A suscetibilidade de Pólos contrastantes
A Terra possui dois Pólos gelados em que um é uma massa continental, a Antártida, e o outro é apenas uma calota de mar congelado, o Ártico. Diferenças geográficas decisivas para os comportamentos climático-oceanográficos dos dois hemisférios. Saiba mais aqui.
Desde o fim da pequena Idade do Gelo (cerca de 1860), que a humanidade experiencia um novo ciclo de reequilíbrio no clima da Terra, desta feita, e por sequência, um aumento nos valores das temperaturas, não podendo, contudo, ser asseverado que o mesmo é transversal a todos os territórios do planeta.
Enfatize-se a região a que corresponde o maior deserto do planeta, a imponente Antártida. Uma placa litosférica, com morfologia semelhante ao Grand Canyon nos EUA, este, com 446 km de extensão por 28 km de largura e 2 km de profundidade. Analogamente, a Antártida molda-se por cadeias montanhosas e vales, que se estendem por 150 a 350 km, em larguras de 15 a 30 km, com picos de profundidade de 2 km.
Antártida denomina uma área com 14 milhões de km², onde pululam mais de noventa estrato-vulcões, e sob a qual assentam cerca 30 milhões de Km³ de um extenso manto de gelo, cuja espessura oscila dos 1800 aos 4700 metros, e onde se encontra aprisionada 90% da água doce do planeta (debaixo do gelo existem mais de 300 lagos de água doce em estado líquido). Um cenário mergulhado num branco inóspito há cerca de 35 milhões de anos, outrora, um continente com fauna e flora que derivou de uma região tropical mais a Norte, em direção ao Sul no decurso da história dos giga-anos de evolução terrestre.
Trata-se do local mais frio da Terra. Uma massa continental, onde apenas 44.000 km² não são cobertos por gelo, mas é cercada pelo Oceano Austral, cuja área congelada varia de 3 milhões de Km², no verão, a 20 milhões de Km² no inverno, e por onde navegam admiráveis icebergues, blocos de água doce congelada que flutuam por serem menos densos do que a água salgada.
Um território que no decorrer do movimento de translação, devido à inclinação do eixo do planeta, ganha um extenso dia com um verão de seis meses, onde a intensidade dos raios emitidos pelo Sol impede que hajam noites, atingindo temperaturas na ordem dos -2,5 ⁰C e os 0 ⁰C. Por contraste, nos restantes seis meses, mergulha numa imensa noite invernosa, só iluminada pelas estrelas, registando temperaturas entre os -20 ⁰C e os -70 ⁰C, com uma mínima absoluta na Estação Vostok de -89,2⁰C, bem mais frio do que no Ártico!
A Antártica está imune a um 'aquecimento global'?
A monitorização meteorológica indica que os valores de temperatura na Antártida se encontram dentro da média estatística da região, e isso deve-se a fatores como, ter uma elevação média de 2 km acima do nível do mar, o que aciona o gradiente térmico vertical positivo, implicando uma diminuição de 0,65 ⁰C a cada 100 metros de altitude; ser rodeada por uma extensa massa de gelo oceânico, cuja espessura oscila dos 1,5 aos 6 metros, podendo atingir os 15 metros; assim como, devido ao facto de, sob o elevado planalto Antártico habitar um imponente Anticiclone que escoa o ar, sob a forma de ventos catabáticos, intensamente secos e frios, do alto interior até à costa, onde atuam ciclones extratropicais, ao trocar a energia das regiões de latitudes médias, com a região sub-polar.
Ora, enquanto o Pólo Norte, é uma região de baixa altitude, localizada relativamente perto de áreas continentais, que aquecem muito durante o verão (p.e. a massa de terra firme mais próxima, Gronelândia, dista a uns 700km) devido às correntes oceânicas quentes provenientes do Atlântico, mas onde, sobre o oceano Ártico, existe uma espécie de cobertor congelado com cerca de 5 metros de espessura. Já o Ciclo Polar Antártico, pelas suas particularidades geográfico-meteorológicas, gera um efeito 'bolha', que, comparativamente com o congénere a Norte, lhe confere menor vulnerabilidade aos efeitos de alterações nos padrões climáticos.
Um futuro alarmista?
É determinante a função que os dois pólos representam no equilíbrio das anomalias térmicas globais. Atualmente, verifica-se um aumento de 0,6 a 0,8 ⁰C acima dos valores de temperatura pré-industriais. O degelo dos pólos acontece a cada verão, em cada hemisfério, com maior velocidade quando, no movimento de translação, o planeta se aproxima mais do Sol, recebendo, pela exposição a que a inclinação do seu eixo o submete, maior intensidade de raios solares. Esta dinâmica, é cíclica e imprescindível, para a cura do sistema climático.
Efectivamente, as características do Ártico adensam a uma maior susceptibilidade para que ocorra uma amplificação ártica, o degelo do pólo norte, implicando com mudanças nos padrões da circulação atmosférica, tornando-a mais errática, reflectindo-se isso, em enérgicas alterações no clima do hemisfério norte, como, um aumento da frequência de eventos meteorológicos extremos. No caso da Antártida, e considerando num futuro próximo, os constrangimentos na obtenção e gestão de água potável, poder-se-á alvitrar, que esta é uma região de elevado potencial estratégico, um recurso natural, que, a ser usado, o conceito de sustentabilidade terá forçosamente de ser exponenciado.