Rio fervente: fenómeno único na natureza fica na Amazónia e tem água de quase 100 °C

A Amazónia é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo, tanto que já foi até chamada como o “coração do planeta”. Refere-se a um conjunto de ecossistemas que abrange a Floresta Amazónica e a Bacia Amazónica.

E este bioma não é exclusivo do território brasileiro; abrange áreas de outros países também, que são: a Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

E é justamente na Amazónia peruana que se localiza este fenómeno único e inusitado: o rio fervente Shanay-Timpishka, que alcança temperaturas de até 99 °C e literalmente queima quem entra nele. Aliás, nenhum animal sobrevive nestas águas.

A história do rio Shanay-Timpishka

Conta a lenda que o povo inca que habitava a região antigamente já falava sobre a existência de um rio fervente. Depois, quando os espanhóis chegaram à região, também tê-lo-iam encontrado – e alguns teriam morrido dentro das suas águas.

Quando a ciência começou a investigar, algo não parecia certo, já que as águas quentes são tipicamente associadas a fontes termais geotérmicas normalmente alimentadas por atividade vulcânica subterrânea. E a Amazónia não tem nenhum vulcão próximo. Então, de início, parecia tratar-se de uma lenda.

Mas, em 2011, o geólogo peruano e especialista em energia geotérmica Andrés Ruzo, doutor pela Universidade Metodista do Sul, no Texas, resolveu investigar mais a fundo e confirmou a existência deste rio fervente.

O Shanay-Timpishka, que é o rio mais quente do mundo, foi encontrado por Ruzo numa expedição quando o geólogo chegou às águas quentes com névoas de vapor de água a pairarem sobre elas e fez uma primeira medição. O termómetro marcou 86 ºC naquele momento, e depois, noutras medições chegou a 99,1 ºC. Para se ter uma ideia do quão quente é isto, cozinhamos os nossos alimentos a partir dos 47 ºC.

Porque é que o rio é tão quente?

Após várias análises, o geólogo demonstrou que o rio não precisa de ação do “vulcanismo” para ter temperaturas altíssimas.

Segundo ele, as águas podem estar a vir das chuvas ou até mesmo dos glaciares que estão a derreter nos Andes. O gelo derretido infiltra-se profundamente abaixo do solo, em rochas sedimentares porosas, onde é aquecido pela energia geotérmica do interior da Terra.

Depois disso, ao encontrar uma falha geológica, a água quente seria forçada a subir até à superfície, reaparecendo na região Amazónica e dando origem a este rio de temperaturas extremas.

Segundo o especialista, numa entrevista à Revista Galileu, o rio é sagrado para os povos indígenas da região e deve ser preservado. Contudo, com respeito e da forma correta, ele pode ser utilizado para estudar indícios de outros sistemas geotérmicos no Peru que possam ser melhor aproveitados.

Referências da notícia

At Over 86°C, The "Boiling River" Of The Amazon Can Literally Cook You Alive. 22 de novembro, 2024. Laura Simmons.

Shanay-Timpishka: conheça o rio peruano que ferve no meio da Amazônia. 14 de abril, 2020. Larissa Lopes.