Adversidade no início da vida dos esquilos vermelhos afeta o seu tempo de vida, concluem os investigadores

O território canadiano de Yukon é o lar de uma série de predadores formidáveis, desde doninhas a lobos e linces. O Governo de Yukon partilha a diversidade da vida selvagem que nos fascina em Yukon.

Todas as espécies lutam pela escassez de alimentos no meio das estações que alteram a sua disponibilidade alimentar. Os invernos rigorosos, em particular, colocam em risco a vida dos pequenos mamíferos.

Traumas e lutas no início da vida, tais como invernos rigorosos, parecem afetar a sobrevivência a longo prazo dos esquilos vermelhos, disse a investigadora Lauren Petrullo. Como professora assistente no Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Petrullo e a sua equipa estavam interessadas em descobrir que fatores poderiam ajudar estes jovens esquilos a protegerem-se destas pressões externas.

Observações a longo prazo em campo aberto

O Projeto Kluane Red Squirrel é um projeto de trabalho de campo com a duração de três décadas, que acompanha os esquilos vermelhos da América do Norte nas regiões selvagens do território canadiano de Yukon e que envolve a Universidade de Alberta, a Universidade de Michigan, a Universidade do Colorado Boulder e a Universidade de Saskatchewan.

Como resultado do trabalho de campo, a equipa de Petrullo publicou o seu trabalho na revista Proceedings of the Royal Society B Biological Sciences. O seu estudo revelou que quanto mais desafios os esquilos jovens enfrentam no ano em que nascem, mais curta é a sua vida adulta. A adversidade no início da vida parece reduzir a esperança de vida em, pelo menos, 14%.

Poderá alguma coisa compensar a adversidade vivida no início da vida?

As adversidades da vida no primeiro ano de vida não determinaram totalmente o seu destino. "O ecossistema que os esquilos vermelhos habitam nesta região é único", afirmou Petrullo. "A cada três a sete anos, o seu alimento preferido - sementes de cones de abetos brancos - é produzido em superabundância durante o que chamamos um boom alimentar."

"Descobrimos que estes "booms", apesar de raros, podem interromper a incorporação biológica de adversidades no início da vida. Se um esquilo teve um primeiro ano de vida difícil, se teve a sorte de experimentar um boom alimentar no seu segundo ano de vida, viveu tanto tempo - se não mais - apesar das adversidades do início da vida."

Os investigadores conseguiram imitar os booms alimentares oferecendo manteiga de amendoim, embora não se comparassem aos booms alimentares naturais das sementes dos cones dos abetos brancos - um dos seus alimentos favoritos.

"Isto sugere que o efeito de amortecimento que observamos não tem apenas a ver com um aumento das calorias disponíveis", disse Petrullo, "provavelmente tem a ver com mudanças em dinâmicas mais amplas a nível populacional, como a competição".

O que os esquilos ensinam sobre a resiliência humana

A equipa gostaria de compreender o que relaciona o seu desenvolvimento precoce com a sobrevivência no final da vida, uma vez que isso poderia trazer ensinamentos para compreender se efeitos semelhantes são observados nos seres humanos, com implicações para a resiliência humana. As descobertas assemelham-se ao que se sabe na ciência sobre a adversidade no início da vida nos seres humanos e como esta pode encurtar a vida adulta.

Pode parecer estranho associar um esquilo a um ser humano, uma vez que os roedores, como os ratos, são um bom "sujeito de controlo", o que significa que podem ser utilizados como modelos para os seres humanos na investigação científica. É frequentemente este o caso na investigação genética efetuada em laboratório.

Mas os próprios laboratórios podem não ser o local adequado para compreender as interações com o ambiente natural na investigação em ecologia. Pode ser extremamente difícil, talvez mesmo impossível, introduzir verdadeiramente desafios ecológicos realistas num ambiente laboratorial.

O seu estudo de observação mostra a importância da qualidade ambiental na saúde dos indivíduos mais tarde na vida. Os esquilos selvagens são úteis para estudar estas interações com o mundo natural, como os predadores realistas e as adversidades que os rodeiam, onde existem muitos fatores que podem afetar o seu desenvolvimento.

Além disso, alguns esquilos vermelhos nascem, de facto, em melhores circunstâncias, quer seja pela abundância de alimentos ou pela quantidade de predadores que os rodeiam. No entanto, podem esperar-se mais fatores de stress no futuro, uma vez que o ambiente está destinado a sofrer mais stress com o aumento das temperaturas devido ao aquecimento global.

Referência da notícia:

Petrullo et al (2024). A future food boom rescues the negative effects of early-life adversity on adult lifespan in a small mammal. Proc. R. Soc. http://doi.org/10.1098/rspb.2023.2681