Quase 2 milhões de km/h! Exoplaneta mais rápido foi encontrado na parte central da Galáxia

O exoplaneta encontrado é maior do que Neptuno e tem uma velocidade de quase 2 milhões de km/h quebrando o recorde de exoplaneta mais rápido.

Exoplaneta mais rápido
Exoplaneta mais rápido já observado está a acompanhar uma estrela e é possível que um dia ele escape da Via Láctea. Crédito: NASA

Qualquer planeta que não orbita o Sol é chamado de exoplaneta. As primeiras observações de exoplanetas aconteceram em 1992 e atualmente milhares de exoplanetas foram encontrados. Diferentes tipos destes objetos foram encontrados e alguns até com propriedades semelhantes às da Terra. Entender os exoplanetas também ajuda a entender a existência de vida e como a Terra surgiu.

A busca por exoplanetas envolve telescópios espaciais e terrestres que utilizam diferentes métodos de deteção. Um desses métodos é chamado de trânsito planetário que é a observação da diminuição do brilho de uma estrela quando um planeta passa à sua frente. Outro método é o da velocidade radial, que deteta pequenas oscilações na posição da estrela causadas pela gravidade do planeta.

Um grupo de astrónomos identificou o exoplaneta mais rápido conhecido, que se move a uma velocidade próxima de 2 milhões de km/h. Este exoplaneta estará a orbitar o centro da Via Láctea dentro de uma região chamada de bojo galáctico (equivalente ao centro da galáxia). O exoplaneta já havia sido observado em 2011 mas foram os resultados de 2021 que impressionaram os astrónomos quando a velocidade do objeto foi estimada.

Movimento das estrelas

Quando observamos as estrelas no céu, elas parecem mover-se por causa do efeito da rotação da Terra. No entanto, apesar desse efeito, as estrelas também possuem movimento próprio que é difícil observar a olho nu devido à distância. O movimento delas segue órbitas elípticas em torno da Via Láctea e como estamos no disco da Galáxia, observar a posição e a velocidade dessas estrelas é influenciada pela perspectiva.

O próprio Sol orbita o centro da Via Láctea a uma velocidade de aproximadamente 251 km/s, levando cerca de 225 a 250 milhões de anos para completar uma volta.

Outra característica é que a velocidade das estrelas na galáxia varia dependendo da sua localização. Quanto mais próximas do centro, mais altas as velocidades, principalmente, no bojo da Via Láctea em que algumas estrelas sofrem o efeito do buraco negro supermassivo. No disco galáctico, as estrelas parecem ter a mesma velocidade devido à presença de matéria escura que mantém as órbitas estáveis.

Bojo galáctico

O bojo da Via Láctea é uma região central e densa da Ggaláxia que possui uma concentração alta de estrelas, gás e poeira. O bojo tem um formato esferoidal e um pouco alongado onde estão concentrados biliões de estrelas. Maior parte das estrelas no bojo são estrelas antigas e pobres em metais que mostra que o bojo foi uma das primeiras estruturas a ser formada durante a formação da Via Láctea.

Além disso, no centro há um buraco negro supermassivo de 4 milhões de vezes a massa do Sol chamado de Sagittarius A*. O movimento das estrelas no bojo da Via Láctea é mais complexo do que no resto da Galáxia. Algumas estrelas seguem órbitas mais caóticas enquanto outras possuem órbitas mais estáveis como no disco. Alguns telescópios como o Gaia tem objetivo de mapear e observar a velocidade e a posição das estrelas.

O exoplaneta mais rápido

Durante observações para obter posições e velocidades das estrelas do bojo, os astrónomos encontraram uma estrela em alta velocidade que levava um planeta consigo. A descoberta aconteceu em 2011 através de um método chamado microlente gravitacional. Na época, já se suspeitava que a estrela tinha cerca de 20% da massa do Sol e o planeta cerca de 29 vezes a massa da Terra.

Observações mostram que a dupla pode ser um planeta maior que Neptuno e uma estrela com 20% da massa do Sol que estão a interagir gravitacionalmente.
Observações mostram que a dupla pode ser um planeta maior que Neptuno e uma estrela com 20% da massa do Sol que estão a interagir gravitacionalmente. Crédito: NASA.

Em 2021, os astrónomos observaram a dupla novamente e ao comparar a posição de 2011 com a de 2021, conseguiram estimar uma velocidade. Estima-se que este sistema esteja a deslocar-se a quase 2 milhões de km/h. Se for confirmado que a dupla se trata de uma estrela com um exoplaneta, será a primeira deteção de um planeta a orbitar uma estrela com hipervelocidade.

Poderia escapar da Via Láctea?

E a velocidade da dupla pode ser até maior do que imaginamos porque a comparação foi feita com base no movimento bidimensional. Caso a estrela tenha uma componente radial em relação a nós, ou seja, esteja a afastar-se ou a aproximar-se de nós, a velocidade pode ser ainda maior. Algumas estimativas sugerem que a velocidade poderiam ultrapassar a velocidade de escape da Via Láctea.

A velocidade de escape é a velocidade mínima que um objeto precisa ter para conseguir escapar do campo gravitacional de outro objeto. Caso seja confirmado que o sistema tenha uma velocidade maior, este poderá deixar a Galáxia e ser atirado para o espaço intergaláctico daqui alguns milhões de anos. Para confirmar, os astrónomos planeiam realizar novas observações em 2026.

Referência da notícia

Terry et al. 2025 A Candidate High-velocity Exoplanet System in the Galactic Bulge The Astronomical Journal