Tribunal de Contas Europeu critica aplicação dos apoios da PAC para o ambiente e clima

O Tribunal de Contas Europeu avaliou os planos estratégicos da PAC para 2023-2027 dos Estados-membros e concluiu que “não correspondem às ambições da UE em matéria de clima e ambiente”. É preciso “políticas a longo prazo”, recomenda o TCE.

Agricultura biológica
Após análise dos planos estratégicos da PAC (PEPAC 2023-2027) dos 27 países, o Tribunal de Contas Europeu diz que eles “não correspondem às ambições da UE em matéria de clima e ambiente”.

A Política Agrícola Comum (PAC) é “um domínio de intervenção fundamental da União Europeia”. Representa 378,5 mil milhões de euros - 31% - do orçamento da UE para 2021-2027.

Além de garantir um apoio justo ao rendimento dos agricultores, a segurança alimentar e a subsistência das zonas rurais, a PAC tem como função “apoiar e reforçar a proteção do ambiente e a ação climática, incluindo a biodiversidade”. Os novos regulamentos da PAC visam, justamente, aumentar a ambição ambiental e climática de todos os Estados-membros.

Ora, após análise dos planos estratégicos da PAC (PEPAC 2023-2027) dos 27 países, uma auditoria do Tribunal de Contas Europeu (TCE) até constatou que os PEPAC “são mais ecológicos do que os do período anterior da PAC”. Contudo, eles “não correspondem às ambições da UE em matéria de clima e ambiente”. E não contêm “elementos fundamentais para avaliar o desempenho ecológico”.

O TCE faz notar que o setor agrícola “representa 13,1% do total das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) da UE-27”. “Mais de metade destas emissões provêm do metano emitido pelo setor pecuário, 31% da utilização de fertilizantes e de estrume e 11% de alterações do uso do solo”.

A conclusão é drástica: os objetivos ambientais da atual PAC falharam

A Política Agrícola Comum (PAC) “está mais bem pensada” em matérias relacionadas com o ambiente e o clima. Porém, os PEPAC dos países da União não revelam “grandes diferenças em relação ao passado”, refere Nikolaos Milionis, um dos autores do relatório da auditoria do TCE publicada esta semana. A conclusão é drástica: “a atual Política Agrícola Comum (PAC 2023-2027) falhou os seus objetivos ambientais”, diz TCE.

Vamos por partes.
A grande conclusão do TCE é que os PEPAC dos 27 Estados-membros “não estão próximos dos objetivos e metas do Pacto Ecológico Europeu. E explica porquê. Em primeiro lugar, diz o Tribunal de Contas Europeu, “estas metas não foram integradas na legislação da PAC”.

Em segundo lugar, “não existindo estimativas quantificadas dos Estados-membros, a Comissão não pôde medir o contributo dos planos para as metas do Pacto Ecológico Europeu”. Isto, com exceção do aumento das terras cultivadas em modo de produção biológico.

Em terceiro lugar, a análise do Tribunal mostra que "a realização das metas do Pacto Ecológico Europeu depende largamente de ações planeadas fora do âmbito da PAC”.

Em quarto lugar, diz o TCE que, “embora os PEPAC contenham algumas práticas agrícolas fundamentais destinadas a enfrentar os desafios climáticos e ambientais a longo prazo, outras práticas fundamentais não foram suficientemente contempladas nos planos analisados”.

Protestos dos agricultores atrasaram objetivos

E há uma agravante para o TCE: em consequência das manifestações de agricultores por toda a Europa que tiveram lugar nos meses de janeiro, fevereiro e março deste ano e, novamente, em maio, em resposta a esses protestos a Comissão Europeia permitiu que “algumas obrigações” em matéria ambiental fossem "relaxadas”.

Solos agrícolas
O Tribunal de Contas Europeu dá como exemplo “a rotação de culturas para melhorar a qualidade dos solos”, que a Comissão Europeia permite agora que seja facultativa, mas que “pode reduzir ainda mais o efeito dos planos no clima e no ambiente”, lê-se no relatório da auditoria do TCE.

O Tribunal de Contas Europeu dá como exemplo “a rotação de culturas para melhorar a qualidade dos solos”, que é agora facultativa, e que “pode reduzir ainda mais o efeito dos planos no clima e no ambiente”, lê-se no relatório da auditoria do TCE.

As recomendações feitas à Comissão Europeia são muito claras: Para 2030, o objetivo é “ter 25% de terras dedicadas a práticas biológicas”. Para tal, é preciso “promover o intercâmbio de boas práticas ecológicas” na UE-27, para que sejam incluídas nos PEPAC de todos os Estados-membros.

Por outro lado, o TCE pede que a Comissão, liderada por Ursula von der Leyen e que segue para um novo mandato de cinco anos, “estime o contributo da PAC para as metas do Pacto Ecológico Europeu” e que, ao mesmo tempo, “reforce o futuro quadro de acompanhamento da PAC no respeitante ao clima e ao ambiente”.

A mensagem é muito clara: a União Europeia e a Comissão têm de “enfrentar melhor os desafios climáticos e ambientais a longo prazo”.