Quais são os animais mais venenosos de Portugal?
Existem muito poucos animais venenosos que possam constituir um perigo. Entre eles contam-se algumas espécies de répteis, aracnídeos, peixes e até mesmo cnidários. E em Portugal, quais são?
Ao contrário de muitos outros países, especialmente nas latitudes tropicais, Portugal não possui muitas espécies de animais que possam pôr seriamente em perigo a nossa vida. São muito poucos os animais venenosos que podem constituir um perigo. Entre eles contam-se algumas espécies de répteis, aracnídeos, peixes, insetos e cnidários.
Assim, tal como afirma Eduardo Vieira no blog “Manual da Sobrevivência”, “o perigo não vem dos grandes animais da nossa fauna, mas das pequenas criaturas que vivem ao nosso redor. A sua perigosidade advém principalmente dos seus arsenais químicos constituídos por substâncias venenosas, designadas de toxinas. Embora, geralmente, as mordeduras e picadas de animais não passem de pequenos sustos e breves momentos de dor, podem trazer consequências mais graves, tais como a reação anafilática”.
Neste artigo analisaremos alguns dos animais que são considerados como os mais venenosos em Portugal.
Cobras
Estas duas espécies - víbora-cornuda e víbora de Seoane - são as únicas, entre as dez espécies de ofídios (cobras e víboras), que são realmente venenosas no nosso país, dado que “os seus dentes inoculadores de veneno são bastante eficazes na sua função tendo em conta que se localizam na região anterior dos maxilares superiores”, acrescenta Eduardo Vieira.
- Víbora-cornuda (vipera latastei): cabeça triangular destacada, pupilas verticais, ausência de placas cefálicas, linha dorsal escura em ziguezague ou ondulada, comprimento até 50 cm, corpo robusto (grosso), cauda curta e, específico desta espécie, focinho proeminente, a fazer lembrar um corno, daí a sua designação.
- Víbora de Seoane (vipera seoanei): cabeça triangular destacada, pupilas verticais, ausência de placas cefálicas, linha dorsal escura em ziguezague ou ondulada, comprimento até 70 cm, corpo robusto (grosso) e cauda curta.
Geralmente não fatal em adultos saudáveis, a mordedura das víboras é muito perigosa em crianças, idosos ou doentes crónicos ou caso a região mordida seja na cabeça, pescoço ou tórax. A gravidade do envenenamento é variável. Os sintomas iniciais são dor local, edema, taquicardia, sudorese.
Depois podem evoluir para edema progressivo, equimose, hipotensão, hemorragia e mais tarde para linfangite, síndrome compartimental e raramente morte (por infeção secundária ou discrasia hemorrágica com falência multiorgânica). O tratamento deve ser feito com repouso, lavagem da ferida, gelo, analgesia e soro antiveneno. Não existe antídoto específico para estas espécies.
Aranhas
A tarântula europeia (Lycosa tarantula) e a viúva negra europeia (Latrodectus tredecimguttatus) integram duas das espécies mais venenosas de aranhas em Portugal.
- Tarântula Europeia (Lycosa Tarantula): É o representante de maior tamanho em Portugal da família Lycosidae ou “Aranhas-lobo”. São muito comuns e uma das espécies mais belas da nossa fauna. É uma aranha de tamanho médio, que pode atingir um tamanho total de 6/7 cm. Como na maioria das espécies de aranhas, a tarântula usa o seu veneno quase exclusivamente para imobilizar as suas presas e só em casos extremos para defesa.
De acordo com Eduardo Vieira, "esta espécie, sempre que se sente ameaçada, opta por permanecer imóvel e camuflada no solo ou então por fugir e só no caso de não haver fuga possível ela tenta picar". O seu veneno apresenta uma baixa toxicidade para os seres humanos. No entanto, pode provocar dor local, edema e, em casos raros, necrose local.
- Viúva negra europeia (Latrodectus tredecimguttatus): Tem o corpo com cerca de 1 cm de comprimento. É escura, apresenta algumas linhas brancas e possui 13 manchas vermelhas vivas no abdómen. Apenas a fêmea parece ser perigosa para o Homem e a gravidade da sua picada varia com a estação do ano e com a sensibilidade da vítima.
O veneno desta aranha é considerado mais tóxico do que o da maioria das serpentes venenosas. No entanto, devido às suas reduzidas dimensões e à ínfima quantidade de veneno que produz, só poderá existir perigo de morte em crianças com menos de 15 kg de peso.
É comum em Portugal continental, com predominância no Alentejo e Algarve, mas geralmente em áreas rurais. Muitas vezes é confundida com aranhas como a Steatoda grossa ou a Steatoda nobilis (falsas viúvas-negras) comuns em habitações. Mas é inconfundível se tiver as distintas manchas laranja/vermelho pálido ou vivo.
Escorpião
O escorpião, também comumente conhecido por lacrau (Buthus occitanus), possui um comprimento de 5/6 cm, geralmente apresenta uma cor amarela e tem hábitos maioritariamente noturnos, começando a ficar ativo ao entardecer. Não costuma aparecer em habitações.
O veneno do lacrau é neurotóxico e os sintomas decorrentes da picada são: dor muito intensa, edema, paralisia parcial do membro afetado, ansiedade, arrepios, cãibras musculares, hipotensão, aumento da pulsação cardíaca e diminuição da temperatura corporal. Crianças e idosos têm sintomas exacerbados, sobretudo se as picadas forem na cabeça, pescoço, tórax ou abdómen.
O tratamento deve ser efetuado com aplicação local de anestésico, analgesia e soro antiescorpiónico. As picadas de lacrau geralmente não são fatais nem deixam sequelas, salvo se for em crianças muito pequenas ou hipersensibilidade, pois pode ocorrer choque e, sem tratamento, a morte.
Caravela-portuguesa
De acordo com o Centro Ciência Viva, pertence ao grupo dos cnidários, mas na realidade não se trata mesmo de "um animal". É sim uma colónia de quatro pólipos distintos da família Physaliidae.
A sua distribuição ocorre pelas bacias do Atlântico, Pacífico e Índico, nomeadamente nas águas mais quentes. Em Portugal marca presença nos Açores e na Madeira e pontualmente junto à costa do Continente.
Alimenta-se de pequenos organismos marinhos desatentos, como os peixes e o plâncton. Possui uma vesícula com gás que lhe permite flutuar. A cor pode variar entre o azulado, rosa ou arroxeado e é detentora de tentáculos que podem atingir até 50 metros.
Esta espécie chama-se assim por causa do aspeto semelhante com as caravelas portuguesas da Época dos Descobrimentos. O veneno da caravela-portuguesa é idêntico ao da aranha viúva-negra, provocando dores muito fortes e queimaduras, que podem chegar a ser de terceiro grau.
Referências da notícia:
Vieira, Eduardo. Manual da Sobrevivência. (2023).
Ciência Viva. (2023).