A 21 de julho de 1983 foi registada a temperatura mais fria na Terra, onde?
No inverno de 1983, na Antártida, foi registada a temperatura mais fria na Terra desde que há registos, e, durante várias décadas, os cientistas não conseguiram responder ao porquê deste acontecimento. Agora, já conseguiram desvendar este mistério. Saiba mais aqui!
Cientificamente, todos somos capazes de depreender que a Antártida é o continente mais frio do mundo, uma vez que ao longo de um ano a sua vasta extensão fica quase integralmente congelada. É o continente com clima e vegetação mais uniformizada. O clima polar antártico é caracterizado pelo seu frio extremo, praticamente permanente e bastante seco, apesar das águas oceânicas e da água congelada em abundância no continente.
Quanto à vegetação, esta reduz-se, essencialmente, a musgos e líquenes que integram a tundra antártica – bioma em que a baixa temperatura e as estações de crescimento curtas ou quase inexistentes impedem o desenvolvimento de árvores – apesar de recentes indícios de mudanças nas plantas da sua paisagem, possivelmente desencadeadas pelas alterações climáticas.
Mas apesar de todos estes aspetos e factos acerca da geografia e clima local, não deixa de ser impressionante o valor térmico extremo que foi alcançado a 21 de julho de 1983 na estação de investigação russa de Vostok (Antártida), durante o inverno do hemisfério sul.
Nesse dia, a temperatura registou uma queda acentuada, demonstrada pelos avassaladores -89,2 ºC assinalados pelo termómetro. Esta foi a temperatura mais fria jamais registada no planeta Terra, desde que há registos. Contudo, há cerca de uma década os cientistas finalmente compreenderam porque de repente fez tanto frio naquele local!
Mistério resolvido? As explicações fornecidas pelos cientistas
A razão pela qual o mercúrio teria mergulhado de forma tão acentuada durante um período de 10 dias em julho de 1983, para o valor térmico de -89,2 ºC há muito que escapava aos investigadores científicos. Para colocarmos esta temperatura dentro de contexto, o valor térmico registado foi 54 ºC mais frio do que a média climatológica do inverno local!
Procurando responder a este mistério ocorrido nos confins gelados do planeta, os cientistas do British Antarctic Survey (BAS) aliaram forças com os do Arctic and Antarctic Research Institute (AARI), na Rússia, conseguindo solucionar o “enigma” científico através de um modelo computorizado, desenvolvido para simular a evolução futura do clima da Antártida, em conjunto com mapas meteorológicos e imagens de satélite da área.
Os investigadores conseguiram por fim descobrir que, o ar relativamente quente que normalmente flui sobre o oceano Sul para o planalto antártico alto, quase parou durante este período. Um fluxo de ar frio que circulava nessa altura sobre a estação de Vostok impedia a mistura do ar mais quente de latitudes mais baixas, isolando a estação e originando condições meteorológicas quase ótimas de arrefecimento.
Como se não bastasse isto, a ausência de uma cobertura de nuvens que retém calor e a presença duma camada de pequenas partículas de gelo em suspensão no ar (o famoso pó de diamante), permitiu uma perda extra de calor da superfície gelada, desde o Continente Antártico para o Espaço.
Resultados obtidos pela equipa lembram o quão extrema a Natureza é capaz de ser
Esta equipa de cientistas tem, no centro da sua investigação em geral, o objetivo de distinguir a variabilidade natural das mudanças induzidas pelo homem no clima atmosférico da Terra. E, com o estudo deste “mistério” científico em particular, os investigadores pretendiam perceber porque é que este sistema meteorológico ‘normal’ se desequilibrou de uma maneira tão severa.
Segundo John Turner, um dos membros da equipa do BAS, "As nossas descobertas indicam que foi um acontecimento natural, mas isto é uma lembrança importante de quão extremos os acontecimentos naturais da Terra podem ser e que devemos sempre considerar o potencial de ocorrência de tais anomalias".