Quando é que chove mais em Portugal: no outono ou no inverno?
Com os dados mais recentes, respondemos a uma das perguntas mais frequentes durante estes meses: em que estação do ano chove mais em Portugal, no outono ou no inverno?
Quando pensamos no clima português, vem-nos à cabeça um mosaico de paisagens e temperaturas que mudam de um lugar para outro. Mas há um aspeto que todos partilhamos: a chuva. Desde as tardes de outono, em que as gotas caem suavemente, até aos dias frios de inverno, em que o céu está coberto de nuvens, a precipitação tem a sua própria história em cada estação. Mas já alguma vez se questionou quando é que chove mais no nosso país: no outono ou no inverno?
A diversidade das chuvas num país de média dimensão e detentor de uma orografia tão complexa
Num país como Portugal - de dimensão média à escala europeia - a distribuição da chuva não é uniforme, isto é, não cai da mesma forma em todas as regiões. A irregular distribuição pluviométrica deve-se, essencialmente, a inúmeros fatores de índole geográfica e climática.
O nosso país possui, regra geral, o chamado clima temperado mediterrâneo, caracterizado por verões quentes ou pouco quentes e secos, invernos chuvosos e outonos e primaveras agradáveis com tempo variável.
Porém, as especificidades do clima em Portugal ainda apresentam mais 2 tipos: clima temperado mediterrâneo com feição marítima nas regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela e Açores e clima temperado mediterrâneo com feição continental no interior Norte e Centro, o que gera grandes diferenças em como e quanto chove (distribuição e quantidade de precipitação medida em milímetros - mm). Isto claro, sem esquecer o arquipélago da Madeira, com a sua variedade de microclimas.
De acordo com a normal climatológica 1991-2020 do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a quantidade de chuva que cai em Portugal varia consideravelmente: enquanto algumas regiões secas do Sul do Continente (Portalegre, Évora, Beja e Faro) recebem cerca de 500-600 mm ou menos por ano, no Minho e nos Açores esse valor pode atingir 1300 mm (Viana do Castelo, Braga e Ponta Delgada) ou ascender a valores entre 1500 e 3000 mm na zona montanhosa do Parque Nacional da Peneda-Gerês e Grupo Ocidental dos Açores (Corvo e Flores).
Com esta variedade, e conhecendo os dados, sobra a pergunta: quando é que chove mais no nosso país?
Outono com visitas de gotas frias e tempestades
O outono climatológico em Portugal dura entre 1 de setembro e 30 de novembro e caracteriza-se por um aumento notável da precipitação, especialmente nos meses de outubro e novembro. Durante este período, a influência das tempestades atlânticas torna-se mais evidente, provocando um aumento da atividade meteorológica. Também é ocasional a formação de gotas frias que podem provocar fortes aguaceiros e trovoada nalgumas zonas do país onde é mais raro chover.
De acordo com os dados do IPMA para o período de referência 1991-2020, a precipitação média do outono climatológico em Portugal varia consideravelmente: no Alentejo a precipitação acumulada cifra-se em valores entre 150 e 300 mm e no Algarve varia entre 200 e 400 mm.
Em contrapartida, as regiões setentrionais e insulares do país apresentam valores muito mais elevados, superiores a 500 mm, destacando-se o Minho (cerca de 800 mm ou até mesmo mais em zonas montanhosas) e os Açores (entre 800 e 1600 mm).
Inverno, a estação das tempestades ou depressões atlânticas
O inverno climatológico, que se estende de 1 de dezembro a 28 ou 29 de fevereiro, é um período importante no que concerne à precipitação em Portugal. Ao longo desta estação, as depressões atlânticas tornam-se mais frequentes e afetam a nossa geografia, o que se traduz num aumento brutal de chuva. Por outro lado, os períodos de acalmia (condicionados pelo anticiclone) também não são raros.
No inverno, tal como no outono, a quantidade de precipitação varia significativamente consoante a localização. Nas Regiões Norte e Centro, em zonas montanhosas como as Serras do Gerês e da Estrela, a chuva pode ultrapassar 1000 mm e em cidades como Viana do Castelo, Braga e Porto os valores médios variam entre 600 e 800 mm.
Em contrapartida, no Sul - Alentejo e Algarve - nas regiões mais secas do interior sul, tais como Évora e Beja, os valores médios situam-se entre 100 e 200 mm. Já o distrito de Faro também tende a apresentar valores reduzidos, embora ligeiramente mais elevados do que nos distritos alentejanos supracitados, com valores entre 150 e 300 mm, mais reduzidos no interior e no Sotavento e mais elevados no Barlavento.
Então, qual é a estação mais chuvosa?
A resposta à questão de saber qual é a estação mais chuvosa em Portugal depende em grande medida da localização geográfica. No entanto, se olharmos para o país como um todo, podemos dizer que, em termos gerais, o inverno tende a registar maior precipitação acumulada do que o outono nas três unidades territoriais portuguesas: Continente, Açores e Madeira.
De acordo com os dados da normal climatológica 1991-2020 e dos relatórios de monitorização climática publicados anualmente pelo IPMA pode-se constatar que a precipitação acumulada no inverno é superior à do outono em Portugal Continental, sobretudo nas regiões Norte e Centro. Em contrapartida, nos Açores e na Madeira, ambas geografias insulares, esta diferença entre estações é menos acentuada e, nalgumas ocasiões, o outono pode somar mais precipitação.
O impacto das alterações climáticas na precipitação
Com as alterações climáticas em curso, o panorama da precipitação em Portugal pode estar prestes a mudar. Nos últimos três anos, fora do período analisado nos gráficos anteriores, o outono passou a liderar a acumulação de precipitação à escala continental, destacando-se os anos de 2022 e 2023, por oposição a 2021 quando o inverno superou o outono, algo que corresponde ao que é esperado. Tendo esta recente alteração em conta, o que é que poderá acontecer no futuro?
Ano | Precipitação acumulada no outono | Precipitação acumulada no inverno |
---|---|---|
2021 | 173,4 mm | 342,9 mm |
2022 | 326,4 mm | 187,6 mm |
2023 | 376,5 mm | 173,3 mm |
Fonte: IPMA |
O futuro poderá trazer perturbações significativas, especialmente com o aumento dos fenómenos extremos. Estes fenómenos significam que, embora um inverno possa parecer seco em média, uma única tempestade ou chuvada torrencial pode acumular num dia o que normalmente choveria durante toda a estação.
Isto compensa os dados anuais, mas não implica que o inverno tenha sido efetivamente húmido. A pluviosidade concentra-se em momentos específicos de grande intensidade, deixando o resto da estação com precipitação escassa.
Esta mudança está a afetar a distribuição e a regularidade da precipitação em todo o país. As regiões que tendem a ter invernos mais secos podem registar chuvas fortes em períodos curtos (p. ex.: Alentejo e Algarve), distorcendo a perceção de uma estação húmida, quando na realidade se trata de um desequilíbrio.
Além disto, as projeções climáticas indicam que a variabilidade na quantidade e distribuição da precipitação continuará a aumentar, pelo que será essencial monitorizar estas alterações para compreender melhor os seus efeitos no clima português.