Risco de asteroides gigantes atingirem a Terra é maior do que se pensava

Num novo estudo os cientistas sugerem que algumas colisões de asteroides podem ter sido maiores do que se pensava anteriormente. Afinal, o que está em causa? Estará a Terra em perigo?

asteroide; Terra; impacto
Novo estudo sugere que o risco de asteroides gigantes atingirem a Terra é maior do que se pensava até agora. O que está, então, em causa?

Desde há muitos anos que o medo do impacto de um asteroide no planeta Terra povoa o imaginário coletivo da Humanidade. E agora, as mais recentes informações científicas sobre este assunto vieram a público, tendo sido divulgadas pelo cientista-chefe do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, James Garvin, na Conferência de Ciência Lunar e Planetária 2023 que decorreu em Woodlands, a norte de Houston, Texas (EUA).

De acordo com este especialista, é bem possível que os cientistas tenham interpretado erradamente os vestígios de alguns dos impactos de asteroides mais severos que o planeta já registou à superfície nos últimos milhões de anos.

Se Garvin estiver correto, as probabilidades de a Terra ser atingida por um objeto indesejado de dimensões consideráveis é maior do que as atuais estimativas preveem. O cientista foi mais longe e chegou mesmo a afirmar, durante a sua apresentação na Conferência de Ciência Lunar e Planetária 2023, que “estaria na ordem do dia acontecer uma grande porcaria.” - James Garvin, cientista-chefe do Centro de Voo Espacial Goddard, NASA.

Como todos sabemos já desde os tempos da escola, o mais famoso de todos os impactos de meteoritos foi aquele que aniquilou mortalmente os dinossauros, provocando um buraco na crosta daquilo que é hoje a Península de Yucatán (México e partes de Belize e Guatemala).

O terrível evento de extinção em massa aconteceu há cerca de 66 milhões de anos e, para além de ter destruído maciçamente os dinossauros, acredita-se ter sido responsável por devastar mais de 60% das formas de vida terrestres. Pensa-se que, nessa altura, o asteroide gigante que atingiu o nosso planeta, possuísse cerca de 10 quilómetros de diâmetro.

As “cicatrizes” terrestres, provas de asteroides relativamente difíceis de encontrar

Impactos bem mais pequenos são capazes de sacudir poeira suficiente para lançar um manto de partículas sobre o planeta e desencadear, potencialmente, vários anos de fome. De acordo com algumas estimativas, a cada 600.000 anos aproximadamente, os asteroides com km’s de diâmetro impactam a superfície terrestre numa explosão de calor e poeira.

Não há uma data definida ou prevista para estes acontecimentos e as estimativas são tão boas quanto a quantidade e qualidade de dados utilizados para a elaboração de previsões, o que por vezes pode condicionar, ou subestimar, o real perigo representado por um asteroide.

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No novo método de análise levado a cabo por Garvin e a sua equipa, descobriu-se evidências de que os asteroides que impactaram a Terra no passado eram ainda maiores do que se pensava.

Apesar da Humanidade já ser capaz de sondar o céu à procura de evidências de rochas suficientemente grandes para desencadear uma catástrofe no nosso Lar, o registo geológico de impactos severos de meteoritos estende-se indefinidamente no tempo, possivelmente até aos primórdios da formação da Terra. Quanto mais recuamos no tempo, mais complexa e difícil se torna a leitura dos registos geológicos, uma vez que a atmosfera e a litologia terrestres, em todas as suas dimensões limitam tudo aquilo que tenha impactado na superfície do planeta.

Referimo-nos, claro, aos ventos dinâmicos da Terra, à água, à tectónica de placas, a fósseis e poeiras. Todos estes aspetos litológicos, biológicos e atmosféricos, entre outros, moldam a realidade terrestre, ocultando potenciais provas de catástrofes passadas.

Um mais atento método de análise levou os cientistas à nova e assustadora conclusão

O que conduziu Garvin e a sua equipa a esta nova e assustadora conclusão foi a utilização de um novo catálogo de imagens de satélite de alta resolução que permitiu um olhar mais atento sobre os restos meteorizados - ou desgastados para que se possa entender numa linguagem mais informal – de algumas das maiores crateras de impacto formadas nos últimos milhões de anos. Isto constituiu uma tentativa de avaliar melhor a verdadeira dimensão das crateras.

A meteorização é um processo natural de desintegração de rochas e solos causada por efeitos biológicos, químicos e físicos, provocados pela exposição a agentes externos.

A análise de Garvin e a sua equipa permitiu-lhes identificar sinais mais ténues de “anéis” fora daquelas que tinham sido marcadas como as áreas limites do impacto destes asteroides. Desta forma, estes cientistas presumiram que os mencionados objetos celestes podem, efetivamente, ter sido maiores do que se pensava até agora.

Até agora considerava-se que uma das crateras mais proeminentes na Terra, uma depressão com 12 a 14 quilómetros de diâmetro localizada no atual Cazaquistão – a Zhaminshin – fora causada por um meteoro com diâmetro de 200 a 400 metros há cerca de 90.000 anos e que pode até mesmo ter dado origem a um evento de “inverno nuclear”.

Contudo, a nova análise sugere que a cratera tem aproximadamente 30 km de diâmetro, o que indica que não só o meteoro era maior do que se pensava, como também o evento daí consequente tenha sido ainda mais catastrófico. Outras três grandes crateras também foram recalculadas e em todas, o diâmetro duplicou ou triplicou de tamanho. Este estudo encontrou implicações de que objetos de tamanho quilométrico aparecem de dez em dez mil anos.

Apesar das evidências encontradas neste estudo, os cientistas avisam que os “anéis” recentemente encontrados não têm necessariamente de ser provenientes dos impactos. Os investigadores apontam como possibilidades que: os detritos ejetados dos impactos tenham regressado, “chovendo” num padrão concentrado; ou então não são nada de significativo (apenas um simples fantasma nos dados).

Futuros estudos

Como a Ciência não se move atrás de uma única observação, não se sabe que tipo de consequências este género de impactos possa ter tido na Terra, e, assim, será preciso efetuar mais estudos para comprovar a teoria de Garvin et al. e retirar mais conclusões.

Os impactos de meteoros, sendo difíceis de prever, levaram a NASA a testar o sistema de defesa DART e que poderá, em caso de necessidade, proteger a Terra de colisões com estes objetos espaciais.