Sismos em Portugal: histórico, probabilidades e principais causas
Às 05:11 do dia 26 de agosto de 2024, o IPMA registou um sismo com magnitude de 5.3 na escala de Richter a cerca de 60 km de Sines. Estarão os sismos a aumentar de frequência em Portugal? Saiba mais aqui.
Depois do abalo sentido na madrugada de ontem, - mais de 10 mil pessoas testemunharam nas primeiras horas através do questionário macrossísmico online -, foram ainda registadas seis réplicas, segundo o IPMA.
Apesar de terem sido registadas, as réplicas não foram sentidas pois apresentaram magnitudes baixas, contudo, ocorreram entre as 05:47 e as 11:56 da manhã.
Hora e magnitude das réplicas registadas |
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05:47 - 1.2 ML |
06:40 - 1.1 ML |
07:14 - 0.9 ML |
07:27 - 1.0 ML |
11:44 - 1.6 ML |
11:56 – 1.5 ML |
Fonte: IPMA. |
O que é um sismo e o que é que o causa?
Segundo o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CEVISA): "Um sismo representa a rotura das rochas ao longo de novos planos de fraqueza ou de planos preexistentes, designados por falhas tectónicas. Desta rotura resulta a libertação súbita da energia sob a forma de ondas elásticas que provocam a vibração do solo à sua passagem."
Sempre que este processo acontece e se regista um sismo, este registo acontece no epicentro, que é o ponto à superfície, localizado diretamente acima do foco, que por sua vez pode ser chamado de "hipocentro".
Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores.
Uma das principais causas da ocorrência de sismos é a tectónica de placas, sendo que a maior parte dos registos acontecem nos limites das placas litosféricas, apesar de também poderem acontecer no interior das mesmas, pelo que pode haver registo de sismos em qualquer lado do mundo.
Qual a diferença entre intensidade e magnitude de um sismo?
A intensidade de um sismo é a classificação da severidade do movimento do solo provocado por um sismo numa determinada área com base nos efeitos observados em pessoas, objetos, estruturas e natureza.
Esta depende de um conjunto de fatores, tais como a energia sísmica libertada, a distância ao epicentro e a geologia local. As escalas de intensidade mais utilizadas são a Escala de Mercalli Modificada (EMM) e a Escala Macrossísmica Europeia (EMS-98).
A magnitude mede a quantidade de energia libertada de um sismo com base na análise do respetivo registo sísmico. As escalas de magnitude podem basear-se nas amplitudes dos diferentes tipos de ondas sísmicas (ML), na duração do sinal (Md) ou no momento sísmico (MW).
Por esta razão, é frequente verificar que diferentes instituições determinam diferentes magnitudes para um mesmo sismo, dependendo do tipo de escala que utilizam. A escala de magnitude mais conhecida é a Escala de Richter.
Atividade sísmica em Portugal
É certo e sabido que Portugal já foi e continua a ser palco de uma vasta atividade sísmica, especialmente no arquipélago dos Açores, onde são registados centenas de tremores de terra durante o ano. E porquê? Como já referimos acima, a tectónica de placas tem uma grande influência na libertação de energia da Terra.
Os Açores estão no limite de três placas tectónicas: a Placa Americana, a Placa Africana (Núbia) e a Placa Euro-Asiática. Para além disto, o arquipélago é atravessado pelo rift Médio Atlântico e, existe ainda um pequeno rift localizado na ilha Terceira.
Weiß B., Huebscher C., e Lüdmann T. da Universidade de Hamburgo.
Com todos estes limites de placas, é normal que a atividade sísmica neste ponto do nosso país seja elevada, apesar de nem sempre se sentirem os abalos que se registam. Porém, os tremores de terra também acontecem noutros locais da nossa geografia e muitas vezes são sentidos no arquipélago da Madeira e no continente.
Aqui no Continente, a probabilidade é menor (ainda assim, significativa), contudo, já tivemos sismos com elevadas magnitudes, resultando em catástrofe, como no sismo de 1755, e não só.
