A temperatura mais fria registada na Terra: 21 de julho de 1983

Durante muito tempo a Ciência não soube responder a um dos maiores mistérios que envolvem a atmosfera, o clima e a Terra. Porque é que no verão de 1983 foi registada a temperatura mais fria, desde que há memória, no hemisfério Sul? Agora, os cientistas já sabem a resposta. Saiba mais aqui!

Estação de investigação Vostok Antártida hemisfério Sul Terra
Os cientistas estiveram muito tempo em busca de respostas para tentar compreender a razão deste frio assustador se ter registado em plena década de 80. (Imagem: © Todd Sowers, LDEO, Columbia University)

Durante o inverno do hemisfério sul de 1983, as temperaturas na estação de investigação russa Vostok na Antártida caíram para um frio assustador, quando registaram nada mais nada menos que -89.2ºC, a temperatura mais fria alguma vez registada na Terra. Os cientistas descobriram, há cerca de uma década, porque é que de repente fez tanto frio.

As explicações

Uma explicação para o facto de o mercúrio ter mergulhado, precipitadamente durante um período de 10 dias em Julho de 1983 (inverno no hemisfério Sul da Terra), para essa temperatura de -89.2ºC há muito que fugia aos cientistas.

Mas os cientistas do British Antarctic Survey (BAS) e do Arctic and Antarctic Research Institute (AARI), na Rússia, conseguiram resolver o mistério com um modelo de computador desenvolvido para simular a evolução futura do clima antárctico, juntamente com cartas meteorológicas e imagens de satélite da área.

Descobriram que o ar relativamente quente que normalmente flui sobre o oceano Sul para o planalto antárctico alto quase parou durante este período. Um fluxo de ar frio que estava a circular pela estação de Vostok estava a impedir a mistura deste ar mais quente de latitudes mais baixas, isolando a estação e causando condições quase ótimas de arrefecimento. A isto juntava-se a ausência de uma cobertura de nuvens de retenção de calor e a presença de uma camada de pequenas partículas de gelo suspensas no ar (conhecidas como pó de diamante), permitindo a perda de mais calor da superfície gelada do continente para o espaço.

Um fluxo de ar frio em Vostok impedia a mistura do ar mais quente das latitudes mais baixas, o que provocou o isolamento da estação e causou o seu arrefecimento.

Resultados mostram quão extrema pode ser a Mãe Natureza

"A distinção entre a variabilidade natural e as mudanças induzidas pelo homem no clima atmosférico da Terra está no centro da nossa investigação, e queríamos compreender porque é que este sistema meteorológico 'normal' foi desequilibrado tão severamente", disse o membro da equipa John Turner na BAS. "As nossas descobertas indicam que se tratou de um acontecimento natural, mas isto é uma lembrança importante de quão extremos os acontecimentos naturais da Terra podem ser e que devemos sempre considerar o potencial de ocorrência de tais anomalias".

Turner e os seus colegas pensam que a mesma combinação de circunstâncias que duram mais tempo poderia fazer com que o termómetro da Vostok mergulhasse ainda mais, até -96ºC. "Apreciando que tais possibilidades podem ocorrer e, por sua vez, esforçando-se por compreender os processos que as provocam, estamos mais bem equipados para fazer previsões de como o planeta poderá reagir a futuras mudanças no clima polar atmosférico" disse Turner.