A falta de água potável aumenta o consumo de bebidas açucaradas e contribui para a obesidade em Kiribati
Em Kiribati, onde apenas um terço da população tem acesso a água potável, muitas famílias recorrem a bebidas açucaradas. Este hábito contribui para o aumento de casos de obesidade, agravando os desafios de saúde pública no país.
A República de Kiribati, localizada no Pacífico, encontra-se perante uma grave crise de acesso à água potável. Apenas um terço da população dispõe de sistemas de água canalizada segura, deixando a maioria das famílias a depender de fontes como águas subterrâneas não controladas (40%) ou água da chuva (28%).
Kiribati é um arquipélago de 33 ilhas a baixa altitude, habitado por 133 mil indivíduos. A sua localização isolada e a vulnerabilidade a fenómenos climáticos extremos, como a secas e à subida do nível do mar, tornam o acesso a água limpa um desafio constante.
Muitas famílias sabem que as suas fontes de água estão contaminadas por resíduos animais e produtos químicos, mas não têm meios para adquirir sistemas de filtragem ou tratamento adequados. Como alternativa, recorrem a bebidas açucaradas, como refrigerantes e sumos industrializados, para suprir as necessidades de hidratação.
Dados alarmantes sobre o consumo de bebidas açucaradas
Um estudo recente, realizado com mais de 2 000 famílias em 21 ilhas rurais e urbanas de Kiribati, revelou que as famílias sem acesso a água canalizada consomem entre 381 e 406 gramas adicionais de bebidas açucaradas por semana, em comparação com aquelas que têm acesso a água potável.
A dieta tradicional de Kiribati, composta por peixe fresco, vegetais de raiz e frutas locais, tem sido substituída por alimentos processados e bebidas açucaradas, devido aos efeitos da globalização e urbanização. Estes produtos, ricos em calorias e pobres em nutrientes, agravam os riscos de saúde. Atualmente, aproximadamente metade da população da região do Pacífico é classificada como com excesso de peso ou obesa, de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC).
Além disso, não se pode olvidar que a obesidade é um dos maiores desafios de saúde pública em Kiribati, aumentando o risco de doenças como diabetes, problemas cardíacos, AVCs e alguns tipos de cancro. O elevado consumo de bebidas açucaradas, combinado com uma dieta pobre em nutrientes, cria um ambiente obesogénico que dificulta a adoção de hábitos saudáveis.
Estes problemas não se restringem a Kiribati. Em outros países insulares do Pacífico, como Tuvalu, Tonga e Palau, e até em comunidades remotas da Austrália, onde o acesso à água potável também é limitado, os padrões de consumo de bebidas açucaradas são semelhantes.
Quais são as soluções possíveis?
Resolver a crise de água potável em Kiribati é essencial para reduzir o consumo de bebidas açucaradas e combater a obesidade. Para o efeito, a implementação de políticas públicas eficazes pode fazer a diferença. Algumas delas são listadas de seguida.
O impacte das alterações climáticas
Embora tais medidas sejam importantes, as alterações climáticas estão a agravar a crise da água potável em Kiribati e a alterar profundamente os hábitos alimentares. O aumento do nível do mar está a salinizar as fontes de água doce, enquanto as secas frequentes e severas limitam ainda mais os recursos hídricos. Estes fatores não só dificultam o acesso à água potável, como reforçam a dependência de alternativas prejudiciais à saúde.
A tentativa de abordar simultaneamente a insegurança hídrica e a obesidade em Kiribati devem dedicar os policy makers à criação de soluções sustentáveis que melhorem a saúde pública e aumentem a resiliência face às alterações climáticas.
O investimento em infraestruturas de água potável e a promoção de políticas de saúde pública podem reduzir o consumo de bebidas açucaradas e contribuir para o desenvolvimento socioeconómico de Kiribati e de outros pequenos estados insulares.
Referência da notícia
Levasseur, P., Rouly, S., & Seetahul, S. (2024). Water insecurity and purchases of soft and sweet beverages: a case study in the obesogenic context of the Pacific Islands. Journal of the Asia Pacific Economy, 1-18.https://doi.org/10.1080/13547860.2024.2424652