Recorde de ciclones tropicais no Atlântico: ligado à crise climática?
O furacão Iota foi a 30ª tempestade a formar-se no Atlântico em 2020, consolidando este como um ano sem precedentes para a frequência desses fenómenos.
O recorde do maior número de tempestades no Atlântico nomeadas num único ano já havia sido quebrado no dia 10 de novembro pela tempestade Theta, a 29ª da atual temporada, superando o recorde anterior estabelecido em 2005.
Tempestades mais fortes no Atlântico
Os cinco anos mais quentes no oceano desde 1955 foram os últimos cinco. Um estudo publicado em junho confirmou esta tendência, constatando que a proporção das tempestades mais fortes está a aumentar cerca de 8% por década. O furacão Eta foi um dos mais intensos de 2020, tendo alcançado categoria 4 após rápida intensificação.
Cada vez existem mais ciclones tropicais que se desenvolvem rapidamente, um fenómeno conhecido como intensificação rápida. Essa característica é uma ameaça porque torna mais difícil prever como uma tempestade se comportará. Nove das tempestades tropicais da temporada do Atlântico 2020 (Hannah, Laura, Sally, Teddy, Gamma Delta, Epsilon, Zeta e Eta) sofreram uma rápida intensificação.
O mais recente ciclone tropical no Atlântico, Iota, devastou no seu trajeto 98% da infraestrutura da Ilha de Providencia (Colômbia), onde o hospital central ficou totalmente destruído e todo o arquipélago, que reúne as ilhas de San Andrés, Santa Catalina e Providencia, encontra-se sem luz. Deslocou-se em direção a Honduras e Nicarágua, países que recuperam ainda dos estragos causados pelo furacão Eta há apenas duas semanas.
Espera-se que a época dos furacões do Atlântico dure até dezembro deste ano, o que significa que o Iota poderá não ser o último. Os cientistas climáticos dizem que a época recorde de furacões deste ano e o impacto sem precedentes para a América Central tem uma ligação clara com a crise climática.
Causas para intensificação dos furacões
De acordo com o cientista sénior do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, Kevin Trenberth, com o aquecimento global causado pelas atividades humanas há mais energia disponível que resulta num maior número de tempestades; maior intensidade; maior duração; mais precipitação e potencial para cheias.
Segundo Hiroyuki Murakami, cientista de projeto da Corporação Universitária de Pesquisa Atmosférica e do Laboratório de Dinâmica dos Fluidos Geofísicos da NOAA, o declínio da poluição particulada devido às medidas de controlo da poluição aumentou o aquecimento do oceano, permitindo que mais luz solar fosse absorvida pelo oceano. Este aquecimento local levou ao aumento da atividade dos ciclones tropicais nos últimos 40 anos no Atlântico Norte.
Outra causa estaria relacionada ao vulcanismo. Segundo o investigador, os furacões no Atlântico Norte ficaram relativamente inativos entre os anos 80 e 90, devido às grandes erupções vulcânicas em El Chichón no México, em 1982, e Pinatubo nas Filipinas em 1991, que causaram o arrefecimento da atmosfera do hemisfério norte. "O aquecimento oceânico recomeçou desde 2000, levando a uma recuperação da atividade dos furacões no Atlântico Norte."
Uma atmosfera mais quente pode conter mais água, provocando chuvas extremas durante os ciclones, o que aumenta a ameaça de cheias. Os cientistas relacionaram diretamente o aumento da humidade atmosférica com a mudança climática causada pelo homem, e o número de eventos pluviométricos que quebram recordes globalmente aumentou significativamente nas últimas décadas.
A evidência da influência da crise climática não está tanto no recorde de 30 tempestades tropicais no Atlântico até agora este ano, mas na força, na rápida intensificação e na precipitação total destes sistemas climáticos.