Temperatura da água no noroeste do Mediterrâneo atinge o nível do ano passado 10 dias antes
O aumento da temperatura da superfície dos mares e oceanos tem um grande impacto no mar Mediterrâneo. A temperatura ali registada em 2022 foi 1,4 ºC acima dos valores normais. Em 2023, as preocupações continuam!
O mar Mediterrâneo está a aquecer de uma forma preocupante. Embora para muitos esta notícia se possa revelar positiva, uma vez que pode ser um prazer mergulhar em águas cada vez mais quentes, para outros, a comunidade científica não o é, tendo esta vindo a advertir de que este é um sinal de que, claramente, o mar Mediterrâneo não está bem.
Nos últimos anos, muitas são as notícias que dão conta do quebrar de recordes diários, semanais, mensais e anuais de temperatura, neste mar e em outros tantos mares e oceanos. A verdade é que este panorama revela aquilo que já sabíamos, as alterações climáticas não são sentidas apenas em terra mas também nos lagos, rios, mares e oceanos.
O aquecimento dos mares e oceanos tem sido responsável por cerca de 93% do aquecimento do planeta desde a década de 1950 (Agência Europeia do Ambiente). Não é de admirar, afinal há mais água do que solo a cobrir a superfície da Terra.
Este aumento é facilmente explicado pelo acréscimo das emissões de gases com efeito de estufa, sobretudo do dióxido de carbono, que tem feito reter cada vez mais energia solar na atmosfera. A maior parte deste calor retido acaba por ser armazenado nos mares e oceanos, afetando a temperatura e a circulação da água.
O aumento das temperaturas está também a derreter as calotas polares. À medida que a área total da superfície coberta de gelo e de neve a nível mundial diminui, reflete menos energia solar para o espaço, aumentando ainda mais o aquecimento do planeta. Esta situação, por sua vez, resulta na entrada de mais água doce nos oceanos, alterando ainda mais as correntes.
A temperatura da superfície do mar ao largo da costa da Europa está a aumentar mais rapidamente do que a dos oceanos globais. O Mar Mediterrâneo é um excelente (infelizmente) exemplo disso. Uma vez que é uma bacia semi-fechada, a água aqui é mais sensível ao aquecimento do que noutras áreas do globo.
Histórico e tendências
As temperaturas da água do mar no Mediterrâneo ocidental atingiram níveis de até 4 graus Celsius acima do normal no verão passado, com ondas de calor particularmente significativas nas Ilhas Baleares. Um novo recorde de temperatura da água do mar de 31 ºC foi lá estabelecido.
As ondas de calor marinhas, consideradas como anomalias persistentes e espacialmente extensas da temperatura da superfície do mar, surgiram como um dos eventos de alto impacto global induzido pelas mudanças nos oceanos.
Este ano, 2023, o Serviço de Monitorização de ondas de calor do Mediterrâneo, mostra que este mar tem experienciado uma tendência de aquecimento com valores de até 0,68 ºC/década.
Nos últimos dias, as águas no noroeste do Mediterrâneo têm vivenciado temperaturas excecionais, a par com as registadas durante este mês de abril em terra e que fizeram disparar recordes em toda a Península Ibérica, tendo-se atingido os níveis registados no ano passado com uma antecipação de 10 dias, com valores de intensidade média (diferença entre a temperatura registada e a média climatológica) entre 0,78 ºC e 2,43 ºC, a 30 de abril.
Estes valores representam, em algumas latitudes do Mediterrâneo anomalias de categoria 4 (extremas), uma vez que a anomalia de temperatura é de uma magnitude de 4 vezes acima do limite (Hobday et al 2018). Uma vez que estas anomalias se encontram a noroeste deste mar, faz antecipar que o oceano Atlântico tenha uma forte influência.
O oceano Atlântico também está a experimentar um aquecimento recorde, enquanto o evento El Niño, no Pacífico, pode aumentar o risco de eventos climáticos extremos e desafiar ainda mais os recordes globais de calor, uma vez que a água quente está a subir das águas do Pacífico e a deslocar-se para leste ao longo do equador.
Estas notícias não fazem antecipar um futuro risonho e fazem prever um 2023 duro. Exige-se então um robustecimento das medidas de adaptação e mitigação alavancadas na Europa e por todo o mundo, nomeadamente na redução das emissões de gases com efeito de estufa. As mudanças climáticas ameaçam o futuro do nosso planeta, mas ainda estamos a tempo de nos adaptarmos a elas e atenuar os seus efeitos.