Que futuro para os Jogos Olímpicos de Inverno?

Geralmente, as Olimpíadas de Inverno são realizadas em locais caracterizados pelos nevões intensos ou pelo constante nevoeiro. Mas será que no futuro será assim? Será necessário adaptar este hábito a outra realidade? Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!

Nevão.
Imagem de Pequim depois de um nevão, algo cada vez mais raro, com impactes severos no desenvolvimento dos desportos de inverno.

Os Jogos Olímpicos de Inverno a decorrer em Pequim, China, durante este mês parecem apresentar uma visão diferente do habitual “inverno”. Em certos locais utilizados para os treinos dos atletas e para a realização das provas de esqui, snowboard, trenó e luge (Yanqing e Zhangjiakou), situados a cerca de 75 km a Noroeste de Pequim, apresentam uma fina camada de neve, com os principais relevos a apresentarem uma cor acastanhada, típica do outono.

É atualmente impensável realizar um evento da envergadura dos Jogos de Inverno sem ponderar a utilização de neve artificial e de pistas de gelo cobertas e refrigeradas.

A falta de neve fez com que estes sejam os primeiros Jogos de Inverno, de sempre, a depender na totalidade de neve artificial. Este facto leva, invariavelmente, a uma reflexão sobre como serão os Jogos Olímpicos de Inverno no futuro, tendo em conta as alterações climáticas e as subidas das temperaturas que se verificam em vastas regiões do planeta. É seguro afirmar que as alterações climáticas são o principal desafio para os desportos de inverno, tanto na atualidade como no futuro.

Há mesmo relatos que indicam que certos locais de treino, que são utilizados pelos praticantes de desportos de inverno, como o glaciar Whistler's Horstman no Canadá, estão a desaparecer rapidamente, deixando de ser seguros para a prática desportiva. Isto deve-se, em grande parte, ao facto de os sucessivos invernos no Hemisfério Norte estarem cada vez mais quentes.

Por exemplo, os Jogos Olímpicos de Inverno realizados em Vancouver (2010) e em Sochi (2014) decorreram em condições de temperatura muito superiores aos realizados no século XX. Para que se tenha uma ideia, os Jogos realizados entre 1920 e 1950 registaram uma temperatura média diurna de 0,4 °C. Já entre 1960 e 1990 as temperaturas subiram para os 3,1 °C. Desde o início deste século, incluindo o evento que está a decorrer, a temperatura média diurna em fevereiro subiu para os 6,3 °C.

Tudo isto faz com que o inverno seja uma estação do ano cada vez menos propícia aos desportos que tradicionalmente se realizam nessa altura do ano. As temperaturas baixas promovem neve e gelo de qualidade, ao invés das temperaturas mais amenas que tornam a neve demasiado húmida, macia e imprópria para utilização em alta competição. É atualmente impensável realizar um evento da envergadura dos Jogos de Inverno sem ponderar a utilização de neve artificial e de pistas de gelo cobertas e refrigeradas.

O que pode ser feito para alterar este cenário?

Foram desenvolvidos alguns estudos nos últimos anos sobre a possibilidade de organizar os Jogos Olímpicos de Inverno no futuro, nos mesmo locais onde se realizaram no passado. Com a preciosa colaboração de 339 atletas e 20 treinadores de várias nacionalidades, foi possível apurar que se o planeta continuar a emitir gases com efeito de estufa da mesma forma que fez até agora, apenas Sapporo, no Japão, será um local viável para a realização de desportos de inverno ao ar livre até 2080.

No entanto, se os países conseguirem reduzir as emissões de CO2, convergindo nas metas criadas como o Acordo de Paris, pelo menos 8 locais dos 21 antigos locais onde se realizaram Olimpíadas de Inverno, espalhados pelo continente asiático, europeu e norte-americano continuarão a registar temperaturas suficientemente frias para apresentar as condições ideais à prática de desportos de inverno.

O combate às alterações climáticas e a sua mitigação revestem-se, assim, de especial importância. O planeamento de um evento como as Olimpíadas de Inverno é meticuloso e ocorre com vários anos de antecedência, logo é importante compreender previamente este tipo de dados, antes de serem tomadas decisões.