Radiografia à agricultura em Portugal. Há menos explorações agrícolas, mas maiores e a produtividade sobe 14,7% este ano
O INE acaba de divulgar a estimativa das contas económicas da agricultura para 2024 e os resultados do Inquérito à Estrutura das Explorações Agrícolas. A superfície agrícola caiu 2,6% face a 2019, mas a produtividade aumentou.
O número de explorações agrícolas em Portugal caiu 9,9% em 2023, face aos últimos dados recolhidos em 2019, revelou o Instituto Nacional de Estatística (INE) nesta terça-feira, 10 de novembro.
Foram contabilizadas 261,5 mil explorações agrícolas, o que representa uma quebra de 9,9% face aos números de 2019. Por área, foram contabilizados 3,861 milhões de hectares de superfície agrícola utilizada (SAU) em Portugal, o que significa menos 2,6% do que em 2019. A SAU, recorde-se, é definida tecnicamente como o conjunto das terras aráveis (limpas e sob coberto de matas e florestas) de um país, as suas culturas permanentes, pastagens permanentes e hortas familiares.
O INE faz notar, no relatório publicado ontem, que esta aceleração do ritmo de redução do número de explorações agrícolas desde 2019, em particular das de pequena dimensão, tem sido “generalizado a todas as NUTSII” (Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins Estatísticos).
Por sua vez, a dimensão económica média por exploração agrícola também subiu, para os 31,4 mil euros de VPPT (Valor de Produção Padrão Total). Em 2019 era de apenas 23,3 mil euros de VPPT.
Um dos principais problemas é mesmo a idade média dos agricultores e dos proprietários agrícolas. Em 2019, os produtores agrícolas em Portugal eram maioritariamente homens (67,1%) e tinham, em média, 64 anos (mais dois anos que a média em 2009).
Rendimento agrícola aumenta
No mesmo dia em que o INE divulgou os resultados do Inquérito à Estrutura das Explorações Agrícolas, também publicou uma estimativa das contas económicas da agricultura para 2024.
Em termos reais, o rendimento da atividade agrícola este ano, por unidade de trabalho ano (UTA), deverá aumentar 14,7%. Tal deve-se, segundo o mesmo Instituto, ao “forte crescimento" esperado dos 'Outros subsídios à produção' a pagar em 2024 (128,4%), uma vez que se perspetiva um aumento apenas ligeiro do valor acrescentado bruto (VAB) (1,0%)”.
Vamos por partes. Comecemos pela produção vegetal.
A evolução nominal negativa prevista para a produção vegetal em Portugal este ano (-1,4%) resulta, segundo o INE, de “um acréscimo em volume de 5,1% e de uma redução dos preços de base (-6,2%)”. Para este decréscimo nominal, os vegetais e produtos hortícolas, as plantas forrageiras e o azeite foram “determinantes”.
Nos cereais, as estimativas de produção apontam para um aumento em volume (10,5%). Com exceção do milho - cuja produção deverá cair 14,8% -, todas as culturas cerealíferas aumentaram. Os preços de base, esses, terão aumentado 2,5%.
Nas denominadas plantas industriais, os números são positivos. A produção deverá registar um aumento de 19,6% em valor, principalmente devido ao crescimento dos preços (+ 22,7%), com destaque para as proteaginosas e a cana-de-açúcar.
Relativamente ao girassol, o INE refere que “o ano não propiciou uma boa produção”. Prevêem-se, por isso, “decréscimos do volume e do preço (-20,4% e -2,2%, respetivamente).
Produção de batata a cair
Nas plantas forrageiras, estima-se um acréscimo em volume (9,6%). Já quanto aos vegetais e produtos hortícolas, o INE prevê “um aumento em volume (8,1%), que reflete, sobretudo, a evolução dos hortícolas frescos”. Aqui, destaca-se o tomate para indústria, cuja produção deverá “aumentar 3,5% devido ao alargamento da área cultivada em 5%, uma vez que a produtividade e respetiva qualidade diminuíram”.
A redução do preço dos vegetais e produtos hortícolas (-9,4%), essa, “deve-se fundamentalmente aos hortícolas frescos (-14,2%)”. O INE faz notar que, em 2023, o preço dos hortícolas frescos tinha aumentado 23,2%.
Em queda (6,4%, em volume) está a produção de batata em Portugal, este ano. Houve decréscimos de área e de produtividade nas principais regiões produtoras, o que deverá provocar um aumento de 5% nos preços, “refletindo a redução da produção”.
Nos frutos, prevê-se um acréscimo da produção em volume (7,3%), com destaque para as azeitonas (27,1%).
Já quanto ao vinho, e sabendo-se que as vindimas decorreram com normalidade (apesar dos elevados stocks de vinho por escoar de anos anteriores), é estimado “um decréscimo de produção face ao ano anterior (-5,0%)”. Em todo o caso, e apesar de “alguns problemas fitossanitários”, o INE diz que “são esperados vinhos de boa qualidade”.
A produção e, sobretudo, o preço do azeite, esses, estão sempre no centro da atenção dos consumidores. Note-se que, em janeiro de 2024, o preço médio subiu 69% em Portugal, em resultado da escassez de produto, nomeadamente em Espanha, que é o maior produtor e dita, em grande medida, os preços do mercado. Em 2022/23, a produção de azeite atingiu apenas 666 mil toneladas.
Neste ano civil, o cenário é bem mais positivo. A produção expectável de azeite deverá crescer 18,7% em volume, em resultado da “conjugação da excelente campanha anterior (2023/2024) com a boa campanha em curso (2024/2025)”. Em consequência, “o preço deverá registar uma diminuição acentuada (-29,3%)”.
Produção animal em alta, leite em queda
Por sua vez, a produção animal, no geral, deverá registar um acréscimo em volume (3,6%) este ano, e uma diminuição dos preços de base (-3,5%), resultando numa estabilização do valor. Contudo, a conjuntura varia de espécie para espécie.
Comecemos pelo leite. Na produção, está estimada uma ligeira queda em volume (-0,9%), que é mais acentuada no preço (-7,5%). Em 2023 houve um aumento de 17,0%, refere o INE.
Nos bovinos, as estimativas apontam para um acréscimo (5,3%) em volume face a 2023, devido ao aumento do abate de bovinos adultos, em particular de novilhos, o que estará relacionado com “perturbações de exportações de animais vivos para Israel, decorrentes de razões sanitárias e bélicas”, diz o INE. O preço de base deverá ser “semelhante ao de 2023”.
Nos ovinos e caprinos o cenário é ainda melhor. Perspetiva-se um acréscimo da produção em volume (15,0%), “em função dos abates em peso limpo face a 2023, em especial de borregos”, mas os preços de base, esses, “são bastante superiores aos do ano transato (20,6%), como consequência do aumento dos montantes pagos classificados como subsídios ao produto”.
Nas aves de capoeira haverá um acréscimo do volume (5,5%), devido a “uma maior produção de frango e de peru (produção particularmente afetada por problemas sanitários em 2023)”. Os preços caíram 2,9%.
O consumo de todos estes bens, esse, deverá cair, ainda que ligeiramente (-1,3%), em valor, este ano, diz o INE. Isto, apesar do aumento em volume (2,5%).