Uma floresta invisível de algas prospera à medida que o oceano aquece

Uma “floresta invisível” de fitoplâncton está a prosperar numa parte do oceano Atlântico, que está a aquecer, segundo uma nova investigação. Saiba mais aqui!

sargaço; imagem ilustrativa
O fitoplâncton é um pequeno organismo flutuante que assegura cerca de metade da “produção primária” do planeta (formação de células vivas através da fotossíntese).

Um novo estudo, realizado pela Universidade de Exeter, examinou o fitoplâncton à superfície do oceano e à subsuperfície - uma camada distinta de água por baixo - para ver como a variabilidade climática os está a afetar. Os resultados, publicados na revista Nature Climate Change, mostram que estas duas comunidades estão a reagir de forma diferente.

Durante a última década, a biomassa total (matéria viva) do fitoplâncton subsuperficial aumentou em resposta ao aquecimento. Entretanto, o fitoplâncton superficial tem agora menos clorofila - o que o torna menos verde - mas, de facto, a biomassa total manteve-se estável.

As alterações físicas e químicas no oceano estão a modificar a distribuição, a fenologia, a abundância e a composição do fitoplâncton, com impacto nos níveis tróficos superiores e na exportação biológica de carbono.

O aquecimento no Mar dos Sargaços e a consequência para o fitoplâncton

Com base em 33 anos de dados (entre 1990 e 2022) do Bermuda Atlantic Time-series Study (BATS) no Mar dos Sargaços, os resultados também sugerem que a profundidade da camada mista superficial (região de turbulência à superfície do oceano) diminuiu à medida que o oceano aqueceu rapidamente na última década.

O fitoplâncton de subsuperfície forma frequentemente máximos de clorofila em profundidade ou máximos de clorofila em subsuperfície.

Este estudo sugere que o aquecimento do oceano superior está a ter impacto na estrutura vertical do fitoplâncton em regiões sazonalmente estratificadas e apontam para a necessidade de uma melhor monitorização a profundidades inferiores às capacidades de observação por satélite (que é superficial).

fitoplâncton
As algas que compõem o fitoplâncton são consideradas plantas inferiores. Isso porque não apresentam uma estrutura complexa mas realizam fotossíntese.

O Dr. Johannes Viljoen, do Departamento de Ciências da Terra e do Ambiente do Campus de Penryn, na Cornualha, em Exeter, afirma que “é importante compreender estas tendências, pois o fitoplâncton é a base da cadeia alimentar marinha e desempenha um papel fundamental na remoção do dióxido de carbono da atmosfera”.

A resposta do fitoplâncton ao aquecimento do oceano varia conforme a profundidade

O período de 2011 a 2022 foi caracterizado por um rápido aquecimento e um aumento da estratificação. Durante este período, a temperatura da superfície do mar apresentou uma tendência de aumento três vezes maior do que nos anos anteriores (1990-2010), o que correspondeu a um aumento de cerca de 0,6 °C em apenas 12 anos (2011-2022).

Os cientistas sugerem que, na última década, a biomassa do fitoplâncton de subsuperfície se dissociou da comunidade de superfície em resposta ao rápido aquecimento e ao aumento da estratificação.

Desta forma, as descobertas desta equipa revelam que o fitoplâncton de vida profunda, que se desenvolve em condições de pouca luz, responde de forma diferente ao aquecimento dos oceanos e à variabilidade climática em comparação com o fitoplâncton de superfície.

“Normalmente, baseamo-nos em observações por satélite para monitorizar o fitoplâncton, mas a subsuperfície está oculta à vista dos satélites. O nosso estudo realça as limitações das observações por satélite e sublinha a necessidade urgente de melhorar a monitorização global do fitoplâncton abaixo do que os satélites conseguem ver.”

Bob Brewin, coautor do estudo.

Em forma de conclusão, este estudo refere também que a comunidade subsuperficial, pouco estudada, situada abaixo da camada mista e oculta à vista dos satélites, é importante no controlo da variabilidade da coluna integrada fitoplâncton-carbono, em regiões como o Mar dos Sargaços.

Esta comunidade subsuperficial é também apoiada por novos nutrientes que entram no sistema e pode contribuir consideravelmente para o aumento da produtividade e da produção de exportação.

Considerando a sua posição na coluna de água, espacialmente mais próxima das migrações verticais diárias do zooplâncton, esta comunidade subsuperficial pode sustentar vias tróficas no ecossistema marinho diferentes das da comunidade da camada mista superficial, com implicações na produção secundária, na transferência de energia trófica e nas pescas.

Os autores sublinham, ainda, a importância de estudar esta comunidade em maior pormenor de forma a melhorar a compreensão atual dos ciclos biogeoquímicos oceânicos e das alterações climáticas.


Referência da notícia:

Viljoen, J.J., Sun, X. & Brewin, R.J.W. Climate variability shifts the vertical structure of phytoplankton in the Sargasso Sea. Nature Climate Change (2024).