Sul-coreanos armazenam alimentos antes do Japão libertar água radioativa no mar
Com o plano do Japão de libertar a água radioativa de Fukushima no Pacífico no próximo mês, agora os coreanos preocupados estão a acumular sal e peixes, com medo de que os resíduos na água contaminem a vida marinha.
O governo japonês tem um plano que consiste em libertar a água radioativa da central nuclear de Fukushima no oceano Pacífico, em agosto deste ano. E apesar da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), ter dado sinal verde para isso, o processo tem gerado muitas contestações.
Pescadores locais estão apreensivos e alertam para as ameaças ao meio ambiente marinho e à saúde pública. Pequim estendeu a proibição de alguns alimentos japoneses por temores de contaminação radioativa. O parlamento da Coreia do Sul aprovou uma resolução na semana passada a opor-se ao projeto, e as autoridades vão fazer uma "inspeção detalhada" das importações de frutos do mar vindos de regiões próximas à central de Fukushima.
E agora, já está a aparecer um resultado disso: os sul-coreanos estão a armazenar alimentos vindos do mar antes da libertação da água radioativa no oceano, por medo de uma contaminação do ambiente marinho.
Stocks de alimentos na Coreia do Sul
O medo está a fazer com que os residentes sul-coreanos armazenem alimentos como sal marinho, peixes, algas e anchovas, a ponto de tais produtos estarem em falta nos mercados. De acordo com a CNN, numa visita a um supermercado em Seul, a sua equipa percebeu que as prateleiras estavam vazias onde o sal costumava ficar, e uma placa dizia: “Sal esgotado. Houve um atraso na obtenção do sal devido à situação dos nossos parceiros. Pedimos desculpas pela inconveniência”.
A escassez de sal foi tanta que o governo sul-coreano foi forçado a libertar sal marinho das suas reservas oficiais para estabilizar os preços, que subiram mais de 40% desde abril. Mas não foi só este o fator que fez subir os preços, o clima afetou a produção, contribuindo para este aumento. “O público não precisa de se preocupar com o suprimento de sal marinho, pois a quantidade de sal fornecida para junho e julho será de cerca de 120.000 toneladas, o que está acima da produção média anual”, disse o Ministério dos Oceanos e Pescas da Coreia do Sul. As autoridades também pediram que as pessoas comprem apenas a quantidade necessária de sal marinho.
A preocupação também é grande com os frutos do mar. Na semana passada, no maior mercado de peixe em Seul, os funcionários testaram vários produtos frescos, medindo o nível de radiação, como tentativa de acalmar os compradores preocupados. Alguns compradores até disseram aos meios de comunicação locais que poderiam parar de comer frutos do mar assim que as águas fossem libertadas.
Protestos contra o plano japonês
O plano japonês tem gerado vários protestos, principalmente na Coreia do Sul, onde a rejeição é grande. De acordo com a agência de investigação Research View, mais de 85% dos sul-coreanos opõem-se ao plano, e 7 em cada 10 disseram que reduziriam o consumo de frutos do mar se as águas radioativas fossem lançadas.
Milhares de pessoas, entre pescadores e ativistas cívicos, participaram em protestos em Seul nos últimos dias contra o projeto japonês, e pediram uma posição mais firme do governo sul-coreano. Em resposta, o parlamento aprovou uma resolução a opor-se ao projeto. O país proibiu as importações de frutos do mar da área de Fukushima desde 2013 e disse que planeia manter o pedido em vigor.
“Agora que mais de 80% do público está a dizer que vai comer menos frutos do mar, isso é muito preocupante”, disse Lee Gi-sam, um pescador da cidade portuária de Tongyeong. “Se o público evitar frutos do mar, enfrentaremos uma crise de falência”. O estudante Kim Han-bi, que participou nos protestos em Seul, pontuou: "Não faz sentido argumentar que está tudo bem em libertar a água porque ela não prejudica os humanos. Os animais também vivem no oceano".