Proibição de combustível poluente entra em vigor no Ártico, mas lacunas preocupam os ambientalistas

Um marco para a proteção do Ártico foi alcançado no dia 1 de julho de 2024 com a proibição do uso de fuelóleo pesado (HFO) na região. No entanto, a presença de lacunas na regulamentação gera preocupação.

fuelóleo Ártico
Junho terminou com a entrada em vigor da proibição do uso de fuelóleo pesado (HFO).

Um marco para a proteção do frágil ecossistema do Ártico foi alcançado no dia de ontem, com a entrada em vigor da proibição do uso do fuelóleo pesado (HFO) – o combustível mais sujo e prejudicial para o clima usado pelos navios, que resulta de uma fração obtida da destilação do petróleo.

Proibição do HFO no Ártico: um passo importante, mas com brechas preocupantes

Amplamente utilizado no transporte marítimo mundial, especialmente em navios-tanque, o HFO é um óleo viscoso e barato derivado dos resíduos da refinação de petróleo. Porém, a sua utilização liberta grandes quantidades de Gases com Efeito de Estufa (GEE) e, particularmente preocupante no Ártico, emite partículas de carbono negro que aceleram o descongelamento da neve e do gelo.

“O carbono negro cria um efeito duplo no Ártico”, explica a Dr.ª Sian Prior, do grupo de ativistas Clean Arctic Alliance. “Além de contribuir para o aquecimento global na atmosfera, estas partículas depositam-se na neve e no gelo, acelerando ainda mais o degelo.”

Esta proibição, celebrada por ambientalistas, é vista como um passo importante. No entanto, preocupa a existência de uma série de brechas que podem limitar o seu impacte.

A regulamentação permite que navios equipados com “tanques de combustível protegidos” sejam isentos da proibição. Além disso, os países banhados pelo Oceano Ártico podem optar por não aplicar a restrição aos navios nas suas águas territoriais.

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A Rússia, importante player na região com mais de 800 navios a operar nas águas do norte, já anunciou que não implementará a nova regulamentação da Organização Marítima Internacional (OMI).

Estas isenções persistirão até 2029, o que pode significar uma redução pouco significativa no uso do HFO. De acordo com o Conselho Internacional de Transporte Limpo, 74% dos navios que atualmente utilizam o combustível poderão continuar a fazê-lo.

Alguns especialistas, como a Dr.ª Elena Tracy do WWF - World Wildlife Fund, receiam que o aumento das atividades de extração de petróleo no Ártico possa, ironicamente, levar a um crescimento no uso do HFO. “Navios petroleiros e de gás consomem grandes volumes de HFO”, afirma. “À medida que projetos de exploração de gás natural se expandem em certas regiões, como o Ártico russo, é provável que o uso do combustível aumente.”

Entre falhas e a esperança de um futuro verde no combate ao carbono negro no Ártico

Apesar das lacunas identificadas, os ambientalistas defendem a existência de alternativas viáveis e apelam para que a indústria naval e os países do Ártico levem a proibição a sério.

A Noruega surge como exemplo a ser seguido. O governo norueguês já implementou uma proibição rigorosa do HFO no arquipélago de Svalbard. Recentemente, um navio irlandês que violou a restrição na região foi multado num milhão de coroas norueguesas (aproximadamente 88 mil euros).

“Precisamos de ações concretas nos próximos anos para reduzir a emissão de carbono negro e restringir o uso destes óleos”, alerta a Dr.ª Prior. “Cientistas já preveem que o Ártico poderá ter os seus primeiros dias livres de gelo na década de 2030, alguns apontam para 2030 mesmo. O Ártico não tem tempo a perder. Exortamos os países e a indústria naval a agirem com mais rapidez e responsabilidade.”

Esta medida, apesar de tardia e com algumas lacunas, representa um importante passo para a proteção do delicado ecossistema do Ártico e para a mitigação perante as alterações climáticas. A fiscalização rigorosa e o desenvolvimento de alternativas viáveis serão fundamentais para garantir a efetividade da proibição e um futuro mais promissor para esta região do planeta.