Riscos e impactos do forte temporal de chuva que chegará a Portugal
Da seca aos incêndios até à chegada de uma tempestade que chegou a ser o furacão Danielle. Apesar da precipitação ser, nesta altura, muito desejada em Portugal continental, existem vários riscos e impactos associados a este evento de chuva forte. Saiba mais aqui!
Esta sexta-feira aquilo que resta de Danielle transformou-se em apenas uma típica tempestade das latitudes médias, mais uma das que costuma circular no Atlântico Norte e que rumará, dentro de poucos dias à Península Ibérica. Situar-se-á no domingo defronte da costa portuguesa e da Galiza, impulsionando uma potente advecção de sudoeste.
Estando nesta posição, arrastará ar muito húmido - de origem marítima subtropical – que irá penetrar em Portugal continental pela faixa costeira ocidental. Isto traduzir-se-á num rio de humidade (ou rio atmosférico) que transportará uma enorme quantidade de água precipitável e que, desta forma, contribuirá para que as sucessivas frentes desta tempestade sejam bastante eficientes no que diz respeito à quantidade de chuva.
Mas afinal, o que é um rio de humidade ou rio atmosférico?
Um rio de humidade é uma grande massa de ar, que se prolonga através de uma longa faixa sobre mares subtropicais e, portanto, é temperada, contendo um elevado teor de humidade e um grande potencial para descarregar forte precipitação.
Quando arrastado para latitudes mais altas, adquire uma forma característica de língua, ou rio, muito percetível em mapas sinóticos de humidade e água precipitável.
Quais são os riscos e impactos deste evento de chuva intensa em Portugal continental?
Este rio atmosférico, carregado de humidade e água precipitável, pode naturalmente acarretar riscos para o nosso país, nomeadamente ao nível dos solos do território continental.
Um rio de humidade pode vincular-se à intensidade das chuvas e, como tal, há que ter em conta o risco acrescido que esta forte precipitação pode ter em solos desgastados como os nossos, sobretudo tendo em conta a situação caótica vivida nos últimos meses em Portugal continental: incêndios florestais de grandes dimensões e a grave seca, que nos atormenta desde novembro de 2021 e que não pára de se agravar.
Solos calcinados e secos
Após os incêndios que assolaram o nosso país durante o verão, e a grave seca que o país atravessa, a preocupação das autoridades responsáveis deveria prender-se com o regresso impactante e generalizado da chuva, isto é, a sua distribuição pelo país inteiro em quantidades significativas.
As vastas regiões afetadas pelos fogos em 2022, ascendem pelo menos a 660 mil hectares, e, com as “chuvadas” que se avizinham a partir de domingo (11), enfrentam agora novos problemas: a erosão dos solos e a possível contaminação de rios e albufeiras com as cinzas e outros poluentes, transportados pela escorrência das águas.
Os solos calcinados e ressequidos estão, por isso, mais vulneráveis à erosão e à possível perda das suas propriedades.
Incapacidade de infiltração, absorção e retenção da água da chuva
Nalgumas regiões a quantidade de precipitação poderá ser demasiado abundante num curto espaço de tempo. E a prolongada situação de seca que se arrasta há vários meses só agrava os impactos da chuva nestas áreas: os solos serão, provavelmente, incapazes de infiltrar e reter de maneira eficaz a água.
Além disso, solos áridos ou com pouca vegetação não absorvem tão bem a água, porque a falta ou inexistência das raízes de árvores que fixam o solo atenuam o impacto da água sobre o mesmo.
Quanto a rios e ribeiras, quando estão quase secos, podem entrar numa fase de entulhamento, com leitos muito sobrecarregados de aluviões, não sendo capazes de providenciar um canal com capacidade suficiente para o escoamento rápidos de grandes volumes de água. Como se não bastasse, nem todos os materiais rochosos de base apresentam o mesmo comportamento em relação à infiltração e à retenção da água.
Risco de inundações-relâmpago e possíveis deslizamentos de vertente
Já nas áreas urbanas com baixa permeabilidade ou até mesmo inexistente (solos impermeáveis), a quantidade de água poderá ser superior à capacidade de escoamento, resultando em inundações-relâmpago (flash floods), o que poderá causar estragos em infraestruturas.
Como se não bastasse, o arrastamento de fluxos de detritos provocado pela força da chuva pode originar deslizamentos de vertentes, sobretudo em áreas já bastante erodidas.