Seca na Grécia faz emergir de novo uma aldeia sacrificada no final da década de 1970
O verão de 2024, particularmente quente e seco no Mediterrâneo, trouxe de volta casas submersas há mais de 40 anos na principal albufeira que abastece a capital grega, Atenas.
Os moradores das imediações do lago Mornos, na Grécia, podem agora observar uma aldeia sacrificada no final da década de 1970 para a construção de uma barragem e que estava submersa desde então. Os habitantes da aldeia de Kallio, localizada a 200 quilómetros a oeste de Atenas, foram obrigados a sair das suas casas há mais de 40 anos para dar lugar à barragem de Mornos, que fornece água à capital grega, Atenas.
Na origem do fenómeno estão episódios significativos de seca no país que reduziram consideravelmente o nível do lago artificial ao longo do tempo. Uma diminuição de cerca de 30% em relação a 2023, ou 40 metros de altura, segundo dados da EYDAP, empresa de distribuição de água de Atenas e região.
As primeiras casas começaram a surgir há cerca de mês e meio, mas dia a após o nível das águas continuou a descer até deixar ver a antiga aldeia. A barragem de Mornos vem há alguns anos a descer a sua dimensão superficial. Segundo o Observatório Nacional da Grécia diminuiu de 16,8 quilómetros quadrados em 2022 para 12,0 quilómetros quadrados em 2024, de acordo com imagens de satélite.
Depois de um inverno particularmente ameno em que quase não choveu e do mês de julho mais quente de sempre, a seca levou a melhor sobre este lago artificial, que é crucial para os 3,7 milhões de habitantes que residem na região de Atenas e fez emergir a aldeia pela segunda vez em mais de 40 anos. A primeira havia sido em 1990.
Na região da barragem não foram anunciadas restrições hídricas devido ao risco de escassez, mas a moderação é fundamental e a EYDAP apelou aos habitantes da região de Ática para não desperdiçarem água.
A empresa afirmou que as reservas da Ática caíram de 1,1 mil milhões de metros cúbicos em setembro de 2022 para 950 milhões um ano depois. Este ano, prevê-se que desçam para 700 milhões de metros cúbicos, o suficiente para durar cerca de três anos.
A Grécia tem "proteger os recursos hídricos de uma forma mais metódica"
Preservar os recursos hídricos é um grande desafio também em períodos de fortes chuvas. O aquecimento global aumenta em 7% a humidade do ar e, com isso, o risco de chuvas torrenciais. Mas os solos, exauridos pelo calor intenso, não têm a mesma capacidade de reter água.
Numa visita à vizinha Tessália, na segunda-feira, para discutir os trabalhos de reconstrução após as inundações destrutivas do ano passado, o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis disse que a Grécia tinha de melhorar a sua gestão da água.
Kyriakos Mitsotakis, primeiro-ministro grego.
A Grécia é um país particularmente suscetível aos efeitos do aquecimento global. Como referido, o passado julho foi o mais quente de sempre de acordo com dados meteorológicos preliminares do observatório nacional grego, o que também ajudou a alimentar os incêndios que calcinaram milhares de hectares nos arredores de Atenas no mês passado, que teve de recorrer ao Mecanismo Europeu de Proteção Civil.
A comunidade científica garante que as condições meteorológicas extremas ligadas às alterações climáticas estão a causar a deterioração do lago artificial. “É um sinal de alerta”, disse Efthymis Lekkas, professor de gestão de desastres na Universidade de Atenas. “Não sabemos o que vai acontecer no próximo período. “Se tivermos um inverno sem chuva, as coisas ficarão difíceis”, acrescentou.
Desaprovação ao governo pela falta de ação proativa
Já criticado há um ano pela má gestão de desastres, particularmente pela falta de medidas preventivas, o governo grego comprometeu-se a travar uma “guerra” contra as alterações climáticas. O primeiro-ministro anunciou a duplicação do orçamento para 600 milhões de euros.
Em 2024 as críticas continuam fortes. A ONG Greenpeace Grécia apelou no dia 13 de agosto na rede social X (antigo Twitter) a “parar de usar a crise climática como desculpa” e a antecipar e combater melhor os seus efeitos. A organização critica em particular o investimento insuficiente em “soluções energéticas sustentáveis e limpas, bem como no planeamento e implementação de projetos de adaptação à crise climática”.