Situação das barragens em Portugal em dezembro de 2024: preocupação com a seca e perspetivas para 2025

O armazenamento de água nas barragens portuguesas está aquém do desejado, com exceção de algumas bacias hidrográficas. Dados recentes do último relatório do SNIRH mostram uma redução do armazenamento em 13 bacias, reforçando a urgência de uma gestão hídrica eficiente.

Armazenamento barragens
O armazenamento de água nas barragens portuguesas está aquém do desejado e em comparação com igual período do ano passado regista-se menos 380 hm³.

Apesar das chuvas intensas que marcaram o outono de 2024, as reservas de água nas barragens portuguesas mantêm-se abaixo do desejado. Dados do Boletim Semanal de Albufeiras, publicado pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), revelam que, na primeira quinzena de dezembro, o volume armazenado esteve aquém das médias para este mês, com exceção de algumas bacias hidrográficas. Espera-se agora os dados da última quinzena, embora se perspetive que as condições meteorológicas tenham favorecido o decréscimo de água nas albufeiras.

Armazenamento hidrográfico em dezembro: tendências diferenciadas no território nacional

Entre 9 e 16 de dezembro, verificou-se um aumento no volume armazenado em apenas duas bacias hidrográficas, enquanto 13 registaram diminuições. Atualmente, 34% das albufeiras monitorizadas apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, enquanto 14% têm níveis preocupantemente baixos, inferiores a 40%. As bacias hidrográficas que apresentam volumes superiores à média incluem o Cávado (67,2%), o Vouga (83,9%), o Mondego (73,5%), as Ribeiras do Oeste (69,9%), as Ribeiras da Costa Alentejana (66,2%) e algumas bacias costeiras.

Barragens Albufeiras Estado SNIRH
34% das albufeiras monitorizadas apresentam disponibilidades hídricas superior a 80% do volume total, ao passo que 14% têm níveis preocupantemente baixos. Fonte: Relatório Semanal do SNIRH.

No entanto, os armazenamentos globais continuam inferiores aos registados em dezembro de 2023. A 16 de dezembro de 2024, verificava-se um volume acumulado nas 81 barragens monitorizadas de 9444 hm³, correspondente a 71% da capacidade máxima, menos 380 hm³ do que em igual período do ano anterior.

Ademais, as tempestades de outono causaram precipitação significativa, mas os seus efeitos foram limitados devido à elevada evapotranspiração e infiltração, características de períodos prolongados de seca. Áreas como o Douro registam volumes relativamente elevados, com nove das suas 16 albufeiras acima dos 90%. Por outro lado, albufeiras como Campilhas, Monte da Rocha, Arade e Bravura continuam no "vermelho", com níveis inferiores a 20%.

As regiões mais afetadas pela redução do armazenamento incluem o Lima e o Cávado, com perdas superiores a 800 hm³. Apesar disso, as bacias como a do Tejo e Guadiana registaram aumentos, respetivamente, de 116 hm³ e 70 hm³, o que dá algum alívio a estas áreas estratégicas.

Quais são as perspetivas para 2025?

Com o início de 2025 no horizonte, há esperança de que o inverno garanta precipitação suficiente para compensar os baixos níveis atuais. Os meses de janeiro e fevereiro são tradicionalmente meses mais pluviosos, e um padrão climático-meteorológico favorável poderia ajudar a repor as reservas hídricas e a preparar o país para enfrentar os meses de verão.

Além disso, os projetos de gestão de recursos hídricos, como o açude amovível planeado para o rio Almonda na Golegã, poderão contribuir para mitigar os efeitos da seca localmente. Este projeto visa garantir água para a agricultura e biodiversidade, mas também promover o aproveitamento turístico da região durante os meses secos.

Também a situação atual reforça a necessidade de uma gestão eficiente da água, incluindo estratégias de reutilização, redução de desperdícios e investimentos em infraestruturas resilientes. Apesar dos desafios impostos pelas alterações climáticas, a implementação de medidas adaptativas poderá ser determinante para enfrentar os períodos de seca que se tornam cada vez mais frequentes.

Enquanto o país aguarda as chuvas de inverno, o cenário exige vigilância e ação coordenada entre autoridades, agricultores e cidadãos, para assegurar a sustentabilidade dos recursos hídricos em 2025 e nos anos vindouros. Para o momento, espera-se que a precipitação possa regressar ao país durante o primeiro fim de semana do ano e a expetativa de um padrão atmosférico associado a um regime NAO- (Oscilação do Atlântico Norte negativo) pode favorecer o restabelecimento dos níveis de água nas próximas semanas.