Além dos Açores, há mais registos no Sul do país
O sul do país está mais exposto devido não só aos sismos inter-placas mas também à presença de falhas ativas que atravessam a região do Algarve, nomeadamente as falhas de Portimão, Quarteira e Faro-Loulé onde ocorreu o sismo de 1722, que se estima ter atingido uma magnitude 7.8 na escala de Richter.
Relativamente às zonas próximas das falhas do Vale Inferior do Tejo, estas são de elevada perigosidade e nelas se reconhecem os eventos de 1531 (magnitude de 6.5 a 7) e o sismo de Benavente em 1909 (magnitude de 6.3).
Já todo o Alentejo é percorrido no sentido SW-NE pela falha de Messejana e com menor expressão aparecem fontes sismogénicas (zona de atividade sísmica frequente) a norte de Évora, no prolongamento da falha da Nazaré e na zona de Moncorvo – a falha da Vilariça.
Em suma, Portugal, devido ao seu enquadramento, tem sofrido as consequências de sismos de moderada a forte magnitude. O sismo mais antigo de que há notícia terá ocorrido em 63 a.C. e foi seguido de um tsunami que afetou as costas portuguesa e galegas.
Um dos eventos sísmicos mais marcantes da nossa história: o sismo de 1755
Este é o maior dos sismos e tsunami de que há registo, em Portugal. Sentiu-se com mais intensidade em Lisboa, Algarve, sul de Espanha e Marrocos. Embora sem causar danos, também foi sentido nos Açores (tendo causado danos no edificado de Ponta Delgada (São Miguel), Angra do Heroísmo e Praia da Vitória (Terceira), na Madeira e por quase toda a Europa!
Há quase 269 anos foi registado, no dia 1 de Novembro de 1755, um sismo com uma magnitude que se estima entre 8.2 e 9.2 na escala de Richter, podendo ter atingido intensidades máximas de X no Algarve.
O epicentro não é conhecido com precisão, havendo diversos sismólogos que propõem locais distanciados de centenas de quilómetros. Porém, todos convergem para um epicentro no mar, entre 150 a 500 quilómetros a sudoeste de Lisboa.
O número total de vítimas, é muito incerto com estimativas que variam entre 60 mil e as 100 mil pessoas. Totalmente destruídos ou severamente danificados contaram-se 32 igrejas, 60 capelas, 31 mosteiros, 15 conventos e 53 palácios.
Os relatos da época são pouco concordantes, tornando-se difícil conhecer o número exato de vítimas devidas ao sismo, ao tsunami e ao incêndio. A resposta à catástrofe foi rápida, contudo a reconstrução completa da cidade, prolongou-se no tempo por um período de 100 anos aproximadamente.
Facto curioso: no dia 26 de agosto de 1966 também houve um sismo em Portugal
Há exatamente 58 anos, às 5h56 da manhã, registou-se um sismo de magnitude 3 a 4 na escala de Richter, que foi sentido em Lisboa e noutros locais do ocidente, desde o Porto a Sagres. O epicentro deste foi a cerca de 100 km da capital.
Apesar de o "Diário de Lisboa" ter feito referência a este evento como um "fraco abalo sísmico", há quem reporte que em locais como Santiago do Cacém, este se tenha sentido com mais intensidade, do que supostamente tinha sido registado: magnitude de 5 na escala de Richter.
Mesmo com mais ou menos magnitude, este tremor de terra também foi sentido em Espanha, gerando algum pânico na população. Contudo, não há registo de danos estruturais, à semelhança do que se passou ontem, 26 de agosto de 2024.
Referências da notícia:
Weiß B., Huebscher C., Lüdmann T. The Tectonic Evolution of the South-Eastern Terceira Rift / São Miguel Region (Azores). Research Gate (2015).
Machado F. Possíveis causas dos sismos nos Açores. Universidade dos Açores.
Instituto Português do Mar e da Atmosfera.