A resposta para colonizar outros planetas está no fundo do mar: a abordagem é revolucionária e veio de um português
Algas, invertebrados e microrganismos marinhos são a chave para desenvolver tecnologias de suporte à vida, fornecendo oxigénio, alimentação, energia ou proteção contra radiação cósmica, diz investigador do Politécnico de Leiria.
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A velocidade com que a humanidade tem vindo a conquistar o espaço é vertiginosa. Desde que o cosmonauta soviético Yuri Gagarin atravessou a atmosfera terrestre, a 12 de abril de 1961, inúmeras aventuras já aconteceram. O maior desafio da atualidade é agora chegar a Marte e estabelecer colónias onde os humanos possam viver em permanência.
O programa Artemis, da NASA, por exemplo, conta levar um homem e uma mulher à Lua em 2027 para começar a preparar uma presença americana de longo prazo no satélite natural da Terra. Trata-se, na verdade, de um primeiro passo para uma missão muito mais ambiciosa e que passa por estabelecer em Marte a nossa segunda casa do universo.
Não é apenas a distância superior a sete meses a separar os dois planetas que dificulta esta missão. É ainda tudo o que implica uma viagem ao desconhecido onde se esperam condições extremas semelhantes a um deserto gelado fustigado por ventos solares e raios cósmicos vindos do espaço.
Novas oportunidades para a exploração do espaço
Para tornar o planeta vermelho habitável, é preciso transformar as condições atmosféricas, de temperatura, pressão, recursos de água ou características do solo, que permitam sustentar a longo prazo uma colónia humana.
A resposta para boa parte destes desafios, no entanto, pode estar aqui mesmo na Terra, mais precisamente nas profundezas dos oceanos.
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É isso que defende Marco Lemos, investigador do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do Instituto Politécnico de Leiria. Num artigo publicado na prestigiada revista científica Marine Drugs, o especialista em Sistemas Costeiros e Oceano propõe uma abordagem revolucionária, que poderá ser viabilizada através dos recentes avanços na biotecnologia espacial.
O mar pode, por isso, ser a chave para sustentar a vida em missões prolongadas com vista a preparar a colonização de novos mundos. As microalgas, exemplifica o investigador, podem ser usadas para ambientes autorregulados, capazes de reciclar nutrientes e gerar oxigénio. Os compostos bioativos do fundo dos mares, por seu turno, poderão ser utilizados para combater os efeitos nocivos da radiação no espaço.
O seu estudo propõe o uso dos organismos marinhos em várias outras áreas, como produção de alimentos, materiais resistentes, medicamentos ou biocombustíveis. Os produtos derivados do mar têm ainda um enorme potencial para criar sistemas fechados, que permitam manter a vida em habitats espaciais e proporcionar uma base sólida para a autossuficiência em missões de longa duração e colónias noutros planetas.
A hidroponia é um dos exemplos de avanços científicos apontados na investigação como a solução mais promissora para o cultivo de plantas sem terra. Mas há outras tecnologias como as biorrefinarias marinhas, que transformam resíduos em novos materiais e energia.
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Elementos extraídos de organismos marinhos podem ainda ser utilizados na construção de estruturas espaciais mais resistentes e inovadoras. As algas desempenham igualmente um papel central para gerar energia limpa e renovável no espaço.
Vencer os desafios com cooperação internacional
No estudo, intitulado “Para além da Terra: Aproveitamento dos Recursos Marinhos para uma Colonização Espacial Sustentável”, o autor defende que o progresso nestas novas tecnologias passa obrigatoriamente por um maior impulso à investigação do mar profundo.
Há (literalmente) um mar de possibilidades à nossa espera, mas, será preciso ainda ultrapassar alguns obstáculos. A adaptação de organismos marinhos à microgravidade e radiação é um desses desafios.
A construção de sistemas de cultivo compactos e eficientes para os ambientes limitados do espaço também irá exigir inovação e colaboração internacional, adverte Marco Lemos.
A conquista de novos mundos só será viável para a humanidade se soubermos trabalhar em parceria, diz o investigador, destacando a interdisciplinaridade entre as ciências marinhas e as agências espaciais.
É a sinergia entre estas duas áreas de conhecimento que poderá assegurar a gestão sustentável dos recursos terrestres, a exploração do espaço e, por fim, a valorização do oceano como o pilar de uma nova era para a colonização de novos mundos.
Referência do artigo
Marco F. L. Lemos. Beyond Earth: Harnessing Marine Resources for Sustainable Space Colonization. Marine Drugs.