A inconstância da circulação atmosférica
O dinâmico mecanismo climático balanceia o seu delicado equilíbrio em função de todo um conjunto de variáveis atmosféricas, estas em participativa conjugação com os forcings que caracterizam a litosfera, a hidrosfera, a criosfera e a biosfera do planeta.
Anacronicamente, o clima do planeta Terra é mutável e duradouro na métrica do tempo, porém numa dimensão dessincronizada da da vida humana. Na escala Geológica, o planeta passou por sucessivas alterações climáticas, que desencadearam profundas mudanças geomorfológicas, hidrográficas e biogeográficas, aludindo-se a exemplo, as glaciações e as fases interglaciares, ocorridas sobretudo no Plistoceno, entre 2,5 milhões e 12 mil anos atrás, e cujos efeitos se manifestaram em alterações nos eventos de precipitação e no nível dos oceanos.
Alterações na dinâmica atmosférica refletem-se em estados do tempo em que ocorrem fenómenos climáticos extremos, em mudanças nos regimes pluviométricos sazonais, contribuindo para graduais alterações na climatologia dos locais, e incontornáveis repercussões, transversalmente em sectores como, saúde, agricultura, ecossistemas e economia.
Alavancado pelas diferenças de pressão e de temperatura, o ar move-se na atmosfera num conturbado sistema denominado de circulação atmosférica. Durante este processo, o ar mais frio, por inerência mais pesado, desce, enquanto o ar quente, sendo mais leve, ascende, propiciando a movimentação e formação dos ventos. E é esta dinâmica da circulação das massas de ar, associada a outros fatores como as oscilações das temperaturas dos oceanos, que é responsável por desencadear uma série de fenómenos climáticos sobre as mais diversas regiões do globo terrestre.
O incontrolável comportamento da atmosfera
Monitorização meteorológica demonstra que ultimamente têm ocorrido mudanças na dinâmica da atmosfera sobre as regiões subtropicais, onde se inclui o Médio Oriente, Mediterrâneo e boa parte da Península Ibérica. Verificam-se episódios de chuvas, muitas vezes intensas e acompanhadas de trovoadas fortes, queda de granizo, ventos severos que causam inundações, provocando severos desastres sociais. Em especial na primavera e outono, têm sido observados também em pontos do Sahara e norte de África, aumento do número de eventos de precipitação de modo torrencial.
Ora, estas alterações poderão estar relacionadas com o aquecimento anormal das regiões árticas, em especial durante o inverno, um fenómeno cuja interação com a atmosfera resulta na chamada “Amplificação Ártica”. Uma situação que ocorre da interação de perturbações em altitude, com plumas do ar quente e húmido proveniente do mar Arábico e da África tropical.
Com efeito, a quantidade de terra emersa no hemisfério norte, permite uma maior variação anual de cobertura de neve. A diminuição do derretimento da neve e do gelo reduz a reflectância do albedo dos polos, o que amplifica a temperatura na região polar. Provavelmente, e no caso da aridez Africana, os eventos mais frequentes de intensa pluviosidade até poderão representar bom augúrio, dada a escassez de água característica desta parte do planeta. Todavia, estas excecionais ocorrências poderão conjecturar o início de uma fase de mudanças ambientais que poderão gerar uma alteração nos ecossistemas locais, com inerentes consequências, cuja natureza é ainda enigmática.
Face às atuais ocorrências atmosféricas, previsões meteorológicas adentam o eventual desaparecimento do deserto Africano, podendo a região do Sahara voltar a ser como há cerca de 10 mil anos atrás, uma savana pontilhada de espelhos de água. Uma transformação com consequências globais, que, não obstante acarretar benefícios aos povos da região devastada por uma situação de seca extrema há muito instalada, exponenciando a prática agrícola e por consequência, propiciando melhores condições de vida. Perniciosamente, deve igualmente ser considerada a preocupante progressão para norte de doenças ditas tropicais, assim como o delicado risco adaptativo dos ecossistemas perante mudanças no clima regional.
Estimativas da temperatura dos últimos 1000 anos indicam que a temperatura média global no hemisfério Norte, teve uma tendência ligeiramente decrescente durante 900 anos, seguida de uma subida pronunciada no século XX. A área dos gelos permanentes na região do Pólo Norte está a diminuir a um ritmo de cerca de 3% por década, mas há cerca de 400 mil anos a Gronelândia era verde, sem qualquer manto de neve.
A paleoclimatologia assevera as cíclicas variações climáticas que a Terra tem experienciado desde a formação do manto gasoso protetor que a envolve, denominado de atmosfera. Neste dinâmico e conturbado sistema, ocorrem continuamente processos fotoquímicos, rearranjos intramoleculares que procuram manter um optimum que propicia a existência de vida no planeta. A Terra é uma pequena casa onde atua um colossal mecanismo impossível de dominar, e cujos efeitos carecem unicamente de ações harmónicas, mitigadoras e adaptativas por parte dos seus inquilinos.