Qual é a razão para o fumo dos incêndios florestais ser tão tóxico? Especialistas de Stanford explicam
Os incêndios florestais, agravados pelas alterações climáticas, são uma ameaça crescente à saúde pública, com efeitos graves a curto e longo prazo, tal como alertam especialistas de Stanford. Saiba mais aqui!
Os incêndios florestais, cada vez mais frequentes e intensos, representam um dos maiores desafios ambientais e de saúde pública do nosso tempo. Para além da destruição de vidas, bens e paisagens, os seus impactes na saúde humana são profundos, afetando populações dentro e fora das áreas afetadas.
Os especialistas da Universidade de Stanford alertam que o fumo libertado por estes incêndios é aproximadamente dez vezes mais tóxico do que a poluição comum derivada de combustíveis fósseis, e os efeitos podem prolongar-se muito além dos períodos de exposição direta.
Os mais vulneráveis incluem crianças, idosos, grávidas e pessoas com condições pré-existentes, como asma.
Os perigos invisíveis do fumo perante as alterações climáticas
O fumo dos incêndios florestais contém uma mistura de partículas finas, gases tóxicos e compostos químicos, como benzeno e metais pesados. Estas partículas finas são particularmente perigosas, pois conseguem penetrar profundamente nos pulmões e entrar na corrente sanguínea, afetando vários sistemas do corpo.
Além disso, a exposição contínua ao fumo pode causar problemas respiratórios agudos, como asma, bronquite e pneumonia, além de agravar doenças cardiovasculares existentes. Estudos indicam que, em crianças, a exposição ao fumo durante grandes incêndios pode reduzir a função pulmonar até anos após o evento, aumentando a necessidade de cuidados médicos frequentes.
Para as crianças, os riscos são amplificados. Os sistemas respiratórios continuam a desenvolver-se até aos 21 anos, tornando-os mais suscetíveis aos danos das partículas finas e de compostos tóxicos. Além disso, as crianças respiram proporcionalmente mais ar em relação ao peso corporal do que os adultos, o que aumenta a exposição aos poluentes.
Concomitantemente, sabe-se que as alterações climáticas têm intensificado os incêndios florestais, aumentando tanto a sua frequência quanto a severidade.
Soluções para mitigar os impactes na saúde
Os especialistas concordam que são necessárias estratégias de curto e longo prazo para proteger a saúde pública. Os equipamentos de filtragem de ar, tanto em escolas quanto em residências, são fundamentais para reduzir a exposição ao fumo.
As máscaras N95 também são recomendadas para proteger populações vulneráveis em períodos de má qualidade do ar. Além disso, os governos e autoridades locais devem investir em comunicação eficaz, garantindo que informações sobre qualidade do ar cheguem a todas as comunidades, especialmente as de baixos rendimentos ou com barreiras linguísticas.
Por exemplo, na Califórnia, a legislação Assembly Bill 619 apoia a criação de planos locais para lidar com os impactes do fumo, incluindo a abertura de centros de ar limpo e a distribuição de equipamento de proteção. Este modelo pode servir de exemplo para outras regiões onde podem ocorrer episódios semelhantes.
A importância da resiliência climática
O relatório Climate Resilient Schools: A Call to Action, liderado por Lisa Patel, propõe um investimento de 150 mil milhões de dólares para transformar as escolas em locais seguros e sustentáveis, alinhados com os objetivos de saúde pública e a mitigação climática. As recomendações incluem melhorar as infraestruturas escolares, implementar sistemas de filtragem de ar e incluir conteúdos educativos sobre alterações climáticas nos currículos.
Acrescenta-se que a adaptação e mitigação devem ser prioridades globais, envolvendo governos, comunidades e o setor privado. A única forma de reduzir os impactes dos incêndios florestais na saúde é abordar as suas causas subjacentes, como as alterações climáticas, enquanto se investe em estratégias de resiliência para o futuro.
A intensificação dos incêndios florestais representa um alerta claro para a urgência de ações coordenadas. Proteger a saúde pública e reduzir os riscos associados aos incêndios devem formar parte de uma ação concertada entre agentes da proteção civil e as comunidades locais.Referência da notícia
Patel, L.; Vicent, J.; Veidis, E.; Doane, K.; Hansen, J.; Lew, Z.; & Yeghoian, A. (2023). A Call to Action: Climate Resilient California Schools. Safeguarding Children’s Health and Opportunity to Learn in TK-12. Palo Alto, CA: Stanford University. https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED629533.pdf