70% da população necessitará de ar condicionado para enfrentar o calor
Se o aumento das emissões de gases com efeito de estufa continuar, 70% da população em diversos países necessitará de ar condicionado até 2050. Este balanço é feito por investigadores do Harvard China Project, localizado em Nova Iorque (EUA).
A investigação publicada na revista Energy and Buildings calculou a procura por ar condicionado no futuro, considerando o aumento dos dias de calor extremo em todo o mundo. A equipa de investigadores da Harvard John A. Paulson School of Engineering and Applied Sciences assume que haverá uma capacidade míngua para salvar vidas no futuro, face às instalações de ar condicionado que existem atualmente, nomeadamente em países em desenvolvimento e com uma grande proporção de indivíduos com baixos rendimentos.
De acordo com os limites de emissões identificados no Acordo Climático de Paris e os modelos estatísticos utilizado pelos investigadores da Harvard China Project, entre 40% e 50% da população dos países mais quentes terá a necessidade de adquirir ar condicionado.
O número será ainda mais significativo nos países equatoriais como a Índia ou a Indonésia. O aumento da utilização de ar condicionado é fundamental para milhares de milhões de pessoas, de modo a evitar o desconforto e o agravamento de doenças durante períodos com temperaturas extremas quentes.
Indivíduos jovens e saudáveis não são poupados ao aumento da temperatura
Os investigadores verificaram os dias em que a combinação de temperatura e humidade elevadas (medida simplificada designada de temperatura de bulbo húmido) podiam matar até os mais jovens em poucas horas. Esses eventos extremos ocorrem sobretudo quando a temperatura ou a humidade são tão altas, que torna impossível através da transpiração resfriar o corpo.
De qualquer forma, embora o estudo se tenha concentrado em dias cuja temperatura do bulbo húmido se encontrava acima do limite em que é fatal para a maioria das pessoas, os investigadores alertaram que abaixo desse limiar pode ser também desconfortável e perigoso o suficiente, o que exacerba a necessidade de se garantir o arrefecimento com a utilização de ar condicionado, designadamente junto das populações mais vulneráveis.
Isto denota que há uma subestimação da quantidade de ares condicionados necessários para que as pessoas mantenham o seu equilíbrio térmico, mesmo perante cenários bem diferentes das emissões de gases com efeito de estufa.
Futuros possíveis
Os investigadores analisaram dois futuros possíveis: um relativamente à emissão de gases com efeito de estufa a aumentar significativamente em relação à média atual e um futuro intermédio em que as emissões são reduzidas, mas não totalmente anuladas.
Perante altas emissões, os investigadores estimaram que 99% da população urbana na Índia e na Indonésia necessitariam de ar condicionado. Para a Alemanha, a necessidade de ar condicionado foi estimada em 92% perante as situações de calor extremo. O valor nos Estados Unidos da América foi calculado em 96%.
Em países de altos rendimentos, encontram-se mais bem preparados para um futuro com mais ondas de calor. Nos Estados Unidos, 90% da população tem acesso a ar condicionado, em comparação com os 9% na Indonésia ou apenas 5% na Índia.
Em Portugal, 38% residem em casas que não são confortavelmente frescas e 98% não têm acesso a ar condicionado, o que nos acaba por colocar numa posição muito frágil também.
O acesso à energia poderá ser colocado à prova
Perante um cenário de redução das emissões, a Índia e a Indonésia necessitarão de ar condicionado para 92% e 96% da população urbana. As ondas de calor, cada vez mais frequentes, irão colocar à prova o acesso à energia em todo o mundo. Se a procura do ar condicionado aumentar, a sobrecarga da rede pode levar a situações de quebra de energia.
Outras estratégias podem moderar os efeitos da procura da energia elétrica como o uso de desumidificadores, que consomem menos energia do que o ar condicionado. A par disso, outras soluções coletivas, como abrigos climáticos, podem ser úteis para reduzir os efeitos do uso individual de sistemas de refrigeração nas habitações, tal como já acontece em Barcelona, Paris ou Nova Iorque.
Independentemente da solução apontada, o calor extremo não é apenas um problema para as gerações futuras, mas algo que já está a ter repercussões na vida das pessoas.