Alterações climáticas constituem uma grande ameaça ao património do Reino Unido, alerta National Trust

O National Trust alerta para a urgência de medidas robustas e investimentos diante das ameaças das alterações climáticas, evidenciando a vulnerabilidade de 28 500 casas históricas e extensas áreas costeiras.

Quase três quartos dos locais administrados pelo National Trust, no Reino Unido, têm o seu património em risco graças às alterações climáticas.

As inundações, incêndios florestais e condições climáticas extremas constituem uma "sombra" sobre o futuro de quase três quartos dos locais administrados pelo National Trust, no Reino Unido, conforme revela um novo relatório desta equipa. A instituição alerta que as alterações climáticas representam "a maior ameaça" de 28 500 casas históricas, 250 000 hectares de solo e 780 quilómetros de área costeira.

Avaliação do National Trust: 71% das áreas em risco climático até 2060

No relatório divulgado nesta segunda-feira, o National Trust solicitou ao governo do Reino Unido medidas mais robustas para auxiliar as organizações na adaptação às alterações climáticas.

O diretor da instituição, Patrick Begg, reitera a necessidade de uma "atenção urgente e inabalável" para lidar com as ameaças representadas pelas alterações climáticas nos locais sob sua influência.

A equipa está, neste momento, a avaliar as ameaças às alterações climáticas nas suas propriedades, ao mapear os eventos climáticos extremos como precipitações, inundações, secas e incêndios florestais. Através da implementação do mapeamento do risco, a instituição prevê os impactes subjacentes a um "cenário" pior em que a emissão de gases com efeito estufa (GEE) continua no ritmo atual.

Em 2021, o National Trust estimou que 5% dos seus locais enfrentariam um elevado risco de erosão costeira, calor extremo e inundações nos próximos 40 anos. No entanto, o relatório mais recente, intitulado "A Climate for Change", revela que 71% destas áreas podem estar sujeitos a um risco médio ou alto até 2060.

Do mesmo modo, a equipa está a intensificar os seus esforços de adaptação, ao destinar milhões na reparação e proteção de alguns territórios, mas também no delineamento das difíceis sobre onde alocar recursos. O porto de Mullion Cove, na Cornualha, é um exemplo, onde as tempestades frequentes danificaram as quebra-correntes, resultando em gastos significativos na recuperação destas áreas de gestão estrutural. Catherine Lee, gestora comunitária do National Trust, destacou a dificuldade de decidir sobre a viabilidade de reparação perante o aumento do nível do mar.

Jonny Pascoe, pescador e presidente da Mullion Cove Harbour Society, enfatiza também a necessidade de decisões rápidas perante um cenário de alterações climáticas. "Não podemos procrastinar. A situação das alterações climáticas não nos permitirá. O mar certamente não nos permitirá".

National Trust propõe nova lei perante os desafios climáticos

A proteção de edifícios históricos perante condições climático-meteorológicas extremas também está a gerar custos substanciais. A Tudor Coughton Court, em Warwickshire, está a sofrer uma renovação de aproximadamente 3,4 milhões para lidar com fenómenos de precipitação intensa. Os funcionários já tiveram que resgatar as coleções de arte e os objetos históricos devido a vazões.

O impacte das mudanças climáticas é evidente em locais como o forte Dinas Dinle, no País de Gales, onde a erosão causada por chuvas intensas está a destruir partes do sítio histórico. A modelação digital 3D está a ser utilizada para preservar o registo do local antes que desapareça, uma colaboração entre o National Trust, a Royal Commission on the Ancient and Historical Monuments of Wales e a Aberystwyth University.

Diante destes desafios, o National Trust está a obrigar o governo do Reino Unido a disponibilizar mais financiamento e apoio para ajudar na adaptação de edifícios, áreas costeiras e campos. A instituição também apela para a criação de uma nova Lei de Resiliência Climática, que estabeleça metas nacionais de adaptação e torne um fator-chave nas decisões dos órgãos públicos.

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A entidade governamental do Reino Unido respondeu, afirmando ter um programa nacional de adaptação para um período de cinco anos que visa aumentar a resiliência do país aos riscos das alterações climáticas. Neste mesmo plano, parece ter-se comprometido a investir mil milhões de euros em matéria de adaptação, onde se incluem projetos costeiros e de inundação. O governo galês e o Department of Agriculture, Environment and Rural Affairs (DAERA) também afirmaram o compromisso com as estratégias de adaptação às alterações climáticas.

O relatório do National Trust destaca, claramente, a urgência de ações coordenadas e investimentos substanciais para proteger o património do Reino Unido diante das crescentes ameaças das alterações climáticas.