Sismo de 1980 nos Açores, 40 anos depois
A 1 de janeiro de 1980, dia de Ano Novo, um violento sismo afetou as ilhas do Arquipélago dos Açores. Considerado um dos maiores sismos a nível nacional, deixou um rasto de destruição e de vítimas, que jamais serão esquecidas. Recorde esta efeméride connosco.
Na tarde do primeiro dia do ano de 1980, um violento sismo de magnitude 7,2 na Escala de Richter sacudiu as ilhas açorianas, principalmente as do Grupo Central. As ilhas, já habituadas a abalos diários por se situarem na junção de três placas tectónicas (africana, euroasiática e norte americana), enfrentaram a súbita libertação de energia da falha do Faial. O epicentro, localizado no oceano entre as ilhas da Terceira, de São Jorge e da Graciosa, a apenas 35 quilómetros de Angra do Heroísmo e o hipocentro a apenas 10 quilómetros de profundidade, potenciaram a intensidade do sismo.
À superfície os efeitos foram desastrosos: 73 vítimas mortais, mais de 400 feridos e mais de 20 mil desalojados, num universo de 86 mil habitantes distribuídos pela Terceira, São Jorge e Graciosa. A força do abalo destruiu casas, edifícios públicos e algumas igrejas construídas no séc. XIX. Cerca de 57% das habitações nas três ilhas foram afetadas, sendo que um quinto delas ficaram completamente destruídas e mais de 10 mil ficaram severamente danificadas. Foi um evento de dimensão muito superior àqueles que o nosso país está habituado (e preparado).
A cidade mais afetada por este sismo foi Angra do Heroísmo, que ficou praticamente em ruínas. A maioria das infraestruturas da cidade colapsaram, ficando com a aparência de uma cidade bombardeada. O sismo teve duração estimada entre 20 a 30 segundos tendo causado ondas de tsunami, pese que de pequenas dimensões. As réplicas prolongaram-se durante três dias. Foi o terramoto mais destrutivo dos últimos 200 anos em Portugal.
A reconstrução levou meses. O inverno chuvoso ditou uma longa estadia em tendas ou em estruturas pré-fabricadas, onde as famílias se amontoavam. A Base das Lages albergou 150 famílias, depois do Governo Português ter pedido ajuda às forças norte americanas lá estacionadas. O facto de o Arquipélago se ter tornado Autónomo há relativamente pouco tempo também gerou alguma confusão quanto à atribuição de poderes durante a reconstrução.
Estudos posteriores a este evento, demonstraram que o nível de destruição estava diretamente relacionado com os locais onde as habitações estavam construídas (em solos instáveis), bem como à fraca qualidade das construções, que em momento algum tinha sido detetada pelas entidades fiscalizadoras.
A evolução da Sismologia nos Açores
Este sismo, apesar do elevado número de vítimas mortais e do nível de destruição, foi um momento de viragem na consciencialização para a sismologia no Arquipélago. Por um lado, permitiu que se investisse numa verdadeira rede de estações sismográficas. Até 1980 existiam apenas três em todo o Arquipélago: em Ponta Delgada, em Angra do Heroísmo e na Horta.
No pós-sismo, o Laboratório de Geociência e Tecnologia dos Açores instalou 19 novas instalações sismográficas, que permitem recolher dados de forma muito mais completa. Por outro lado, as empresas ligadas à construção civil começaram a compreender a necessidade de investir em construções antissísmicas que mitiguem o risco de ruína de infraestruturas e consequentemente o risco de vítimas mortais.
De salientar que os Açores registam diariamente forte atividade sísmica, sendo que a falha do Faial, onde se situou o epicentro deste sismo, foi responsável pelos mais destrutivos do último século. Por exemplo, em 1998 registaram-se 9 mortos, mais de 100 feridos e cerca de 70% de todas as habitações no Faial foram completamente destruídas.