Um segredo bem guardado: descubra a igreja escondida no coração de Lisboa em que ninguém repara

Em plena baixa lisboeta, há uma joia que passa despercebida à maioria. Pequena e discreta, esta igreja guarda uma história fascinante e detalhes únicos. "Basta passar pela porta para se surpreender.”

Baixa de Lisboa
A baixa de Lisboa esconde um segredo que merece ser descoberto. Foto: Unsplash

Entre 504000 moradores e 4,5 milhões de turistas que a capital portuguesa recebe todos os anos, é difícil de acreditar que Lisboa ainda guarda segredos que poucos conhecem. Mas a verdade é que ainda existem locais desconhecidos à maioria — e vamos revelar um deles.

A Igreja de Nossa Senhora da Oliveira é um verdadeiro tesouro escondido na baixa agitada de Lisboa. Este é daqueles que passam despercebidos até para muitos lisboetas!

Inserida num edifício igual a tantos outros da rua de São Julião, a sua fachada é de tal modo discreta que podemos passar todos os dias à sua porta sem nunca reparar que ali se encontra uma igreja.

“Um simples frontão triangular, encimado por uma cruz, que encerra um ramo de oliveira em bronze, uma placa em pedra com o nome gravado e uma pequena torre sineira assinalam a existência de um local de culto”, lê-se no site ‘Get Lisbon’.

Um segredo que merece ser partilhado

Pequena, discreta e charmosa, a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira está quase camuflada entre as lojas, restaurantes e o vaivém de turistas. Mas, depois de encontrá-la, não dá para não se encantar. Basta passar pela porta para se surpreender com esta pequena joia.

Com uma fachada singela, de pedra clara, a igreja tem as suas origens no século XIII. Mesmo tendo passado por diversas modificações ao longo do tempo, ainda preserva um clima de simplicidade e serenidade, que é raro de encontrar num local tão agitado como a baixa de Lisboa.

O interior é igualmente acolhedor, com uma decoração discreta, mas com alguns detalhes que valem a atenção, como o altar dourado e algumas peças de arte sacra.

Atenção, não estamos a falar de uma igreja gigantesca ou cheia de ornamentos barrocos como a Sé de Lisboa, mas é justamente esta modéstia que lhe dá charme e singularidade.

Só para ter uma noção, no Google Maps, este local tem apenas 56 críticas, mas uma pontuação total de 4,6 estrelas em 5 — o que já pode dizer muito sobre ele.

Muita beleza arquitetónica. Local com história. Aconselho uma visita”, diz um dos visitantes. “Do exterior passa completamente despercebida. Porém, basta passar pela porta para se surpreender”, diz outro. “O que encontrei em fotos fica aquém do que contemplei no próprio local. É digna de ser visitada”, garante um terceiro.

Uma história controversa

A própria história da construção da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira é interessante, apesar de não ser unânime. Talvez a incerteza da data de construção (entre os séculos XIII e XIV), para começar, lhe atribua parte dessa característica.

Certo é que a sua fundação deve-se “a Pedro Esteves, um rico mercador de Guimarães, e à sua esposa Clara Geraldes, cujas sepulturas ali foram encontradas”, assegura o site ‘Get Lisbon’.

O rico casal terá sido responsável pela edificação de uma ermida de devoção a Nossa Senhora e a Santo Elói, patrono dos joalheiros e ourives, junto à antiga Igreja de São Julião. Consta que a proximidade de uma velha oliveira esteja na origem do nome, Senhora da Oliveira ou da Oliveirinha, mas a existência de um culto antigo à Senhora da Oliveira em Guimarães parece-nos ser mais plausível.”

Mais tarde, a irmandade dos confeiteiros adquiriu o terreno e a ermida, então em ruínas, tendo procedido à sua reedificação. Contudo, esta veio a ser totalmente destruída no terramoto de 1755.

Em 1762 foi reconstruída, “nem mais, nem menos que no local onde se encontra hoje”, embora subordinada ao plano de urbanização de Manuel da Maia. “Este facto revela-nos a importância e a influência que a irmandade teria que ter para conseguir reconstruir o seu espaço de culto no mesmo local integrado na nova malha urbana da cidade reconstruída.”

Igreja de Nossa Senhora da Oliveira
Pode passar despercebida. Foto: Instagram

E, sim, hoje, esta igreja de uma só nave retangular, modesta nas suas dimensões, podia não passar de um pequeno local de culto privado, pouco relevante para quem não conhece a sua história. Mas, sugerimos-lhe que preste bem atenção ao conjunto de painéis de azulejos que ali vai encontrar. É que tratam-se de azulejos da Real Fábrica de Louça do Rato, uma fábrica fundada pelo Marquês de Pombal, em 1767, que teve grande relevância no panorama das artes decorativas.

Aproveite também para analisar o altar onde se encontra a padroeira Senhora da Oliveira. “Da extinta Igreja de São Julião veio a imagem de Rita de Cássia, santa de grande devoção popular que encontramos do lado esquerdo, em contraponto com um Sagrado Coração de Jesus.”

E no teto? A pintura de quadratura com representação da Virgem em Glória ao centro, que foi elaborada por um autor desconhecido.

“A Igreja de Nossa Senhora da Oliveira dispõe de coro alto e púlpito em madeira trabalhada e dourada e efeitos de marmoreados em pintura fingidora nas madeiras e estuques completam a decoração total deste peculiar espaço.”

Outro fator que torna a visita à Igreja de Nossa Senhora da Oliveira interessante é saber o que se diz sobre ela. Sim, porque há quem diga que esta igreja estava ligada aos ritos esotéricos dos maçons, e que aqui se abriram passagens secretas. Se é verdade ou não, não sabemos, mas imaginar tudo o que estas paredes escondem, acrescenta um toque especial à experiência.

Já está com vontade de conhecê-la? Apesar de a Sacristia, por cima, estar fechada e só poder ser visitada segundo agendamento, a Igreja encontra-se, geralmente, aberta pela manhã.

Não perca tempo: descubra esta joia escondida da capital. Embora não seja o destino mais turístico da cidade, a igreja oferece um pequeno refúgio de tranquilidade, longe da confusão habitual da baixa. É o tipo de lugar onde dá para entrar por uns minutos, respirar fundo e sentir um pouco da história e da espiritualidade do lugar, enquanto se admira os detalhes arquitetónicos.