Ressonância revela primeira imagem do cérebro com alta precisão, auxiliando no combate ao Alzheimer e Parkinson
A equipa que revelou a imagem é francesa, e trata-se de um resultado de mais de 20 anos de investigação. O aparelho de ressonância mede cinco metros e tem uma entrada de 90 centímetros de diâmetro por onde o paciente entra.
A Comissão de Energia Atómica da França (CEA) informou em comunicado que obteve imagens de cérebros humanos capturadas pelo scanner de ressonância magnética mais poderoso do mundo. Segundo a organização científica, o nível de precisão alcançado poderá contribuir para a procura de respostas que existem em torno deste órgão complexo, e ao mesmo tempo aprofundar as ligações neuronais e a atividade cerebral em pacientes saudáveis e doentes.
A experiência foi possível graças a um grupo de voluntários que se submeteu a uma inspeção que durou quatro minutos. Naquela altura, o poderoso scanner obteve imagens anatómicas do cérebro que nunca tinham sido vistas antes.
Este sucesso é resultado de mais de 20 anos de investigação e desenvolvimento do projeto denominado Iseult, cujo principal objetivo era projetar e construir o aparelho de ressonância magnética mais potente do mundo. Segundo a CEA, a máquina utiliza tecnologia de ressonância magnética com uma intensidade de campo magnético de 11,7 Teslas – uma unidade de medida cunhada em homenagem ao cientista Nikola Tesla – que atendeu amplamente às expectativas.
As imagens possuem uma resolução impressionante para um tempo de aquisição tão curto: 0,2 mm no plano e 1 mm de espessura de corte, o que representa um volume equivalente a alguns milhares de neurónios. Para efeito de comparação, a mesma qualidade de imagem exigiria horas com aparelhos de ressonância magnética atualmente disponíveis em hospitais (1,5 ou 3 Teslas) e também não é possível na prática, pois os pacientes não se sentiriam confortáveis e qualquer movimento “desfocaria” a imagem.
Avanços no estudo das doenças neurodegenerativas
O nível de precisão alcançado com a máquina terá grande impacto na investigação médica graças às informações anatómicas obtidas que são extremamente detalhadas e servirão para confirmar diagnósticos em doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson. Além disso, foi projetado para facilitar a deteção de algumas espécies químicas com sinais fracos que são difíceis de capturar em campos magnéticos menos potentes.
Desde os primeiros estudos, a equipa de investigadores conseguiu observar que uma determinada área do cérebro, o hipocampo, está envolvida na doença de Alzheimer, pelo que esperam poder descobrir “como é que as células desta parte do cérebro trabalho do córtex”. Este é apenas o início de uma nova era na procura de respostas médicas para os 46,8 milhões de pessoas que vivem com a doença de Alzheimer ou outras demências, que poderão atingir os 74,7 milhões até 2030.
Este equipamento médico de altíssima tecnologia também facilitará a deteção de algumas espécies químicas com sinais fracos e difíceis de captar em campos magnéticos inferiores e no curso que seguem no cérebro, como o lítio (medicamento utilizado no tratamento de transtornos bipolares) ou moléculas ativamente envolvidas no metabolismo cerebral, como glicose e glutamato.
Um mundo completamente novo abre-se para a medicina que trata do estudo do cérebro, pois a partir de agora será possível obter informações antes inatingíveis sobre os mecanismos cerebrais e as conexões neuronais. Com esta máquina podemos ver os pequenos vasos que alimentam o córtex cerebral, ou detalhes do cerebelo que até agora eram quase invisíveis.
Referência da notícia:
CEA. "A world premiere: the living brain imaged with unrivaled clarity thanks to the world’s most powerful MRI machine". 2024.