Alterações climáticas: como varia a temperatura do gelo da Antártida
O satélite SMOS da ESA (Agência Espacial Europeia) comemora dez anos em órbita e a sua lista de sucessos acrescenta um novo resultado. A temperatura do manto de gelo interno da Antártida varia em profundidade e é mais elevada no fundo. Confira todos os detalhes aqui!
O manto de gelo da Antártida possui 2 km de espessura em média, ainda que nalguns pontos o leito rochoso se situe quase 5 km abaixo da superfície desta imponente calote de gelo polar. Muitos de nós terá pensado que a temperatura do gelo, independentemente da sua espessura, permaneceria mais ou menos inalterada: ou seja, essencialmente muito fria.
Por outro lado, mesmo estando a superfície desta calote de gelo fria, a temperatura aumenta com a profundidade, sobretudo devido ao calor geotérmico basal debaixo da crosta terrestre. Em determinados lugares, a temperatura é elevada o suficiente para derreter o gelo, o que explicaria a presença de lagos e uma vasta rede hidrológica no leito rochoso. Não obstante, existe pouca informação precisa sobre a forma exata como a temperatura varia conforme a profundidade.
As gigantescas camadas de gelo branco que cobrem a Antártida e a Gronelândia refletem a rediação solar incidente, devolvendo-a ao Espaço, constituindo reguladores do sistema climático importantíssimos e, consequentemente, desempenham um papel chave para a saúde do nosso planeta.
As calotes polares estão a ser vítimas das alterações climáticas. Este ano descobriu-se que o aquecimento dos oceanos fez com que o gelo se adelgaçasse com tanta rapidez que ¼ do gelo do glaciar da Antártida Ocidental está neste momento instável. Devido ao risco do derretimento dos glaciares, que poderá colocar em perigo as vidas de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, é vital compreendermos melhor de que forma a temperatura influencia as dinâmicas das calotes polares.
A importância dos dados obtidos pelo SMOS
Normalmente, recorre-se a dados de satélite para medir alterações na altura das camadas de gelo, através das linhas de contacto, da temperatura superficial e da velocidade a que fluem as correntes de gelo. A temperatura é um dos parâmetros que determina a viscosidade do gelo e como este flui e desliza sobre o leito rochoso que há por debaixo. Por sua vez, o fluxo de gelo afeta o perfil de temperatura através do aquecimento por esforço; de facto trata-se dum processo complicado.
Os dados de temperatura também são fundamentais para entender a presença de aquíferos contidos ou na base das camadas de gelo. Isto pode tornar-se relevante para indicar a existência de lagos subglaciais, por exemplo, o que acaba por influenciar na dinâmica do manto de gelo. A variação da temperatura em função da profundidade do gelo não é algo que se pudesse medir desde o espaço até agora. Porém, segundo um artigo publicado recentemente na Science Direct, SMOS oferece novas oportunidades para ele.
Giovanni Macelloni, do Instituto de Física Aplicada “Nello Carrara” do Conselho Nacional de Investigação italiano (IFAC-CNR), explica assim: “Normalmente obtemos os perfis de temperatura do manto de gelo a partir de modelos ou mediante medições in situ recolhidas por sondas, mas obviamente a informação que se consegue é escassa”.
Até agora, os dados de temperatura recolhidos estavam limitados à superfície ou à camadas subjacente mais superficial, obtidos com sensores térmicos infravermelhos ou sensores de microondas. Os investigadores do IFAC-CNR e o Instituto de Geociências Ambientais francês serviram-se do satélite para ver se existia alguma forma de obter esta informação em vez de depender de modelos e sondas no terreno.
“Torna-se evidente que SMOS está a abrir um leque de possibilidades muito maior do que esperávamos quando foi lançado há dez anos atrás”.