A ciência não vai parar de procurar vida em Marte: Tecnologia laser desenvolvida para detetar fósseis microbianos
Utilizando uma técnica de ablação por laser, a NASA pretende estudar os depósitos de gesso em Marte em busca de vida bacteriana antiga. O dispositivo tem como objetivo procurar depósitos de gesso que possam ter preservado sinais de vida antiga.

Uma equipa de astrónomos criou um espetrómetro de massa por ablação a laser para detetar vida microbiana, que vaporiza amostras de gesso, permitindo analisar a sua composição. Este gesso pode ter compostos orgânicos presos na sua estrutura cristalina, o que o torna um mineral essencial para a investigação astrobiológica.
Espera-se que, com este dispositivo, seja possível detetar restos microbianos preservados no planeta vermelho e provar a existência de vida. Testado na Terra, o laser tem também um grande potencial para futuras missões espaciais, uma vez que a NASA planeia utilizá-lo em futuras expedições a Marte, onde os rovers analisarão os minerais marcianos.
A capacidade de detetar sinais de vida microbiana sem contacto direto com a amostra poderá revolucionar a procura de vida no espaço. Embora já existam tecnologias semelhantes, este dispositivo oferece uma elevada precisão e pode funcionar em condições extremas, o que o torna adequado para o ambiente marciano. Além disso, poderá ser aplicado na exploração de outros planetas e luas do sistema solar, alargando a procura de vida a novos locais.

O papel do gesso na preservação da vida microbiana
A equipa de investigação, liderada pelo estudante de doutoramento Youcef Sellam, do Instituto de Física da Universidade de Berna, utilizou um protótipo de espetrómetro de massa de ionização por ablação a laser para detetar com êxito bioassinaturas em minerais de sulfato. A equipa concentrou-se em amostras de gesso da pedreira de Sidi Boutbal, na Argélia, devido à sua semelhança com as condições marcianas do passado.
O gesso atua como uma cápsula do tempo, aprisionando moléculas orgânicas que se podem ter formado em condições de água líquida. Na Terra, descobriu-se que o gesso preserva compostos orgânicos durante milhões de anos, o que faz dele um mineral fundamental para a astrobiologia. A sua rápida formação aprisiona os microrganismos antes da decomposição, preservando estruturas biológicas cruciais e bioassinaturas químicas.
Os investigadores analisaram as amostras de gesso em busca de características distintivas que indicassem atividade microbiana passada. Estas incluíam estruturas morfológicas, como filamentos sinuosos, e provas químicas, como material carbonoso, dolomite, argila e pirite.
Funcionamento do instrumento
O espectrómetro de massa de ablação por laser utiliza um laser para vaporizar pequenas porções de amostras, permitindo que a sua composição química seja analisada em tempo real. O aparelho mede os fragmentos resultantes e analisa-os para identificar compostos orgânicos, o que é essencial na procura de vida extraterrestre. Destaca-se pela sua precisão, capaz de analisar amostras microscópicas sem as danificar.
Esta tecnologia é ideal para ambientes onde a amostra deve permanecer intacta, como na superfície de Marte. Além disso, a sua capacidade de efetuar análises rápidas e detalhadas torna-a útil em missões espaciais, onde o tempo e os recursos são limitados.

A ablação por laser permite que o espectrómetro detete uma grande variedade de compostos sem perturbar a amostra. Esta capacidade é essencial na análise de materiais de outros planetas, como o gesso marciano, uma vez que os vestígios de vida microbiana podem ser microscópicos. Para além de detetar compostos orgânicos, é sensível às diferenças entre materiais biológicos e não biológicos. Esta característica é crucial para diferenciar entre sinais de vida e processos geológicos em Marte. Assim, o dispositivo pode ser uma ferramenta decisiva para confirmar ou excluir a presença de vida microbiana.
Possíveis aplicações
Os cientistas suspeitam que Marte pode ter preservado compostos orgânicos e possíveis vestígios de vida. Durante as épocas em que o planeta tinha água líquida, o gesso era formado pela evaporação da água, o que poderia ter aprisionado microorganismos e compostos químicos associados à vida. Este mineral não só ajuda a procurar sinais de vida, como também fornece informações sobre o clima antigo. Grandes depósitos de gesso identificados por missões anteriores sugerem que Marte pode ter tido um clima mais quente e húmido, adequado à vida.
A análise destes minerais pode confirmar essa hipótese. À medida que as tecnologias são aperfeiçoadas, é provável que sejam desenvolvidos dispositivos mais avançados com maiores capacidades de análise. Os futuros rovers e sondas espaciais poderão incorporar espectrómetros laser mais potentes para estudar em pormenor os componentes químicos de planetas e luas distantes, melhorando a compreensão da vida.
Este dispositivo representa um grande avanço para a astrobiologia. A sua utilização em Marte e noutros corpos celestes poderá permitir a deteção de sinais de vida microbiana sem a necessidade de trazer amostras para a Terra, o que representa um passo importante para responder à questão de saber se estamos sozinhos no Universo.