A biodiversidade no santuário de águas de Rieselfelder Münster
Uma pérola ecológica brilha no coração da Europa, uma ilha selvagem em plena paisagem criada pelo Homem. Mas esta não é uma reserva natural qualquer. Com origem numa área de águas residuais, tornou-se essencial para as aves migratórias de África, da Ásia e da Europa.
Há um misterioso mundo aquático no noroeste da Alemanha, o santuário de águas de Rieselfelder- Münster. A vasta zona húmida acolhe inúmeras espécies ameaçadas e é hoje reconhecida internacionalmente pela sua notável biodiversidade e fauna. Vista do ar esta paisagem parece um tabuleiro de xadrez de água e caniços, contudo este paraíso selvagem não surgiu naturalmente, foi criado pelo Homem.
Tudo começou na cidade de Münster. No século XIX albergava 60 mil habitantes e, como em muitas cidades da época, as suas águas residuais corriam diretamente para os rios adjacentes produzindo um cheiro nauseabundo e doenças. Para aliviar os rios, há pouco mais de um século, a cidade começou a encaminhar os resíduos para uma rede de condutas. O solo arenoso da charneca vizinha, funcionava como um filtro.
A matéria suspensa ficava à superfície ao passo que a água já limpa se infiltrava na terra. Esta estação natural de tratamento de águas residuais, com uma área superior a 1000 campos de futebol purificava a água de toda a cidade e pelo caminho aconteceu algo mágico e inesperado.
Da paisagem surgiu uma nova zona húmida, atraindo aves aquáticas de todo o mundo. Aqui encontraram refúgio várias espécies, na altura em que outras zonas húmidas da Europa se perdiam para a agricultura e o urbano.
O inesperado refúgio de espécies ameaçadas
O tartaranhão-ruivo-dos-pauis habituado a temperaturas amenas permanece na reserva, contudo, quando começar a arrefecer, os tartaranhões partirão para o sul da Europa ou para África. Há 50 anos esta espécie estava praticamente extinta, mas agora esta espécie prospera num local absolutamente inesperado.
O maçarico de dorso malhado volta da sua casa de inverno a sul do Saara. E como muitas outras aves aquáticas, vai ate Rieselfelder para se fortalecer antes de seguir caminho para zonas de nidificação na Escandinávia e na Rússia. Narceja-Comum e o raro Pilrito-de-bico-comprido também aqui fazem paragem entre as suas extenuantes viagens entre África, o sul da Europa e a Sibéria. Sem estas zonas húmidas interiores, muitas aves migratórias teriam dificuldade em levar as suas deslocações até ao fim.
As restantes aves também são bastante ativas na primavera e muitas são aquelas que agora regressam para nidificar. Nos extensos caniçais há agora raras aves canoras, como o pisco de peito azul, que esteve em risco de extinção na Europa Central.
As cobras de água e as rãs prosperaram também, pois aqui já não correm esgotos por tratar. Agora há um complexo próprio para o efeito mesmo ao lado da reserva. A moderna estação de tratamento de águas residuais de Münster foi inaugurada em 1975, desativando-se a velha rede de esgotos.
O plano original incluía a drenagem dos lagos para dar lugar a uma nova zona industrial, porém a população opôs-se por completo. Os biólogos haviam assistido à transformação da região e pediam um santuário de águas, e com um forte apoio social, os ambientalistas conseguiram salvar esta pequena bolsa natural.
Em vez de desaparecer sob betão, Rieselfelder tornou-se numa reserva mundialmente conhecida para aves pernaltas e aquáticas. Hoje existe água límpida nestes lagos e charcos onde peixes como os esgana-gata podem agora prosperar.
Quando o outono regressa à reserva está na hora das aves migratórias partirem, sentindo-se a agitação por toda a reserva. A paisagem volta a adormecer para despertar com o sol da primavera, nessa altura guiadas pela sua bússola interior, as aves regressarão a esta zona húmida. A história de Rieselfelder mostra-nos como a natureza se adapta. Se deixada em paz, pode reconquistar uma região, criando um paraíso natural tão precioso para as aves migratórias da Europa.