Tempestades em Portugal: porque não foram nomeadas?
Nos últimos dias temos sido bombardeados por um 'carrossel' de tempestades. As frentes associadas a estas depressões tem deixado muita chuva, vento e até trovoada em solo nacional. Mas porque não lhes foi atribuído um nome? Explicamos-lhe tudo aqui!
As tempestades continuam a surgir em catadupa em Portugal e muitos são os portugueses que questionam o porquê de estas tempestades não terem sido nomeadas. Toda a instabilidade meteorológica dos últimos dias deve-se, essencialmente, ao choque entre o ar frio de uma depressão isolada em altitude oriunda de Norte com o ar húmido subtropical de uma outra depressão proveniente de Oeste e que passeou pelo arquipélago dos Açores. Afinal, o que leva uma organismo oficial de Meteorologia a atribuir nomes às depressões?
Tudo começou há cerca de uma semana
Foi na passada quarta-feira 8 de abril, que um centro de baixas pressões lançou-se ao Atlântico a partir do nordeste dos Estados Unidos, entre Nova Iorque, Pensilvânia e Nova Jérsia. Na última semana geraram-se outros tantos nesse mesmo canto do mundo e até ligeiramente mais para norte, na Terranova, mas foquemo-nos nesta tempestade, que é uma das que nos tem estado a afetar. A precipitação dos últimos dias teve a sua origem por ali, nas imediações de Boston. E chegou até nós depois de atravessar uns incríveis 7.000 quilómetros!
A travessia que realizou pelo oceano assentou bem à depressão, graças sobretudo ao contacto com uma massa de ar frio que desencadeou uma poderosa ciclogénese. Numa questão de poucas horas, a pressão mínima no seu interior ficou abaixo dos 990 hPa, ostentando uma espiral de nuvens e vento intenso que rumou para nordeste. Ao meio-dia da passada sexta-feira dia 10, a depressão chegou a libertar rajadas de vento bem superiores a 100 quilómetros por hora, precisamente ao passar pelo sul da Gronelândia. Esse foi o seu momento áureo, instantes antes de começar a desenhar a história que guiou os seus ‘restos’ até nós.
No fim de semana o seu trajeto foi altamente condicionado pelo anticiclone dos Açores. Contudo, a tempestade prosseguiu imparável na sua rota, acabando por rodear a crista anticiclónica que ela própria causou, precisamente ao aprofundar-se na sua chegada ao Atlântico. No seio deste turbilhão de centros de pressão, o jato polar ondulou-se tanto que acabou por enviar uma massa de ar polar até ao oeste da Península Ibérica, fazendo com que se gerasse uma fusão entre este ar polar e os restos do centro de baixas pressões. Assim nasceu a tempestade fria isolada ou Gota Fria que tem estado a condicionar o estado do tempo em Portugal desde segunda-feira, dia 13 até hoje.
Que critérios se usam para nomear uma tempestade atlântica?
De cada vez que surge um centro depressionário ou depressão (designação científica atribuída a uma tempestade que circule em território nacional) geralmente oriunda do Atlântico Norte, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), instituição pública oficial e uma das responsáveis por monitorizar estas tempestades, acompanha a sua evolução e, com base em critérios pré-estabelecidos em conjunto com as suas homólogas europeias (todas elas pertencentes ao Grupo do Sudoeste) atribui, ou não, um nome a esse centro de baixas pressões.
Se os modelos numéricos de previsão, as imagens de satélite e de radar revelarem condições atmosféricas por demais evidentes de um poderoso centro depressionário, poderão ser emitidos avisos laranjas ou vermelhos para os diferentes elementos climáticos (vento, precipitação, agitação marítima, entre outros). A partir do lançamento oficial destes avisos (laranja ou vermelho), procede-se à nomeação da tempestade com base numa lista previamente discutida e aprovada entre o IPMA, a AEMET, a MeteoFrance e IRM Bélgique (este último juntou-se em 2019).
Foi em dezembro de 2017 que os serviços meteorológicos de Portugal, Espanha e França firmaram um acordo para passar a dar nomes às tempestades que desbloqueassem a emissão de avisos laranja ou vermelho, em cada um dos países.
Uma das razões que motivou este acordo foi porque, a partir de 2015, o Reino Unido e a Irlanda implementaram com êxito um sistema de atribuir nomes a tempestades que afetassem a região. Ficou provado que os cidadãos tendem a ter mais cautela quando as tempestades possuem um nome.