Será que o ser humano compreende a comunicação do seu animal de estimação?

A maior parte das vezes, o ser humano interpreta mal os sinais, a forma de comunicar, dos animais de estimação. Quem o diz é um novo estudo elaborado pela Universidade de Paris Nanterre, recentemente publicado, que utiliza o exemplo dos gatos. Por exemplo, é do senso comum que quando o gato ronrona está satisfeito, mas pode não ser assim tão simples, situação que nem sempre é conhecida por parte dos seres humanos que escolheram o gato como animal de companhia.

Os investigadores responsáveis pelo estudo indicam que os seres humanos têm um péssimo desempenho a ler os sinais de um gato infeliz, sendo que o desempenho melhora um pouco quando se trata de identificar um gato feliz. Tanto os miados como outras vocalizações emitidas pelos gatos domésticos são geralmente mal interpretados, sendo que os investigadores sugerem que os donos devem olhar com mais atenção para determinadas pistas vocais e visuais para determinar o que está a acontecer em determinada altura.

O estudo baseou-se numa amostra relativamente baixa, pouco mais de 600 donos de gatos, que através de um inquérito online tentaram compreender a forma como os gatos comunicam. O referido inquérito consistia na visualização de 24 vídeos com diferentes comportamentos dos gatos: 8 em que predominava a comunicação vocal, 8 em que era analisada a postura visual e 8 com uma mistura das anteriores (comunicação vocal e postura corporal).

O estudo dos sinais visuais e vocais

Até agora existiam inúmeros trabalhos académicos, especificamente sobre os sinais visuais ou sobre os sinais vocais, mas muito poucos trabalhos tentaram relacionar a comunicação visual e vocal entre os felinos domésticos e os seres humanos. A linguagem corporal dos gatos apresenta uma vasta gama de gestos, como por exemplo, as caudas a balançar de um lado para o outro, os agachamentos, os achatamentos das orelhas e o contante esfregar e enrolar nas pernas.

Já os sinais vocais podem ser simpáticos ou ameaçadores, como miar, ronronar e rosnar, por exemplo. Sabe-se que um gato juvenil utiliza 9 formas diferentes de vocalização, já um gato adulto pode utilizar pelo menos 16. Contudo, como veio comprovar este estudo, apesar de parecer óbvio que possamos entender os sinais vocais e visuais dados por um gato, na verdade, sabemos muito menos sobre a mensagem que nos estão a tentar passar do que pensamos.

Na maior parte das vezes, os sinais positivos são interpretados com mais facilidade porque são as experiências positivas que queremos que os animais tenham na nossa companhia. No entanto, o ronronar e o abanar da cauda nem sempre são sinónimos de satisfação.

A melhoria na interpretação dos sinais, apostando na educação dos donos, pode ser útil, tanto para o bem-estar dos animais como para evitar possíveis ataques. Por exemplo, os gatos têm tendência a morder repentinamente, situação que será um extremo e, ao mesmo tempo, o resultado de muito tempo de má comunicação e interpretação da linguagem vocal e corporal.

Referência da notícia:Mouzon C., Di-Stasi R., Leboucher G. Human perception of cats' communicative cues: human‐cat communication goes multimodal. Applied Animal Behaviour Science (2024).