Teleconexões climáticas podem explicar as tempestades da última semana

Hoje em dia fala-se sobre as teleconexões climáticas, de entre as quais a Oscilação do Atlântico Norte (NAO – North Atlantic Oscillation) e a Oscilação do Ártico (AO – Arctic Oscillation). A combinação destas teleconexões climáticas provocaram na passada semana uma tempestade, que originou vários estragos.

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Nos últimos dias tem-se falado muito sobre duas teleconexões climáticas conhecidas, a Oscilação do Atlântico Norte (NAO) e a Oscilação do Ártico (AO). Estas foram responsáveis pelas condições para a formação de tempestades às nossas latitudes.

O clima das latitudes médias é afetado pelos sistemas de baixas pressões (ciclones) e de altas pressões (anticiclones). De qualquer forma, existem locais onde esse tipo de sistema permanece por mais tempo durante o ano e se movem seguindo um determinado padrão sazonal.

Segundo o modelo de circulação geral, nos 30º de latitude existem grandes anticiclones subtropicais que são originados pela descida do ar quente que ocorre nestas latitudes e que provém do ar próximo do Equador. O exemplo melhor conhecido é o do Anticiclone dos Açores. Os anticiclones subtropicais movem-se em direção às nossas latitudes no verão, o que impossibilita a chegada de tempestades na maioria do país.

O ar quente e seco que desce nestas latitudes é responsável pela existência de desertos como o Saara ou a baixa quantidade de precipitação nos oceanos subtropicais, formando uma espécie de cinturão associado a esses anticiclones, que são rodeados por áreas de baixa pressão que compensam o excesso de altas pressões (como a frente polar). Estes sistemas são, geralmente, designados de centros de ação semipermanentes.

O padrão de oscilações atmosféricas: NAO e AO

Estes centros de ação variam não apenas na sua posição sazonal, mas também na força quanto à sua posição. E, para tal, podem apontar-se causas como a simples aleatoriedade ou forças exógenas em diferentes escalas de tempo. A título de exemplo, as alterações climáticas antropogénicas podem estar a fazer com que o Anticiclone dos Açores prolongue a sua extensão.

Mas se alguns centros de pressão saem fortalecidos, outros acabam enfraquecidos, havendo uma correlação negativa entre os anticiclones e as depressões. Esse é um padrão de pressão dipolo e no caso da oscilação dos centros de baixa pressão da Islândia e de Altas pressões dos Açores designa-se por Oscilação do Atlântico Norte (NAO, pela sigla em inglês).

teleconexões climáticas
Os dois tipos da NAO, a negativo à esquerda e a positivo à direita. Fonte: PolarPedia.

De modo a quantificar, usam-se diversos índices, sendo o mais comum o NAOi (Índice NAO), que se obtém pelas diferenças de anomalia de pressão ao nível do mar, relativamente aos valores médios ao longo de 30 anos, entre os Açores e a Islândia.

Se o valor é positivo significa que a pressão nos Açores é superior ao normal e sobre a Islândia apresentará valores inferiores ao normal. Nestes casos, há um bloqueio anticiclónico na Península Ibérica e o tempo será muito seco. Por outro lado, se o índice é negativo será comum a penetração de tempestades na Península Ibérica.

O NAOi é um índice diário, mensal ou anual e os registos mensais podem ser visualizados no site do NOAA. De referir que há também outras formas de calcular, utilizando, para o efeito, a pressão atmosférica noutros locais, tal como em Gibraltar (em vez dos Açores), possibilitando a reconstrução do índice para o estudo de climas passados. Note-se que, algumas destas reconstruções podem chegar a 2000 anos e baseiam-se em vários tipos de registo paleoclimático, como anéis das árvores ou corais.

De qualquer forma, convém esclarecer que o índice não é tão linear. A NAO resulta de um padrão que afeta a variabilidade do regime de precipitação na Península Ibérica no inverno e cuja influência diminui para Este. A influência na variabilidade da temperatura na Península Ibérica não apresenta um padrão bem definido, mas é essencialmente significativo no norte da Europa, pelo que a NAO explica grande parte da variabilidade climática no inverno na região do Atlântico Norte.

Como se explica as tempestades dos últimos dias às nossas latitudes?

Nos últimos dias, ouvimos também falar da presença dos anticiclones que se instalaram na península da Escandinávia e Gronelândia, o que favoreceu a presença de baixas pressões no Sul e a entrada das tempestades nas nossas latitudes. Isto relaciona-se com outro padrão dipolo de flutuação de pressão, designada neste caso de Oscilação do Ártico (AO, em inglês).

NAO; AO
As anomalias de pressão para o inverno de 2009-2010 e 1988-1989 em relação à média climatológica (1981-2010) durante as diferentes fases da AO. A fase positiva está relacionada com uma fase NAO positiva e uma fase AO negativa a uma fase NAO negativa. Fonte: Climate.gov.

A AO é um padrão de circulação nas latitudes médias e altas do Hemisfério Norte, que influencia fortemente o tempo na América do Norte, na Europa e na Ásia, durante o inverno. Quando a AO é negativa, nas latitudes médias há quebra de ar frio polar durante o inverno. Na Península Ibérica, tal resulta em maior quantidade de precipitação.

De facto, a AO e a NAO apresentam uma relação vincada, de tal forma que a NAO é considerada uma manifestação da AO na região do Atlântico Norte. Durante esta semana tivemos uma fase negativa bem clarividente de ambos os padrões, o que favoreceu a passagem de tempestades na Península Ibérica.