Vida extraterrestre: cientistas publicam os indícios mais fortes já descobertos de vida fora da Terra

Astrónomos detetaram sinais promissores de vida extraterrestre no exoplaneta K2-18. No nosso planeta, as moléculas identificadas são produzidas apenas por organismos vivos.

Ilustração do planeta K2-18b.
O planeta K2-18b é 8,6 vezes mais massivo do que a Terra, 2,6 vezes maior, e fica a 124 anos-luz de distância de nós, na constelação de Leão. K2-18b está na chamada zona habitável.

Uma descoberta incrível está a colocar cientistas e astrónomos em estado de êxtase. Nesta última quarta-feira, 16 de abril, foi publicado um estudo que apresenta os sinais mais promissores já detetados de uma possível bioassinatura fora do Sistema Solar.

Por outras palavras, cientistas descobriram os sinais mais fortes de vida extraterrestre já obtidos. O planeta está localizado na "zona habitável" - região em redor de uma estrela onde as condições são favoráveis para a existência de água líquida, essencial para a vida.

Utilizando dados do Telescópio Espacial James Webb (JWST), uma equipa liderada pela Universidade de Cambridge identificou impressões químicas de dimetil sulfeto (DMS) e/ou dissulfeto de dimetila (DMDS) na atmosfera do exoplaneta K2-18b, que orbita a sua estrela exatamente na zona habitável - a mesma posição em que a Terra se encontra em relação ao Sol.

Espectro obtido no exoplaneta K2-18b usando o espectrógrafo JWST MIRI.
Espectro obtido no exoplaneta K2-18b, com recurso ao JWST MIRI, sugere a existência de moléculas DMS e DMDS, sinais de vida oceânica extraterrestre (imagem: N. Madhusudhan et al.)

Na Terra, DMS e DMDS são produzidos exclusivamente por organismos vivos, especialmente microrganismos marinhos como o fitoplâncton. Embora seja possível que algum processo químico ainda desconhecido esteja por detrás da presença destas moléculas no planeta K2-18b, os resultados representam a evidência mais forte já obtida da existência de vida noutros planetas.

Resultados ainda precisam de confirmação

As observações atingiram um nível de significância estatística de três sigma – ou seja, existe uma probabilidade de apenas 0,3% de terem ocorrido por acaso. Embora seja estatisticamente significativo, descobertas extraordinárias requerem provas extraordinárias.

Por isso, uma descoberta científica exige um patamar de cinco sigma (probabilidade inferior a 0,00006%), muito mais rígida do que a obtida no estudo. Isto significa que os resultados ainda não provam a existência de vida extraterrestre, e os próprios cientistas estão a ter o cuidado de tratar os seus resultados com um bom grau de ceticismo.

Microrganismos marinhos, fitoplâncton.
As moléculas de DMS e DMDS são produzidas por microrganismos marinhos como o fitoplâncton.

Por isso, os autores do estudo alertam que, embora estes compostos sejam considerados potenciais bioassinaturas, ainda é cedo para conclusões definitivas. É possível que processos químicos não biológicos e ainda não compreendidos estejam envolvidos na formação destes compostos no planeta.

Os cientistas esperam agora realizar mais observações com o JWST – entre 16 e 24 horas adicionais – que podem ajudar a confirmar os resultados e alcançar o tão esperado nível de cinco sigma para a descoberta.

Observações anteriores já tinham detetado metano e dióxido de carbono na atmosfera do planeta – um possível indicativo de que K2-18b seja um mundo do tipo “Hycean” - outro nome para planetas coberto por oceanos e envoltos por uma atmosfera rica em hidrogénio, semelhante à Terra.

A nova deteção, feita com um instrumento diferente (MIRI, que opera no infravermelho médio), reforça esta hipótese, sugerindo também a presença de DMS ou DMDS em níveis milhares de vezes maiores do que os da Terra.

Este momento específico pode ser o ponto de viragem para nós. De repente, o Universo ganhou vida, e a questão fundamental sobre estarmos sozinhos ou não finalmente começou a ser respondida. Mas se isto é de facto verdade, só o futuro nos poderá dizer.

Referência da notícia

New Constraints on DMS and DMDS in the Atmosphere of K2-18b from JWST MIRI. The Astrophysical Journal Letters (2025). Nikku Madhusudhan et al.