Rio atmosférico deixou Califórnia inundada: desde 1849 que não chovia tanto
Na passada semana, São Francisco, na Califórnia, registou das maiores inundações que há registo. Norte e Centro da Califórnia foram afetados por um rio atmosférico, que cortou a energia a milhares de famílias e inundou ruas. Saiba mais aqui!
Durante o passado sábado (31 de dezembro 2022), Véspera de Ano Novo, registou-se o segundo dia mais chuvoso de São Francisco (EUA) de que há registo (apenas atrás de 1849). Além disso, verificaram-se inundações e elevada quantidade de precipitação, o que forçou o encerramento da rodovia 101, no sul de São Francisco, por aproximadamente 8 horas.
Durante esta tempestade, uma grande quantidade de precipitação foi registada nas áreas de planície e de neve na montanha. Em 170 anos, esta foi a segunda maior tempestade!
O que são estes rios atmosféricos?
O mau tempo deve-se, pois, a um conjunto de rios atmosféricos, ou corredores de humidade tropicais, com origens tão distantes como o Hawai. Estes rios chegam à Califórnia através de correntes de humidade, que se deslocam para leste entre dois sistemas climáticos com rotação oposta. Um baixo, cuja orientação ocorre num sentido anti-horário a norte, e outro de alta pressão no sentido horários aos trópicos a sul. Estes dois sistemas trabalham em conjunto, provocando a deslocação de ar tropical com muita humidade em direção a leste.
Os rios atmosféricos carregam a humidade, mais pesada, em cerca de 1km acima do solo, sendo, por isso, que as grandes cordilheiras Costeira e da Serra Nevada, acabam com os elevados valores totais de precipitação. No entanto, convém deixar claro que o episódio de sábado foi ligeiramente diferente.
Apesar do processo se ter iniciado com um rio atmosférico, a transição para um evento clássico de precipitação associado a um centro de baixas pressões ficou bem patente. De facto, isto gerou precipitação e tempestades isoladas, originando os valores brutos mais elevados de precipitação.
Precipitação e neve contribuem para o caos na Califórnia
No sábado dia 31 de dezembro de 2022, o centro de São Francisco registou 139 mm de precipitação, o que é algo histórico. Em 3 horas, entre as 10h e as 13h, a estação do aeroporto registou 67 milímetros. Repare-se no facto de dezembro se constituir como o mês mais chuvoso na cidade, com uma média de 121 mm de precipitação. No entanto, os quantitativos de precipitação na véspera do Ano Novo fizeram com que o total de dezembro de 2022 se cifrasse em mais do dobro – 297 mm.
A precipitação foi de tal ordem intensa e contínua no tempo, que as autoridades do condado de Sacramento tiveram a necessidade de aconselhar os residentes da cidade de Wilton a evacuarem a área do rio Cosumnes, e a refugiarem-se em áreas de maior altitude imediatamente. O mesmo aconteceu noutras áreas do condado de Sacramento. A barragem no condado de Sacramento ficou à beira de uma falha iminente.
Por exemplo, as autoridades relataram a fontes locais que tiveram de resgatar aproximadamente meia centena de pessoas na Rodovia 99. Da mesma forma, também mais de 145 000 pessoas ficaram sem energia na Véspera de Ano Novo, fazendo com que os habitantes desta região entrassem no ano de 2023 sobressaltados e de forma ligeiramente diferente àquela que seria normal noutra ocasião.
Se por um lado se verificou nas áreas de menor altitude altas taxas de precipitação, por outro, as áreas de maior altitude registaram também a queda de neve. Na Serra Nevada, a neve caiu predominantemente acima dos 2000 metros e com acumulações excecionais acima dos 2700 metros. Segundo dados da Universidade da Califórnia, no Berkeley Central Sierra Snow Lab, a taxa de precipitação sob a forma de neve ascendeu aos 190 mm por hora na tarde de sábado.
Espera-se que nova tempestade de neve ocorra na Califórnia. Da mesma forma, é esperada precipitação, o que, embora seja bem-vinda, considerando a longa seca severa que ocorreu no Estado, representa um risco adicional para inundações pelo facto do solo estar saturado.
Dias com 50 ou mais mm de chuva são muito mais comuns do que dantes
Várias referências apontam para que estas tempestades sejam mais comuns devido aos efeitos das mudanças climáticas induzidas pelo Ser Humano, embora seja sempre de relevar algumas destas aceções. A frequência de eventos de precipitação intensa está a aumentar acentuadamente, mesmo que o total de precipitação anual possa não demonstrar a mesma tendência.
Segundo dados da estação do Aeroporto Internacional de São Francisco, é possível perceber que dias com 50 ou mais milímetros de precipitação são atualmente 60% mais comuns do que em comparação com a década de 1950.