Seca na Europa
Este ano, desde maio de 2018, ao contrário do que é normal, o centro e o norte da Europa têm sido afectados por um período de seca muito intenso, causando graves prejuízos sócio-económicos.
Normalmente a seca meteorológica, que ocorre devido à combinação de pouca precipitação e temperaturas acima dos valores normais, costuma ocorrer no início do verão mais nas regiões do sul da Europa. No entanto este ano a situação foi diferente e as regiões afectadas foram o centro e o norte da Europa.
Na Escandinávia, a seca desenvolveu-se num período ligeiramente mais longo, com início a partir de março de 2018. A Escandinávia foi atingida pela primeira onda de calor, que foi prolongada, no final de maio. A Dinamarca e o sul da Noruega experimentaram as temperaturas mais elevadas de maio desde o início dos registos, que remonta a 1900. Nos dois países, as temperaturas anómalas persistiram em junho e atingiram o pico novamente no início de julho.
Impactos da seca
Nas regiões do norte da Europa, a situação de seca é grave atendendo aos sectores que têm sido atingidos por esta seca que em muitos locais é das maiores desde há muitos anos. Um dos maiores impactos tem sido na agricultura, pecuária e no abastecimento de água. As principais preocupações desta seca estão relacionadas com um maior risco de incêndio e reduções no rendimento das colheitas. Associações de agricultores de vários países levantaram preocupações comuns sobre as colheitas de 2018.
Na Noruega, restrições de água foram impostas e os preços da eletricidade devem subir, devido à alta dependência de energia hidroelétrica. Na Dinamarca, fazer fogo ao ar livre foi proibido desde maio para reduzir o risco de incêndio, enquanto que em julho as restrições de água foram impostas para a irrigação. A Suécia enfrentou um alto risco de incêndio, com ocorrência de grandes incêndios devido ao tempo seco e quente.
Situação Meteorológica
O tempo seco com ausência de precipitação que se fez sentir nas regiões do centro e norte da Europa foi devido à persistência de um centro de alta pressão (anticiclone) naquelas regiões durante um período prolongado. Além do tempo seco registaram-se temperaturas elevadas muito acima dos valores normais para aquelas regiões com ocorrência de ondas de calor prolongadas.
As altas temperaturas além de aumentarem o consumo de água aumentam a taxa de evaporação da água do solo. Deste modo, as ondas de calor contribuem substancialmente para a severidade da seca. Este foi o caso da Irlanda e da Grã-Bretanha, onde as temperaturas persistiram bem acima da média durante o período de maio a meados de julho.
Humidade do Solo na Europa
O tempo quente e seco que ocorreu nas regiões do norte da Europa logo a partir de maio e estendendo-se até ao início do verão reflectiu-se nos baixos valores da humidade do solo naquelas regiões. A figura 1 apresenta os valores da anomalia da humidade do solo no final de julho de 2018, com base na reanálise ERA5, que é a quinta geração de reanálises atmosféricas do ECMWF (European Centre for Medium-Range Weather Forecasts) do clima global, expresso em função do desvio padrão comparado com o período de 2000-2017.
Esta informação sobre a anomalia da humidade do solo fornece uma avaliação do conteúdo de água no solo, que é uma medida direta das condições de seca, especificamente a dificuldade de as plantas extraírem água do solo. Só no final de julho, início de agosto é que a situação começou a normalizar principalmente nas regiões do sul da Europa, de acordo com o clima das regiões, com tendência já para alguma precipitação e descida das temperaturas em algumas regiões no norte e centro da Europa e por outro lado subida das temperaturas no sul
Indicador de Seca Combinado (CDI)
A monitorização da seca na Europa é assegurada pelo Observatório Europeu para a Seca (European Drought Observatory – EDO).
O Indicador de Seca Combinado (CDI) calculado por aquele Observatório e que é baseado no índice meteorológico de seca (SPI), humidade do solo e a fração da energia solar absorvida pelas folhas (fAPAR), que é medida por satélite, tem servido para identificar áreas que estão em potencial risco de sofrer secas agrícolas, áreas onde a vegetação já é afetada por condições de seca, e áreas em condições normais. Como se pode verificar pela Figura 2, a meados de agosto as áreas afetadas pela seca estavam localizadas na maior parte das regiões do centro e norte da Europa.