Alteração na circulação do Atlântico pode levar a efeitos de La Niña
Um novo estudo publicado na revista Nature revela que se nada for feito para travar as alterações climáticas, a Circulação Meridional do Oceano Atlântico poderá colapsar totalmente. Se isto ocorrer, o planeta será induzido a um estado climático semelhante ao gerado pela La Niña!
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As alterações climáticas estão a desacelerar uma importante circulação oceânica que atua no Oceano Atlântico, a chamada Circulação Meridional do Oceano Atlântico. Esta circulação é responsável por distribuir o calor entre a região tropical e as latitudes polares, sendo extremamente importante para o equilíbrio do clima global!
Um novo estudo publicado na Nature Climate Change, produzido por climatologistas da Austrália, explorou quais seriam os impactos e consequências no clima da Terra caso este sistema de circulação oceânica do Atlântico colapsasse totalmente! Os investigadores descobriram que o colapso deste sistema transformaria o clima da Terra num estado semelhante ao gerado pela La Niña - fase negativa do fenómeno El Niño Oscilação Sul.
Just published! Our new paper exploring the global climate response to a shutdown in the Atlantic Meridional Overturning Circulation. With @BryamOP and @AndreaTaschetto @ccrc_unsw @AntarcticSciAus https://t.co/vlJp8MuBgH (... my first ever) pic.twitter.com/jEzXWk6Dpt
— Prof. Matt England (@ProfMattEngland) June 6, 2022
Isto significa que se a circulação meridional colapsar, o leste da Austrália sofrerá com mais chuvas e inundações, enquanto o sudoeste dos Estados Unidos sofrerá episódios de secas e temporadas de incêndios florestais muito piores, de acordo com o estudo. Ou seja, episódios semelhantes ou até piores aos que foram e estão a ser registados recentemente nessas regiões, devido à La Niña que atua desde 2020.
Os investigadores utilizaram um modelo global para analisar o cenário climático consequente de um colapso desta circulação oceânica, aplicando uma simulação de degelo massivo no Atlântico Norte. A primeira coisa que os investigadores detetaram foi que, sem a circulação do Atlântico, uma enorme quantidade de calor se acumularia a sul do Equador.
An analysis in @NatureClimate shows that the collapse of the Atlantic Meridional Overturning Circulation causes excess heat to accumulate in the tropical south Atlantic Ocean, resulting in atmospheric changes globally. https://t.co/o7NfiTNAHM pic.twitter.com/i5IEUdwzES
— Nature Portfolio (@NaturePortfolio) June 8, 2022
Este calor em excesso sobre o Atlântico tropical modificaria a circulação atmosférica zonal, induzindo movimentos subsidentes sobre o Pacífico Tropical Leste. Estes movimentos subsidentes, por sua vez, fortaleceriam os ventos alísios, que passariam a empurrar as águas quentes para oeste, induzindo as anomalias negativas de temperatura da superfície do mar sobre o Pacífico Tropical Central - Leste, dando lugar a um estado de La Niña.
O que é a Circulação Meridional do Atlântico?
A Circulação Meridional do Atlântico, ou Circulação de Capotamento Meridional do Atlântico - em inglês Atlantic Overturning Meridional Circulation - é composta por um robusto conjunto de correntes oceânicas superficiais e profundas, responsáveis pelo transporte superficial de águas mais quentes e salgadas para norte e um fluxo para sul de águas mais frias em profundidade. Estas “esteiras” de transporte na superfície e nas profundezas conectam-se nas regiões de “capotagem”, onde ocorre o afundamento ou afloramento das correntes.
Esta circulação transporta as águas quentes do Atlântico Equatorial e Sul para o Atlântico Norte. Esse calor é capturado pela atmosfera nas latitudes mais altas e promove um clima mais ameno em algumas partes da Europa. Enquanto o outro ramo da célula de circulação transporta águas mais frias para sul, permitindo que os trópicos percam o excesso de calor. Assim, esta circulação oceânica exerce um papel importante no equilíbrio do sistema climático.
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Registos climáticos com mais de 100 mil anos revelam que esta circulação já foi “desligada” ou extremamente desacelerada durante as eras de gelo. Porém, desde o início da civilização humana, há cerca de 5 mil anos, a circulação meridional do Atlântico tem permanecido relativamente estável. Com exceção dos últimos últimos anos, em que foram observados indícios de que esta circulação estaria a desacelerar. Mas por quê?
Um dos principais fatores seria o degelo das calotas polares na Gronelândia e Antártica, que despejam grandes quantidades de água doce nos oceanos, o que torna a água menos densa e reduz o afundamento das águas densas nas regiões de ‘capotagem’ em altas latitudes.