Verão 2024: incêndios e vulcanismo entre os eventos mais significativos para a composição atmosférica, revela o CAMS

Desde os incêndios no Canadá aos elevados níveis de ozono na Europa durante os Jogos Olímpicos de Paris, houve vários eventos significativos relacionados com a composição atmosférica durante o verão boreal (junho-julho-agosto) de 2024. Eis os maiores destaques, segundo o CAMS.

incêndios monitorização
O CAMS é um dos seis serviços que constituem o Copernicus, o programa de observação da Terra da União Europeia que analisa o nosso planeta e o seu ambiente. O CAMS é implementado pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF) em nome da Comissão Europeia.

O Serviço de Monitorização da Atmosfera do Copernicus (CAMS, siglas em inglês) acompanha regularmente indicadores-chave da composição da atmosfera em todo o mundo, incluindo a qualidade do ar à superfície na Europa, as emissões de fumo de incêndios florestais e as concentrações globais de poluentes atmosféricos e gases com efeito de estufa, entre outros.

Segundo o CAMS, “estes dados baseiam-se num sistema de modelização operacional único que assimila observações da Terra e medições de redes in-situ num quadro rigoroso de garantia de qualidade” e o boletim do verão boreal diz respeito ao eventos relacionados com a composição atmosférica que tiveram maior destaque durante os meses de junho, julho e agosto de 2024 no hemisfério norte.

Incêndios florestais no Canadá produziram emissões notáveis de carbono e de material particulado

Outro verão extremo de incêndios florestais foi vivido em 2024 na América do Norte. Só ficou atrás de 2023 em termos de emissões totais estimadas. Muitos incêndios florestais ocorreram durante grande partes dos meses de julho e agosto, tanto no Canadá como na parte ocidental dos Estados Unidos.

incêndios América do Norte América do Sul
Apesar de uma grande parte da América do Sul não se situar no hemisfério norte, o CAMS destaca também a época de incêndios neste continente, em particular com as queimadas intensas e generalizadas na Bolívia e no Brasil, incluindo a região do Pantanal. No mapa vemos a profundidade ótica de aerossóis emitida pelos incêndios na América do Norte e que viajaram até à Europa. Fonte: CAMS - ECMWF

Como resultado, os Territórios do Noroeste do Canadá, Saskatchewan e Manitobaregistaram as emissões de carbono de incêndios florestais mais elevadas para agosto no conjunto de dados de emissões de incêndios do GFAS (CAMS).

Dióxido de enxofre da erupção vulcânica na Península de Reykjanes, Islândia, chegou a outros países europeus

A atividade vulcânica na Península de Reykjanes, na Islândia, tem estado bastante ativa ao longo deste ano. De acordo com o CAMS, este verão, foram registadas erupções em julho e agosto, com o número total de erupções nesta região a ser elevado para seis em 2024.

dióxido de enxofre vulcanismo Islândia
Previsão CAMS do rácio de mistura do volume de dióxido de enxofre a 1000 hPa válida para o dia 27 de agosto de 2024. Fonte: CAMS - ECMWF

A erupção de 22 de agosto libertou uma pluma que atingiu o continente europeu em 26 de agosto e várias estações de monitorização na França, na Bélgica e na Alemanha detetaram um indicador de concentrações de dióxido de enxofre (SO2) ao nível do solo. As concentrações eram suficientemente elevadas para começarem a representar um risco potencial para a saúde humana.

Episódios quase contínuos de poeiras do Saara afetaram a Europa e a América

Foram observadas quantidades significativas de poeiras do deserto do Saara a atravessar o Atlântico Norte em direção à região das Caraíbas, dando continuidade a uma dinâmica observada durante um longo período de tempo.

A informação do CAMS sobre a profundidade óptica de aerossol (AOD) mostra que houve intrusões regulares de poeira do Saara a atravessar o Oceano Atlântico durante os meses de junho, julho e agosto.

poeiras do Saara
Houve episódios regulares de intrusões de poeiras do Saara sobre o Oceano Atlântico nos meses de junho, julho e agosto. Este fator poderá ter contribuído para a inibição da formação de ciclones tropicais na bacia do Atlântico. Fonte: CAMS - ECMWF

De acordo com Francisco Martín León, meteorologista e especialista da Meteored, estes impulsos regulares de poeiras do Saara sobre o Atlântico no passado trimestre podem ser uma das razões pelas quais a temporada de furacões do Atlântico 2024 tem estado tão pouco ativa.

Na notícia de Martín León publicada ontem no tempo.pt, pode ler-se que “as ondas tropicais têm vindo a emergir de África sobre águas muito mais frias e numa atmosfera carregada de poeira, o que contraria o seu desenvolvimento. Com uma trajetória mais a norte, estas perturbações atraem mais ar seco para o coração do corredor de furacões, sufocando a atividade tempestuosa".

Os níveis elevados de ozono durante os Jogos Olímpicos afetaram a qualidade do ar na Europa

Os níveis de ozono à superfície mantiveram-se dentro dos limites regulamentares de 120 µg/m3 neste verão. Porém, o CAMS revela que observou três períodos específicos em que as condições foram favoráveis ao aumento das concentrações de ozono: fim do mês de junho e os períodos entre 17 e 20 de julho e entre 29 de julho e 4 de agosto, coincidentes com a celebração dos Jogos Olímpicos em Paris.

ozono europa
Durante o período em que os Jogos Olímpicos de Paris decorreram, as condições foram favoráveis ao aumento das concentrações de ozono. Fonte: CAMS - ECMWF

Com o expectável aumento das temperaturas no verão - estação mais quente do ano - um dos riscos ambientais que normalmente está associado à época estival é a diminuição da qualidade do ar, particularmente associada a concentrações mais elevadas de ozono ao nível do solo.

Referência da notícia:

Copernicus ECMWF. CAMS on Air: Boreal summer 2024. September 2024.