Satélites revelam a causa do desastre de Chamoli
Os dados obtidos de satélites podem ser utilizados no estudo e monitorização dos mais variados fenómenos da atmosfera e da superfície terrestre. Foi com recurso a este método que foram identificadas as causas do desastre de Chamoli, ocorrido em fevereiro passado, no Himalaia indiano.
Encostas íngremes, alto relevo topográfico e atividade sísmica tornam as regiões montanhosas propensas a movimentos de massa extremamente destrutivos. A sensibilidade dos glaciares e do permafrost (tipo de subsolo gelado constituído por gelo, terra e rochas) às mudanças climáticas está a acentuar esses perigos.
Desastre de Chamoli
Em 7 de fevereiro de 2021 uma enorme avalanche de rochas e gelo causou uma catástrofe em Chamoli, no Himalaia indiano. Esta grande masssa de rocha e gelo, cerca de 27 milhões de metros cúbicos, caiu da íngreme face norte de Pico Ronti, com 6063 m de altura, e desceu os vales Ronti Gad, Rishiganga e Dhauliganga em Chamoli, Uttarakhand, Índia, causando devastação generalizada e danificando severamente dois projetos hidroelétricos.
A avalanche de rochas e gelo rapidamente se transformou num fluxo de detritos extraordinariamente grandes e móveis que transportava pedregulhos com um diâmetro superior a 20 m, atingindo as paredes do vale até 220 metros acima do chão do vale. A situação levou à evacuação de emergência de aldeias ali próximas, mas, entretanto, mais de 200 pessoas foram mortas ou desapareceram.
Satélites no apoio à identificação das causas do desastre
Na sequência do desastre de Chamoli, foi ativada a Carta Internacional "Espaço e Grandes Desastres", serviço que fornece imagens de satélite em resposta a emergências naturais e humanas. O serviço fornece acesso gratuito a dados de satélite de alta resolução.
Combinando imagens disponíveis livremente de diferentes satélites, tais como o satélite Landsat e da missão Copernicus Sentinel-2, os cientistas analisaram inúmeras imagens adquiridas antes e depois do evento para determinar rapidamente o que estava a acontecer e quantificar as principais características do evento, por exemplo, o volume total da massa de rocha e gelo, diferenças de elevação e distâncias percorridas.
Esta análise permitiu que os cientistas excluíssem que uma inundação do lago glaciar tinha sido a causa do desastre. Em vez disso, o estudo fornece evidências de satélite de que o desastre foi causado por uma grande massa de gelo e rochas deslocadas das encostas do Pico Ronti, começando como um deslizamento de terra gigante que se transformou num fluxo de lama e detritos causando destruição ao longo de seu caminho.
A equipa de 53 cientistas e especialistas reuniu-se online para analisar o evento e investigar o alcance e o impacto da inundação causada pelo deslizamento de terra. O estudo, não só analisou imagens de satélite, mas também registos sísmicos e vídeos de testemunhas oculares para determinar o momento do evento e produzir modelos de computador do fluxo.
Dados de satélite importantes para futuras avaliações do risco em montanha
De acordo com Andreas Kääb, da Universidade de Oslo, a rocha, calculada em 80% na avalanche, converteu completamente os 20% de gelo glaciar em água. Esta conversão foi em grande parte responsável pelo impacto devastador da onda de inundação de lama e detritos resultante.
Segundo Frank Paul, da Universidade de Zurique, e líder científico do projeto Glaciers_cci, este estudo mostra claramente que os dados de satélite podem desempenhar um papel maior em futuras avaliações de alto risco de montanha, em particular para avaliar áreas grandes e inacessíveis.
Atendendo que as avalanches de rochas são conhecidas por serem altamente móveis, de longo alcance e devastadoras quando se misturam com neve e gelo, os investigadores sugerem que num clima mais quente tais eventos podem estar a acontecer com mais frequência, e que todo o potencial de conhecimento dos dados de satélite deve ser utilizado para identificar regiões possivelmente em perigo.