A erupção de Tonga está a ajudar os cientistas a perceber Marte: como?
Os investigadores da NASA estão a estudar a invulgar explosão do vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Haʻapai para tentarem compreender as erupções no planeta vermelho. Saiba mais aqui!
A invulgar explosão do vulcão de Hunga Tonga - que foi calculada em mais de 500 vezes a força da bomba atómica lançada sobre Hiroshima, Japão, em 1945 - está a oferecer aos investigadores uma rara oportunidade de estudar a forma como a água e a lava interagem.
Hunga Tonga-Hunga Haʻapai e a relação com Marte
A ilha vulcânica, que começou a formar-se a partir de cinza e lava expulsa de um vulcão submarino no início de 2015, despertou o interesse de investigadores incluindo James Garvin, cientista chefe do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, em Greenbelt, Maryland, devido à sua semelhança com estruturas em Marte e possivelmente, também, em Vénus. "Normalmente não vemos a formação de ilhas", explica Garvin, mas esta ofereceu "um lugar na primeira fila".
As ilhas vulcânicas têm uma duração de apenas meses, normalmente, antes de serem erodidas. Mas Hunga Tonga-Hunga Haʻapai sobreviveu durante anos, permitindo à equipa de Garvin utilizar observações de satélite e levantamentos do fundo do mar para estudar como tais ilhas se formam, desgastam e persistem.
Os investigadores quiseram usar este conhecimento para compreender como pequenos vulcões cónicos encontrados em Marte podem ter-se formado na presença de água, há milhares de milhões de anos.
As erupções submarinas diferem significativamente das que ocorrem em terra, e podem produzir diferentes tipos de relevo. A presença de grandes quantidades de água do mar pode tornar as explosões mais violentas, ao mesmo tempo que arrefece rapidamente a lava e restringe a quantidade de gás emitida a partir dela.
Pensa-se que muitos vulcões em Marte entraram em erupção com fluxos constantes de lava, mas "alguns poderiam ter sido explosivos, como Hunga Tonga-Hunga Haʻapai", diz Joseph Michalski, um cientista da Universidade de Hong Kong.
O ambiente marinho também imita alguns aspetos dos cenários de baixa gravidade em pequenos planetas como Marte e "pode lançar uma luz sobre as características marcianas que se formaram em menor gravidade", acrescenta.
O que resta da ilha
A violenta explosão deste vulcão foi precedida por uma série de pequenas erupções que começaram em dezembro, o que aumentou a dimensão da ilha. Isso entusiasmou a equipa de Garvin. Os investigadores estavam em vias de apresentar um trabalho que descrevia a lenta erosão da ilha e um modelo teórico para o que a torna tão estável – no entanto este ficou por terra, aquando a explosão - afirmou Garvin.
Equipas de todo o mundo estão agora a monitorizar a ilha usando satélites óticos, radares e laser para medir o que resta. O instrumento de investigação da Estação Espacial Internacional, Global Ecosystem Dynamics Investigation, também está a recolher dados.
A grande maioria da ilha desapareceu, frisou Daniel Slayback, um geógrafo do Goddard Space Flight Center, que visitou Hunga Tonga-Hunga Haʻapai. "É um pouco chocante de ver", diz ele.
Garvin tem esperança que a câmara gigante de magma nas profundezas da crosta terrestre que formou Hunga Tonga-Hunga Haʻapai acabará por criar outra ilha para os investigadores estudarem. Se isso acontecer, "vamos medi-la, descrevê-la e construir uma história sobre ela".