Alterações climáticas revelam artefactos surpreendentes da Era Viking

As mudanças climáticas continuam a revelar artefactos arqueológicos surpreendentemente intactos da Era dos Vikings. Contamos-lhe mais aqui sobre o que aconteceu num desfiladeiro esquecido pelo tempo nas montanhas da Noruega.

Ferradura cavalo
Ferradura de cavalo para a neve. Espen Finstad, secretsoftheice.com

As montanhas a noroeste de Oslo são das mais elevadas da Europa, e estão cobertas de neve durante todo o ano. Os noruegueses chamam-lhes Jotunheimen, (casa de Jötnar) - os gigantes da mitologia nórdica. O clima mais quente dos últimos anos provocou o derretimento de grande parte da neve e do gelo, acabando por revelar uma passagem de montanha que meros mortais atravessaram durante mais de mil anos – e que caiu no esquecimento há cerca de cinco séculos atrás.

Os arqueólogos descobriram centenas de artefactos que sugerem que as pessoas recorriam a esta rota como forma de atravessar o cume da montanha no fim da Idade do Ferro Romana e durante parte do período medieval. Entretanto, caiu em desuso, possivelmente devido ao agravamento das condições meteorológicas e das alterações económicas.

Os investigadores afirmam que o desfiladeiro, que cruza o glaciar de Lendbreen perto da aldeia alpina de Lom, foi em tempos uma rota usada no inverno pelos agricultores, caçadores, viajantes e comerciantes.

Mapa Lendbreen Noruega
Cartografia da área do desfiladeiro de Lendbreen, Noruega. Fonte: Lars Pilø, secretsoftheice.com

Anos e anos de desgaste do gelo e da neve no desfiladeiro desta região, acabaram por pôr a nu mais de 800 artefactos (sapatos, pedaços de corda, partes de um antigo esqui de madeira, flechas, uma faca, ferraduras, ossos de cavalo e uma bengala partida com a inscrição rúnica "Propriedade de Joar").

"Os viajantes perderam ou descartaram uma grande variedade de objetos, por isso nunca se sabe o que se vai encontrar", diz o arqueólogo Lars Pilø, co-diretor do Programa Secrets of Ice.

Pequena Idade do Gelo e Peste Negra

Muitos destes objetos arqueológicos aparentam ter sido perdidos muito recentemente. O segredo para tal, diz Pilø, é que: "O gelo glaciário funciona como uma máquina do tempo, preservando os objetos ao longo de séculos ou milénios". Cerca de 60 artefactos foram datados por radiocarbono, mostrando que a passagem de Lendbreen foi amplamente utilizada desde, pelo menos, 300 d.C.

“A Pequena Idade do Gelo (clima) e a Peste Negra (pandemia) devem ter sido as razões pelas quais o desfiladeiro de Lendbreen caiu em desuso”

Segundo os investigadores, o trânsito de peões e cavalos de carga através deste desfiladeiro tiveram o seu auge por volta do ano 1000 d.C., na Era dos Vikings, quando a mobilidade e o comércio estavam em alta na Europa. Produtos de montanha, como as peles de rena, eram populares entre os consumidores distantes, enquanto os produtos lácteos, como manteiga ou forragens de inverno para o gado, poderiam ter sido comercializados para uso local.

Razões climáticas e económicas, da antiguidade à atualidade

Mas esta passagem de montanha começou a ser menos frequentada nos séculos seguintes, provavelmente devido a alterações económicas e climáticas, como a Pequena Idade do Gelo -famoso período de arrefecimento que terá agravado o clima- e a eclosão da Peste Negra, praga que matou dezenas de milhões de pessoas em meados do mesmo século.

"As pandemias infligiram baixas consideráveis à população local. E mais tarde, quando a área recuperou, as coisas já tinham mudado", disse Pilø. Assim, o desfiladeiro de Lendbreen perdeu a sua utilidade e foi esquecido no tempo.

Os cientistas sugerem que a principal causa desta descoberta foi o acelerado derretimento glaciar desta região. Se continuar assim, muitos investigadores afirmam que o derretimento dos glaciares de montanha influenciados pelas alterações climáticas vão continuar a revelar surpresas e mais objetos históricos.