A valorização de biorresíduos: o caso dos jardins de Eindhoven
Habitantes de Eindhoven estão a deixar os jardins e os parques da cidade cobertos de folhas que habitualmente caem no outono, que se decompõem e ajudam a aumentar a saúde do solo e dos insetos. Veja mais aqui!
O município Eindhoven, no sul dos Países Baixos, declarou paz com as folhas caídas no outono. Estas assumem agora um novo papel no metabolismo urbano.
A administração pública desta cidade de mais de 220.000 habitantes, situada na região de Brabarante do Norte, está a incentivar os seus cidadãos a abandonarem os sopradores de folhas e os ancinhos e a deixarem as folhas caídas nos jardins e parques.
Esta decisão decorre da tentativa de mudar as ideias sobre como os espaços públicos devem ser, disse Martijn van Gessel, porta-voz do conselho municipal de Eindhoven. A cidade quer mudar, não só a forma como se olham os espaços verdes, mas também estabelecer uma nova relação com estes biorresíduos.
Romper com o atual paradigma
A ideia é romper com o atual paradigma da gestão das folhagens das árvores e da forma como olhamos para os espaços verdes públicos e abandonar a ideia de que tem sempre de estar tudo bem organizado, limpo e arrumado, contrariando a perda gradual do contacto com a natureza nas cidades.
O objetivo é criar uma camada de folhas, quente e húmida para a vida dos insetos nos jardins ou parques. Ainda que estes espaços possam parecer mais desleixados, este estado confere-lhes um aspeto mais natural.
Os espaços verdes são fundamentais no ponto de vista do planeamento e gestão da cidade, desempenhando uma série de funções que ajudam a moderar o impacto das consequências negativas das atividades humanas.
Assim também os biorresíduos o são, uma vez que as folhas dos parques e jardins desempenham importantes funções ecológicas e de biodiversidade, com elevado potencial energético e de recuperação de nutrientes.
O que são biorresíduos?
Entende-se por biorresíduos “os resíduos biodegradáveis de jardins e parques, os resíduos alimentares e de cozinha das habitações, dos escritórios, dos restaurantes, dos grossistas, das cantinas, das unidades de catering e retalho e os resíduos similares das unidades de transformação de alimentos" (Decreto-Lei n.º 102-D/2020, de 10 de dezembro).
O aproveitamento e valorização dos biorresíduos gera diversas vantagens ambientais. Estas vantagens associadas à valorização os biorresíduos alinham-se nas atuais políticas ambientais Europeias de “Economia Verde”, uma vez que contribuem para promover uma gestão mais eficiente dos recursos naturais e reduzir os impactes ambientais.
A preservação de sistemas naturais são muito importantes na promoção dos ecossistemas locais, permitindo assim ganhos ambientais, nomeadamente contribuindo significativamente para o enriquecimento dos solos, para a valorização e preservação da vida animal e retenção de humidade no solo. Atrasa o escoamento das águas pluviais e permite o aparecimento de novas espécies vegetais, gerando todo um processo de melhorias.
Para além da ação de sensibilização, uma outra abordagem à valorização deste biorresíduo realizada na cidade de Eindhoven foi entregar cestos para incentivar e apoiar a recolha de folhas caídas na rua ou em casa, para que estes possam ser triturados e transformados em composto, que será depois utilizado na primavera, uma demonstração da circularidade do sistema.
A integração dos biorresíduos numa estratégia circular local afirma-se como uma boa prática, pois segundo o Centro de Valorização de Resíduos, os biorresíduos, devido à sua composição, quando depositados em aterro representam vários problemas para a saúde humana e para o ambiente, nomeadamente a produção de metano, que é um gás com efeito de estufa altamente destrutivo para a camada de ozono.
A aceitação destas práticas por parte das comunidades pode ser morosa mas, através de estratégias de sensibilização sobre os benefícios para a comunidade, pode aumentar. Afinal, estamos apenas a devolver à terra aquilo que lhe tirámos.