simbióticas para L. bicolor. Os investigadores monitorizaram o potencial elétrico dos cogumelos, medido em milivolts (mV), durante cerca de dois dias no final de setembro e início de outubro de 2021. O local de estudo estava inicialmente soalheiro e seco, tendo recebido pouca chuva nos doze dias anteriores, relatam.

No entanto, isso mudou no dia 1 de outubro, quando o tufão Mindulle trouxe 32 milímetros de chuva. Entre uma a duas horas após a chuva, os cogumelos começaram a mostrar novos sinais de atividade.

"No início, os cogumelos apresentavam um menor potencial elétrico, o que se deveu à falta de precipitação, contudo, o potencial elétrico começou a flutuar depois da chuva, ultrapassando por vezes os 100 mV" - Yu Fukasawa, ecologista microbiano da Universidade de Tohoku.

Esta flutuação está correlacionada com as alterações na precipitação e na temperatura, de acordo com Fukusawa e os seus colegas, cuja análise sugere que o sinal elétrico após a chuva mostrou evidências de transporte de sinal entre os cogumelos.

Este transporte de sinal foi especialmente forte entre cogumelos localizados mais perto uns dos outros no chão da floresta, relatam os investigadores. Embora o novo estudo esteja longe de ser definitivo, acrescenta mais uma peça intrigante ao puzzle do papel que os fungos desempenham nos ecossistemas.