Agricultores procuram o aumento da produtividade através da eletricidade
A horticultura elétrica está no horizonte dos agricultores, uma vez que estes visam aumentar as suas colheitas sem prejudicar o ambiente. Será a eletrificação de legumes uma ideia para um futuro próximo?
A agricultura moderna atual apresenta muitos desafios ambientais. Segundo um artigo publicado na BBC, em 2005, a nível mundial, os vários componentes agrícolas podem contribuir anualmente para 10 a 12% das emissões de gases com efeito de estufa.
A produção do fertilizante sintético, que consome muita energia, revolucionando a agricultura no início do século XX, é atualmente responsável por centenas de milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano. A erosão dos solos provocada pela utilização desregrada das terras contribui ainda mais.
A nova geração de investigadores evita a palavra eletrocultura, preferindo termos como agricultura inteligente ou quarta revolução agrícola. Mas o mecanismo primordial permanece o mesmo e os defensores estão unidos na convicção de que, após séculos no deserto, a eletricidade para as plantas está finalmente pronta a dar frutos.
A esperança é que estes sistemas futuristas possam ser utilizados para combater a crise alimentar global, reduzindo as consequências ambientais da agricultura em grande escala.
Quarta revolução agrícola a nível mundial
Na última década, assistiu-se a uma proliferação de formas de estimular eletricamente as sementes, as culturas e os campos de forma a aumentar o rendimento sob a influência de um campo elétrico, através de choques nas sementes para acelerar a germinação e até mesmo eletrocutar a água com que são regadas.
Nos Estados Unidos, a National Science Foundation (NSF) concedeu milhões de dólares para a investigação das utilizações agrícolas do plasma frio, essencialmente relâmpagos controlados à temperatura ambiente.
Na China, o governo está a apoiar projetos agrícolas que utilizam plataformas gigantes para introduzir eletricidade no solo e aumentar o rendimento das culturas.
No Canadá, um produtor comercial tem estado a fazer experiências com plasma frio para fertilizar as suas alfaces.
Agora, estão a entrar em cena startups, como a Vivent, uma empresa suíça que consegue escutar a vida elétrica interior das plantas e que está a ser agressivamente cortejada pela indústria agrícola.
Em Londres, no Plant Morphogenesis Laboratory do Imperial College, uma investigação a cargo dos técnicos Giovanni Sena e Maddalena Salvalaio, está a utilizar cubos laranja translúcidos feitos de hidrogel, um material com uma estrutura em rede que retém os elétrodos contornando cada lado de cada cubo.
A experiência de Salvalaio e Sena faz parte de uma constelação global crescente de projetos que visam impulsionar a agricultura, utilizando uma variedade de intervenções elétricas.
Dúvidas crescentes
Segundo a ecologista vegetal Nina Buchmann, dirigente do World Food System Center na Suíça, as empresas agrícolas são obrigadas a fazer um trabalho difícil como alimentar uma população em rápido crescimento, mas sem pesticidas poluentes ou escorrências de fertilizantes, reduzindo os custos de energia, utilizando menos terra e aumentando constantemente o rendimento das colheitas num mundo cada vez mais imprevisível e em aquecimento.
Contudo, eletricidade na agricultura ainda tem a sua quota-parte de céticos. Estes argumentam que, 200 anos depois dos primeiros vitorianos cultivarem as suas plantas perenes, com um sucesso nada científico, ainda não se sabe exatamente como a eletricidade interage com a biologia das plantas.
Este mesmo vaivém surgiu sempre que a eletrocultura voltou a estar em voga desde 1700, conduzindo-a de novo a uma obscuridade inútil.