Agricultura urbana e o desafio da sustentabilidade. Pegada de carbono e práticas para um futuro mais verde
A agricultura urbana, em crescimento global, surpreende num estudo liderado pela Universidade de Michigan ao revelar-se que a pegada de carbono de frutas e vegetais cultivados em ambiente urbano é seis vezes maior do que com técnicas tradicionais.
A agricultura urbana, uma prática em crescimento em todo o mundo, foi objeto de avaliação num estudo internacional liderado pela Universidade de Michigan. Os resultados foram disponibilizados ao público e são, de facto, surpreendentes.
A pegada de carbono de frutas e vegetais cultivados em quintas e hortas urbanas é, em média, seis vezes maior do que os seus equivalentes cultivados de modo convencional. No entanto, o estudo também destaca algumas exceções, sugerindo que a agricultura urbana pode vir a tornar-se mais sustentável com algum polimento nas práticas.
Contextualização da agricultura urbana e dos seus problemas
A prática de agricultura no interior das cidades, desde o início do século XXI, tem assumido grande popularidade, e é considerado um modo de tornar os sistemas alimentares urbanos mais sustentáveis. Pese embora os benefícios sociais, nutricionais e ambientais locais, este estudo publicado na Nature Cities aponta algumas fragilidades no modo como se processa a pegada de carbono destas práticas.
A maioria dos estudos anteriores focou-se nos métodos assentes em alta tecnologia, quando na realidade a maior parte das hortas urbanas utilizam pouca tecnologia, envolvendo o aproveitamento de solos vacantes no interior da cidade.
Os resultados do estudo revelam que, em média, os alimentos produzidos através de agricultura urbana têm uma emissão de 0,42 kg de dióxido de carbono equivalente por porção, ou seja, seis vezes mais do que os produtos cultivados através de práticas mais tradicionais. Contudo, também são destacadas algumas exceções, como nos tomates cultivados no solo urbano ao ar livre, que têm uma quantidade de carbono menor do que os cultivados nas estufas.
Desafios para uma agricultura urbana sustentável e a procura de melhoras práticas
Uma das principais conclusões a destacar prende-se também com o facto das infraestruturas existentes serem responsáveis pela maioria dos impactes nas hortas urbanas. Comparativamente, às hortas tradicionais, que operam de maneira eficiente por longos períodos, onde predomina a monocultura com o auxílio de pesticidas e fertilizantes, têm também uma pegada de carbono mais reduzida.
Para o efeito e tendo como objetivo tornar a agricultura urbana mais competitiva em termos de carbono, os investigadores foram à procura de algumas boas práticas. Identificaram três práticas como cruciais para uma verdadeira promoção da agricultura urbana sustentável.
A primeira consiste em prolongar a vida útil dos materiais e estruturas da agricultura urbana, como canteiros elevados e arrecadações, que possam minimizar significativamente a pegada de carbono.
Do mesmo modo, envolver mais nos projetos das hortas urbanas a reutilização proveniente dos materiais resultantes dos detritos de construção e resíduos de demolições pode contribuir para uma agricultura urbana mais sustentável. A compostagem e o uso de água da chuva ou águas cinzentas recicladas para irrigação são exemplos deste tipo de abordagem.
Além dos benefícios alimentares, a investigação destaca também que os agricultores, horticultores e jardineiros relatam melhorias na saúde mental, na dieta alimentar e nas redes sociais. Embora o estudo destaque que na grande maioria dos casos não reduzam diretamente a pegada de carbono, os espaços de cultivo que maximizam estes benefícios sociais podem tornar estas práticas agrícolas mais estimulantes que as convencionais.
De facto, este estudo da Universidade de Michigan vem estabelecer algumas linhas orientadoras que criam disrupção com o modelo de sustentabilidade na agricultura urbana. No entanto, se são revelados alguns contornos mais negativos da pegada de carbono, também são apontados vários caminhos para aprimorar as práticas agrícolas.
Referência da notícia:
Hawes, J.K., Goldstein, B.P., Newell, J.P., Dorr, E., Caputo, S., Fox-Kämper, R., ... Cohen, N. (2024). Comparing the carbon footprints of urban and conventional agriculture. Nature Cities.