O solstício de inverno e a Terra
A grandiosidade do Universo promove fenómenos, como o solstício de inverno, cuja interligação fascina a compreensão humana pela sua espetacularidade. Da dinâmica da relação da Terra com o Sol, resultam anualmente quatro dias com importante significado para o ciclo climático. Saiba mais aqui!
Por efeito dos movimentos de translação e rotação do planeta Terra, a distribuição da luz solar não é uniforme nos dois hemisférios. Decorrente dessa particularidade, às 04h19 do próximo domingo, o hemisfério norte do planeta estará inclinado 23⁰27’ opostamente à direção do Sol, recebendo por isso menos luz, propiciando ao início do inverno o período estacional mais frio do ano que se prolongará por 89 dias, até ao equinócio da primavera, no distante dia 20 de março de 2020.
Avizinha-se mais um solstício, um fenómeno astronómico que ocorre em dois momentos do ano, em junho e em dezembro, e que representa o posicionamento do Sol no seu limite máximo, no seu auge ao norte ou ao sul do planeta, na maior distância angular em relação ao plano que passa pela linha do Equador, tendo como consequência a maior iluminação de um dos hemisférios, refletindo-se em dezembro no início do inverno no Hemisfério Norte e do verão no Hemisfério Sul, ocorrendo o inverso em junho.
Refira-se que as declinações angulares do Sol em projeção geocêntrica face à esfera celeste, variam no decorrer do ano entre o máximo de 23⁰27’ Norte (ou Sul) e os 0⁰ que correspondem à linha do Equador. E, no decurso da viagem de subida ou descida entre os trópicos e o Equador, o tempo de luminosidade dos dias vai aumentando ou diminuindo, sendo que no momento do solstício de inverno, é atingido o máximo de noturnidade, que dura em projeção aparente, três dias, iniciando-se o renascimento da luz a partir de 24 ou 25 de dezembro (Hemisfério Norte).
O efeito do movimento de translação
No dia 22 de dezembro, o Hemisfério Norte terá a noite maior e o dia mais curto do ano, pois o Pólo Norte estará mais desviado do Sol do que o Pólo Sul, e ao meio dia, o Sol visto da Terra, estará na posição mais a sul que pode assumir, incidindo perpendicularmente sobre o trópico de Capricórnio, circunstâncias estas que dão origem ao início do inverno no Hemisfério Norte, e ao verão no Hemisfério Sul. Isto apesar de, no seu movimento elíptico à volta do Sol, a Terra se encontrar a caminho de estar o mais perto possível dele, o que acontecerá às precisas 07h48 do dia 05 de janeiro de 2020, no chamado periélio, momento em que distará a uns meros 147,1 milhões de km do Sol, menos 5 milhões do que durante a estação do verão.
Começará então o inverno, a estação mais curta das quatro. Uma inconstância explicada pela Lei das Áreas de Kepler, segundo a qual, existe variação da velocidade de um planeta ao longo da sua trajetória de translação, e como a Terra estará na posição mais próxima do sol (periélio), vai mover-se com maior velocidade, logo, torna o inverno bem mais rápido do que as outras três estações, sendo que a caminho do ponto da órbita mais afastado do Sol, no afélio, mover-se-á mais devagar.
O misticismo associado ao solstício de inverno
Cosmograficamente, considerava-se que quando em 21 de dezembro, o Sol entrava em Capricórnio (signo regido por Saturno, daí a Saturnália), os poderes das trevas de certo modo tomam conta do Sol, o dador da vida, ocorrendo o seu renascimento após os três dias de “paragem”, marcando assim o dia 25, o início de um novo ciclo. Efetivamente, o solstício de inverno marca a noite mais longa do ano, levando à conceção de muitas histórias e tradições associadas com a morte e a ressurreição em diferentes culturas e religiões como a Egípcia, o Cristianismo, entre outros.
Para os povos ancestrais, a ocorrência do solstício de inverno, o menor dia do ano, simbolizava a vitória da luz sobre a escuridão, uma vez que, a partir de então, a luz voltaria a reinar com o recomeço do aumento da duração do dia. As pirâmides do Egipto terão sido construídas em alinhamento para receber o Sol de frente à porta de entrada, exatamente no dia do solstício de Inverno.
Os historiadores defendem a associação no solstício de Inverno, do nascimento de Cristo como o Sol de Justiça de acordo com expressão bíblica, com as festividades do ritual pagão, a Saturnália, uma festa dedicada ao Deus Saturno (17 a 25 dezembro), em celebração do nascimento do Sol invencível - Natalis Solis Invictus.
Festejava-se, com ritos de alegria e troca de prendas (período em que os escravos recebiam permissão para fazer o que mais lhes agradasse, inclusive poderiam ser servidos pelos amos) o momento em que o Sol cresce, ou renasce, após ter atingido a sua duração mais curta a 21 ou 22 de dezembro. Com efeito, nessa data o Sol atinge a sua máxima declinação Sul, cerca de 23⁰27’, “estacionando” nela durante três dias, e retomando o caminho do Norte, a partir do dia 24 ou 25, numa dinâmica de renascimento que influi determinantemente no clima e na vida no planeta.