Um recente estudo científico apresenta os fatores alarmantes da desflorestação da Floresta Atlântica do Brasil
Um estudo recente examina os padrões espaciais e temporais da desflorestação da floresta atlântica do Brasil, considerando a distribuição geográfica, o tamanho, a propriedade da terra e o uso da terra após a desflorestação.
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A floresta atlântica do Brasil ocupava uma área de 1.110.182 Km², o que correspondia a 15% do território, mas atualmente a sua área reduziu drasticamente devido à desflorestação realizada pelo homem, com consequências para a região e para o globo em geral.
Análise da desflorestação da floresta atlântica do Brasil
A floresta atlântica do Brasil, estende-se ao longo da costa, banhada pelo Oceano Atlântico, vai do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, e engloba um diversificado conjunto de ecossistemas florestais com estrutura e composições bastante diferenciadas, acompanhando as características climáticas da região onde ocorre.
A Floresta Atlântica está entre as cinco principais regiões mundiais de biodiversidade e abriga cerca de 70% da população brasileira, para a qual contribui com múltiplos benefícios, como a mitigação das mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade e da água.
Segundo o estudo, o uso da terra para a pecuária, a exploração florestal para carvão e a plantação de soja foram as atividades económicas que mais contribuíram para a devastação da Floresta Atlântica na última década.
Os 14.401 polígonos de desflorestação, de perda de floresta madura, detetados estavam espalhados ao longo dos 17 estados brasileiros que contêm Floresta Atlântica. Somaram 186.290 ha, representando uma perda de 1,08%. A média anual de desflorestação foi de 18.629 ha, com o maior valor anual de 30.645 ha ocorrendo em 2015-2016 e o menor em 12.824 ha durante 2017-2018.
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A área média dos polígonos foi de 13 ha, mas com grande variabilidade, variando entre 3 e mais de 50 ha. Embora houvesse polígonos até 5.712 ha, 97% dos polígonos eram inferiores a 51 ha, e quase metade dos polígonos (48%) eram inferiores a 6 ha, contribuindo para 16% do total da desflorestação. Cerca de metade da área total desmatada (86.347 ha) ocorreu em fragmentos inferiores a 18 ha.
Estas perdas ocorreram principalmente em manchas de pequeno porte, em terras privadas para expansão agrícola, mas também em áreas protegidas e terras indígenas.
De referir que esta floresta tem proteção restrita e só pode ser desmatada em casos excecionais de utilidade pública.
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Através deste estudo, foram reveladas as características espaciais, a dinâmica temporal e os fatores determinantes de 14.401 manchas de desflorestação de florestas maduras e identificados dois focos de desflorestação distintos (norte e sul), mostrando que as taxas de desflorestação permaneceram estáveis, principalmente através de pequenas clareiras em propriedades privadas.
Ao identificar estes padrões de desflorestação, os autores esperam fornecer bases para melhorar as políticas, com o intuito de anular por completo a desflorestação desta região única de biodiversidade.
Consequências da desflorestação
A perda de florestas tropicais mantém-se a um nível elevado. Esta perda resulta também na destruição de habitats, muitas espécies correm o risco de extinção, comprometendo a estabilidade dos ecossistemas naturais. Estes são fatores determinantes da crise global do clima e da biodiversidade que ameaça a humanidade.
É de assinalar que a floresta no solo tem um papel significativo na quantidade e na qualidade da água que abastece as cidades.
Além das consequências nefastas para a região e população local, a desflorestação tem um impacto negativo na mitigação das alterações climáticas, na medida em que as árvores ajudam a regular o clima, absorvendo o CO2 presente na atmosfera. Quando são abatidas, esse efeito benéfico desaparece e o carbono armazenado nas árvores é libertado para a atmosfera, reforçando o efeito de estufa.
A desflorestação da Floresta Atlântica do Brasil está concentrada em dois pontos críticos que envolvem diferentes atores agrícolas e processos de alteração do uso do solo. Este padrão pode levar à extinção de espécies, à perda de bens e serviços exercidos por este ecossistema, que beneficiam o planeta e contribuem para a sua preservação, e ao enfraquecimento da capacidade de resposta às alterações climáticas.
Há uma série de “serviços ambientais” prestados pela floresta em pé que, se interrompidos, teriam impacto em toda a sociedade, sobretudo nos mais pobres, que são os mais afetados pelo aumento dos preços dos alimentos, pelas inundações e pela crise climática.
Referência da notícia:
Alarming patterns of mature forest loss in the Brazilian Atlantic Forest. Research Square, Article, LUIS GUEDES PINTO, Silvana Amaral, Jean Paul Metzger et al.